«Se não fosse o futebol estaria na prisão».

Esta frase, tão forte, resume o impacto que a entrevista a Josué teve junto dos responsáveis da comunicação do Legia de Varsóvia. O texto, publicado no site do emblema polaco, deixa claro que os autores não esperavam uma conversa tão aberta, tão pessoal. Josué mostrou o homem “escondido” atrás do jogador.

«Se não fosse pelo futebol estaria na prisão. A sério. As pessoas com quem eu convivia quando era criança estão agora a cumprir sentença. Não aproveitei a vida como uma criança qualquer, não tive uma infância normal. Aprendi a aproveitar a vida quando conheci a minha esposa, e depois do nascimento da nossa filha», referiu o médio português.

«Cresci num ambiente bastante difícil, a situação à minha volta não era normal. Nasci numa zona pobre, o meu pai trabalhava fora de Portugal o tempo todo, e por isso não tínhamos muito contacto. Vivia com três irmãos e a minha mãe. Comida… não havia muita. Por vezes não comia uma única refeição. Passava os dias sem nada na boca. Foi assim que eu cresci. Aos 20 anos comecei a ganhar dinheiro e comecei a construir um muro à minha volta. Ninguém podia entrar. Se alguém me atacava, eu atacava essa pessoa também. Às vezes nem queria, mas era a minha personalidade. Tudo o que aprendi na vida, foi sozinho. Não tinha ninguém para me dizer como agir, que caminho seguir. Tudo o que consegui, foi sozinho. Estive muito tempo sozinho», contou Josué.

O jogador do Legia revelou depois que não tem contacto com a família há mais de uma década.

«Não falamos desde que eu tinha 20 anos, e agora tenho 31. É uma longa história, muitas coisas más que aconteceram. Não falo com os meus irmãos e com a minha mãe há mais de uma década. Também não é fácil explicar à minha filha, que tem nove anos, porque é que ela não conhece a avó ou os tios. Aos poucos começa a entender», acrescentou.

Josué recordou que, num curto espaço de tempo, perdeu o pai e o sogro, e que a mulher também teve de lidar com uma doença oncológica: «Foi o pior. Ela ainda luta com algumas questões de saúde, por isso a situação ainda não é 100 por cento estável, mas está a ir bem.»

O esquerdino reconhece que todas estas questões pessoais influenciaram a forma como se comportava em campo. Pelo menos até dada altura.

«Tive muitos problemas, até que um dia, no Paços de Ferreira, o Paulo Fonseca veio falar comigo e disse-me que queria lançar-me no jogo do fim de semana, mas que, até lá, eu tinha de fazer isto e aquilo. Eu concordei, mas no treino continue a mostrar o mínimo. Ele voltou e perguntou-me novamente se eu queria jogar, e eu respondi que sim, mas com o atrevimento que tinha na altura. Também pesava alguns quilos a mais, não me importava com a alimentação, com um estilo de vida saudável. Como uma criança arrogante que não se importa com nada. Mesmo assim ele aproximou-se de mim, com muita calma, e disse algo que eu vou recordar para sempre: “Queres desistir? Eu acredito em ti e não vou desistir de ti”. Foi como se tivesse carregado num botão, no meu cérebro. Percebi que nunca tinha ouvido nada assim da minha família. A partir daí mudei completamente. No futebol e em tudo. Paulo Fonseca mudou a minha vida. Parece patético, mas não é», revelou.