Abel Ferreira foi um dos convidados do «Thinking Football Summit», evento organizado pela Liga que decorre até este domingo no Pavilhão Rosa Mota, no Porto.

A partir do Brasil, o técnico do Palmeiras deu uma pequena palestra sobre os «Pilares de trabalho, gestão e liderança». O treinador português agarrou-se a um quadro tático e partilhou os seus «11 Mandamentos».

1- Respeito, união e competitividade

É sagrado. Os jogadores não têm de ser amigos, mas o respeito entre eles têm de existir. Esta união de que falo tem que ver com o treinador, mas também com as lideranças do próprio clube. Os capitães têm a responsabilidade de unir e de guiar o grupo de trabalho. Felizmente, temos líderes de grande carácter e de grande pesonalidade aqui. Ajudam-me muito. A competitividade interna é fundamental para seres competitivo contra os teus riviais.

2- Ataque é criatividade, defesa é organização

O ataque é criatividade dentro de uma organização e ideia coletiva. A defesa é organização. É na defesa que vejo o carácter e o compromisso de uma equipa. Esta é a minha opinião. Não estou aqui para convencer ninguém, é a minha opinião. É aquilo em que acredito.

3- Fazer o certo nunca é errado

Vou dar um exemplo já que estamos a falar de jornalismo. No final de um jogo, não percebi uma pergunta de um jornalista e dei-lhe uma resposta agressiva e até arrogante. Depois de ter revisto a pergunta e a minha resposta, decidi fazer uma videochamada e pedir desculpa ao jornalista. Muitos disseram-me que não tinha de pedir desculpa, mas senti que fazer o certo nunca é errado. Ele fez uma pergunta normal e não a soube interpretar. Não deveria ter falado com falei.

4- A alma da equipa é o altruísmo

Fui aprendendo como treinador ao longo destes dez anos. A alma da equipa é o altruísmo. O nosso ego tem de ficar em casa. No futebol há muitos egos, incluindo o do treinador. Ao longo do tempo, aprendi que o ego tem de ficar em casa e que há um bem maior: a equipa. Ninguém está acima da equipa. É bom que os jogadores entendam não só por palavras, mas têm de sentir o que significa deixar o ego em casa e que têm de lutar por algo maior.

5- Ser a nossa melhor versão

É o que mais peço aos jogadores. Não lhes peço que ganhem jogos. Somos obrigados a ser a nossa melhor versão de forma consistente. É o que exijo aos jogadores.



6 – A estrela é a equipa

É a fundação principal. É uma frase corriqueira, mas os jogadores entendem muito bem. É fundamental os jogadores entenderem o que significa isto no seio de um grupo de trabalho. Este código de hnra é partilhado com os meus capitãoes. Ser capitão traz muitos benefícios, mas também muitas responsabilidades.

8 – Gosto pelo treino e amor pelo jogo

É o que sustenta uma equipa vencedora. É maior que tudo. Quando gosto de treinar, vou sentir-me muito melhor e não vou estar dependente das vitórias. Costumo fazer três perguntas aos meus jogadores no início do ano. Se gostam de treinar, de competir e de ganhar. Falo com eles olhos nos olhos. Se demorarem a responder três segundos à primeira pergunta... eles dizem todos que gostam de ganhar, quase todos dizem que gostam de competir, mas treinar… quando não respondem de forma clara ou assertiva, algo é preciso mudar.

7- Renúncias e sacrifícios
 
Como disse, a defesa é organização e aí que vejo o carácter de uma equipa. É por aí que analiso a minha equipa e o adversário. Temos de fazer renúncias e sacrifícios, sobretudo na nossa vida particular. Os jogadores são muito solicitados para vários eventos, alguns acho que devem ir, mas de outros devem fugir. Não consigo dar o dia e a noite ao mesmo tempo. Muitas vezes, essas renúncias têm de ser feitas para mais tarde colhermos frutos.  

10 – A vitória é uma espada

Esta frase fica bem na cabeça e no coração dos jogadores. Quando te sentares em cima de uma vitória e de uma conquista… A vitória é como uma espada: vai-te rachar a meio. É bom que os jogadores sintam isso. Às vezes ficamos empolgados e esquecemo-nos das nossas origens, do nosso trabalho e passamos a viver no mundo da ilusão. É nas derrotas que se processam muitas das grandes aprendizagens.

11 – Acreditar sem ver

Acreditar que vamos ganhar antes de conhecer. Aqui fala-se muito em fé, o povo brasileiro é muito religioso, mas isto é acreditar num caminho e num processo. O Lucas Barrios [ex-internacional paraguaio] lesteve aqui a estagiar connosco e pediu-me um conselho. Disse-lhe: ‘Vais perceber e sentir que queres mesmo ser treinador nas derrotas’. Isso é que vai definir se queres seguir ou não esta profissão que é dura, difícil, mas ao mesmo tempo mágica. É nos momentos de solidão que vais entender se isto é para ti ou não.

9 – Todos somos um

Por norma, em cada clube arranjo uma palavra que nos guia. Todos somos um. Ficou evidente dentro do clube e chegou aos adeptos também. Nunca pensei que tivesse tanto impacto.