Após três derrotas consecutivas – duas delas com o Benfica, que ditaram o adeus à Liga dos Campeões -, o Spartak de Moscovo regressou aos triunfos neste sábado, frente ao Ural (1-0). Um resultado curto, mas que dá fôlego a Rui Vitória no meio da crise interna do emblema moscovita. De acordo com informações recolhidas pelo Maisfutebol, o técnico português está empenhado em dar a volta à situação no Spartak, apesar da crise interna.

Rui Vitória começou a sentir a turbulência interna assim que assinou contrato com o Spartak. Aliás, a sua contratação veio acentuar divergências antigas: o português foi escolhido pelo diretor desportivo, Dmitry Popov, com a missão de lutar pelo título em ano de centenário. A escolha, no entanto, mereceu forte contestação por parte da esposa do presidente do Spartak.

Zarema Salikhova abandonou a direção do clube, mas não se inibiu de criticar publicamente a escolha, inclusivamente nas redes sociais. Para além de desvalorizar o currículo de Rui Vitória, Salikhova fez questão de alimentar o conflito antigo com o diretor desportivo.

Este comportamento acentuou as divergências internas, até porque não houve qualquer intervenção do presidente, Leonid Fedun. No final do mês de julho o responsável pela comunicação do Spartak, Anton Fetisov, anunciou a saída. Também ele tinha sido repetidamente criticado por Salikhova.

Os resultados da pré-época até foram positivos, e incluíram a conquista do Torneio de Moscovo, mas as fissuras na estrutura estavam à vista. Rui Vitória não recebeu os reforços que esperava para aumentar a qualidade do plantel, nomeadamente um lateral e um médio.

O presidente Fedun não aprovou as contratações negociadas, nomeadamente a do lateral direito argentino Gonzalo Montiel, e essa foi a gota de água para o diretor desportivo. O clima era tal que a demissão de Popov surgiu ao intervalo do primeiro duelo com o Benfica.

«Fedun recusou o negócio mas, acima de tudo, fiquei impressionado com a explicação: “Esta é a opinião de Tedesco [antigo treinador do Spartak], e eu concordo com ele”. Também estou cansado de ser constantemente humilhado em público pela esposa do dono do clube. Fedun prometeu resolver esse problema, mas nada mudou. Agora entendo: dado que a composição da equipa está a ser consultada com o seu Tedesco preferido, não pode ter mudado. Não suporto uma desconfiança aberta do meu trabalho. A única coisa que me resta fazer nessas condições é ir embora. Se a equipa tem a tarefa de lutar pelo campeonato, porque é que não confiam no diretor-desportivo ou no treinador?», afirmou Popov ao Sport Express.

O Spartak perdeu os dois jogos com o Benfica, e pelo meio também foi derrotado em casa pelo Nizhny Novgorod, em jogo da Liga russa.

Consumada a eliminação da Liga dos Campeões, na Luz, Rui Vitória alertou para a necessidade de encontrar estabilidade interna.

«Começámos com uma pré-época muito boa, e depois, fruto de uma série de circunstâncias, prejudicámo-nos a nós mesmos. Vamos a tempo, temos capacidade para entrar no caminho novamente. Este início não foi bom, mas estamos dentro da luta e agora é preparar os próximos jogos», disse o técnico português.

A equipa reagiu este sábado, ao bater o Ural por 1-0. Um triunfo que acalmou o ambiente, já que, nas bancadas, os adeptos tinham contestado a direção e os jogadores.

As divisões continuam bem patentes, em todo o caso. Alguns nomes históricos do clube, entre os quais Dimitri Alenitchev (ex-FC Porto), decidiram escrever uma carta ao outro «patrão» do Spartak, Vagit Alekperov, presidente da petrolífera LUKOIL, a pedir que tomasse medidas relativamente à gestão de Leonid Fedun.

Esta iniciativa foi reprovada por outro grupo de notáveis do clube, entre os quais Rinat Dasayev, que entende que a referida carta só serviu para colocar mais lenha na fogueira.

É neste clima adverso que Rui Vitória trabalha, mas o Maisfutebol sabe que o treinador português não pretende atirar a toalha ao chão. Enquanto espera pela chegada de um novo diretor desportivo, na esperança de que esse nome venha a trazer alguma estabilidade, Rui Vitória trabalha para que os resultados desportivos também promovam alguma paz.

O Spartak foi relegado para a Liga Europa, mas para já coloca o foco na Liga russa, de forma a posicionar-se nos lugares cimeiros.