José Gomes prepara o adeus ao Videoton e estabelece duas metas para as últimas semanas como técnico da formação húngara: garantir o apuramento para as competições europeias e vencer a Taça da Liga.

Em entrevista ao  Maisfutebol, o português admite que a conquista de um troféu como treinador principal teria um peso incomparável no seu currículo.

«É indiscutivelmente diferente. Participei na conquista de títulos muito importantes, em clubes com máxima exigência, mas sei que ganhar a Taça da Liga na Hungria terá outro impacto. Espero que assim seja. De qualquer forma, penso que o trabalho que tenho feito já fez com que algumas nuvens de dúvida que pudessem existir à minha volta tivessem desaparecido.»

Como preparador físico, José Gomes fez parte da equipa técnica do Gil Vicente que venceu a II Liga em 1998/99. Seguiram-se Paços de Ferreira e Benfica, na mesma condição, antes dos primeiros desafios a solo.

Entre 2003 e 2008, o treinador orientou P. Ferreira, Desportivo das Aves, Leixões, União de Leiria e Moreirense. Os títulos chegariam com o convite para ser adjunto de Jesualdo Ferreira no FC Porto.

Em duas épocas, José Gomes contribuiu para a conquista da Liga, da Supertaça e de duas Taças de Portugal. Seguiu com Jesualdo para Málaga e Panathinaikos, antes de novo projeto como treinador principal: o Videoton da Hungria.

«Cheguei aqui há ano e meio, em janeiro de 2013, e durante o ano fomos a equipa com mais pontos, mais golos marcados e menos golos sofridos»

José Gomes foi o sucessor de outro português (Paulo Sousa) no cargo e justificou a aposta, recebendo o prémio de melhor treinador do ano na Hungria.

«É um prémio promovido por um órgão de comunicação social mas em que votam os capitães de equipa, portanto foi extremamente gratificante ter esse reconhecimento.»



A saída do Videoton com as malas sempre às costas

O Videoton, porém, não entrou da melhor forma em 2014. Sem aprofundar o tema, o treinador português admite a existência de factores que perturbaram o rendimento da equipa. E, nesta entrevista ao Maisfutebol, confirma a despedida no final da presente temporada.

«Sinto-me muito bem na Hungria, tenho sido muito bem tratado e tenho contrato até 2016 mas já decidi: no final da época terminarei o meu ciclo no Videoton. A dada altura, senti que seria possível chegar ao título de campeão, mas certas coisas desviaram a equipa dessa rota. Agora o objetivo é terminar bem e encerrar o ciclo da melhor forma.»


José Gomes, 43 anos, está perto da sua vigésima temporada no futebol profissional e mostra-se confiante em relação ao futuro.

«Felizmente, há já algumas possibilidades, também do futebol português, mas não tenho nada assinado. Claro que um dia gostaria de voltar a Portugal mas não estou obscecado com isso. Com dois filhos adolescente e sigo de malas às costas, se for preciso, por mais uns anos, enquanto eles não me obrigarem a regressar (ndr. risos).»

O treinador português emigrou em 2010 e abraçou a nova realidade sem complexos.

«Sinto-me o verdadeiro emigrante, não abdico do bacalhau nem da SportTV para ir acompanhando o futebol português. E fico orgulhoso por ver o futebol português ao mais alto nível, com o Benfica e os jogadores portugueses de equipas espanholas a lutar pela Liga Europa e a Liga dos Campeões. Acho fantástico ter tanta gente de um país pequeno a discutir os maiores títulos.» 



Garantir o lugar europeu e vencer a Taça em terreno hostil

A três jornadas do final do campeonato, o Videoton ocupa o patamar dos 48 pontos. A equipa de José Gomes está na terceira posição, lutando pelo apuramento para as competições europeias.

O Debrecen lidera com 56 pontos e o Gyor ETO ocupa o segundo lugar com 53. A equipa do treinador português está em grande forma, com cinco triunfos consecutivos entre Liga e Taça da Liga, mas o Ferencváros é uma ameaça séria, acumulando igualmente 48 pontos.

«O Ferencváros é um clube histórico, o clube do povo e o mais titulado, mas o projeto do Videoton passa pela valorização do futebol húngaro e estar nas competições europeias é essencial para o conseguir. Temos de, pelo menos, manter esta posição.»

José Gomes luta em duas frentes. Nas meias-finais da Taça da Liga, goleou o Debrecen fora de casa (1-5) e garantiu o acesso ao jogo decisivo com outro triunfo (1-0).


A confiança está em alta mas o adversário na final, o Diósgyori, terá uma vantagem teórica.

«Antes das meias-finais, foi realizado um sorteio e ficou determinado que o palco da final seria o estádio do Diósgyori. Aqui na Hungria, perceberam que as finais em terreno neutro não atraem muita gente, portanto as regras são assim. Ou seja, o Videoton vai disputar o troféu em casa do adversário»

O jogo decisivo está agendado para 13 de maio, no Borsodi Stadion em Miskolc. O Videoton tem cinco pontos de vantagem sobre o Diósgyori no campeonato mas foi afastado pelo adversário na Taça da Hungria.

«É verdade. Empatámos a zero em casa e perdemos 1-0 no estádio onde vamos agora jogar a final da Taça da Liga. Mas isso foi em dezembro, num campo gelado, com os jogadores a deslizar. O jogo nem devia ter sido realizado naquelas condições. Ainda assim, criámos várias oportunidades de golo. Acabámos por perder mas agora o clima é diferente, não haverá esse obstáculo. O ambiente será complicado, isso seguramente.»

O renascimento do futebol húngaro e a memória de Féher

José Gomes prepara os últimos quatro jogos no comando técnico do Videoton. O balanço é positivo e o português aplaude o desejo de renascimento do futebol húngaro.

«O primeiro-ministro húngaro está a fazer um investimento muito grande. Dentro de dois anos, todos os clubes terão de ter relvados aquecidos. Para além disso, estão a ser inaugurados novos estádios. Recentemente jogámos na Pancho Arena, inspirada em Puskas, um estádio pequeno mas muito bonito. O Debrecen já tem novo estádio, o Ferencváros tem o seu quase pronto e no Videoton também há projeto. São passos muito importantes para o futuro.» 

 

Os magiares preparam o regresso aos maiores palcos da Europa

«Há excelentes jovens neste futebol mas precisavam de condições para evoluir. Acredito que, em cinco anos, o futebol húngaro voltará a estar no mapa do futebol europeu.»    

A Hungria olha em frente sem esquecer os seus ídolos. Miklós Fehér é um deles. O avançado faleceu em 2004 mas continua a ser lembrado no seu país. José Gomes, enquanto preparador-físico do Benfica, conviveu com Fehér.

«Não será esquecido. No estádio do Gyor ETO há uma estátua do Fehér e academia de futebol tem o seu nome. A sua imagem está bem presente. Trabalhei com ele e era um grande atleta. Lembro-me que estranhava jogos às 20h00 ou 20h30, porque acabavam demasiado tarde para ele, achava que já eram horas para estar a descansar. Enfim, ficará marcado e guardarei a imagem de um grande homem e atleta.»