Paulo Fonseca deu uma entrevista ao jornal francês L’Equipe em que fala das suas ideias de jogo e admite que, embora Mourinho o tenha inspirado no início da carreira, na conceção de jogo é totalmente Guardiola.

«Mourinho inspirou-me muito quando comecei. A liderança é a coisa mais importante para um treinador, e Mourinho tem sido um modelo nesta área. Mas para a conceção de jogo, sou totalmente Guardiola. Ele vai ficar na história do futebol. Sem dúvida, não haverá um treinador com esta coragem associada a tal paixão pelo jogo», afirmou.

O treinador português do Shakhtar Donetsk admite que «essa visão romântica do jogo, quer vencer, mas não quer apenas vencer», às vezes «tem um custo» por «não dar 100% de prioridade ao resultado».

«Quero que as minhas equipas procurem o golo, tomem a iniciativa, sejam ofensivas, tenham posse. Às vezes não é possível. Contra o Manchester City, sabemos que vamos passar a maior parte do tempo a defender. Mas mesmo contra essas equipas mais fortes, quero que os meus jogadores tenham a coragem de desenvolver seu jogo», afirmou Paulo Fonseca.

«Nunca os meus jogadores, mesmo quando eu treinava equipas pequenas, me ouviram dizer: ‘Vamos defender, vamos ficar atrás. Não, comigo isso nunca vai acontecer’», garantiu.

Questionado sobre se não terá de se tornar mais realista para ganhar, Paulo Fonseca afirmou: «Ser realista é subjetivo. O que não vou ser é resultadista. Deixar de jogar para ganhar, não. Para mim, ganhar não é suficiente. Às vezes ganhamos e eu vou para casa de mau humor».

O orçamento do Shakhtar Donetsk não é obviamente igual ao do Manchester City e de outros clubes onde Guardiola tem trabalhado, mas Paulo Fonseca não vê isso como obstáculo.

«Sou um grande admirador de Guardiola, mas não sou uma cópia. São as minhas ideias que ponho em campo e é possível fazer isso, mesmo com menos dinheiro do que tem Guardiola. Quando já não acreditar nisso, farei uma pausa para pensar no que vou fazer a seguir na carreira».

Paulo Fonseca contou ainda que os elogios que Guardiola lhe teceu, e ao seu jogo, na época passada, «estão gravados na memória». «É como se nos dessem oxigénio para continuarmos a acreditar no que acreditamos».

O jornalista apontou-lhe que as ideias que defende são diferentes das de Leonardo Jardim, técnico português que deixou marca em França.

«Leonardo é um dos melhores treinadores portugueses, não há a menor dúvida. Ele é um treinador mais realista, trabalha muito em transições ofensivas. Eu sou um treinador que favorece mais ataque colocado, posse, circulação. Não há estilo definido, pelo contrário, o treinador português adapta-se facilmente», disse Paulo Fonseca.

Mas os portugueses que ganharam as maiores competições como Fernando Santos, José Mourinho, Artur Jorge, não são particularmente ofensivos, apontou ainda o jornalista.

«Não, é um facto. Admiro todos esses treinadores, mas tenho uma ideia diferente do jogo», disse ainda o treinador, e recordou o caminho de Portugal no Euro2016.

«Há dois anos em meio fiquei muito contente por ver Portugal ganhar o Europeu, mas tenho que reconhecer que não foi um futebol que me agradou».

E o Mundial da Rússia também não agradou a Paulo Fonseca. «O futebol que vimos no Mundial foi acanhado, não estou a falar apenas da seleção francesa, mas da maioria das equipas. Admito que detesto esse tipo de jogo e fiquei muito dececionado com o Mundial».

«Não estou a dizer que faria melhor. A missão de um selecionador é difícil e é por isso que não quero ser selecionador. Para desenvolver o tipo de jogo que quero é preciso tempo», disse ainda o técnico.

Pondo de parte então o papel de selecionador, o que quer Paulo Fonseca para o futuro? «Estou num grande clube, estou muito feliz aqui. Mas as minhas ambições são treinar nos melhores campeonatos europeus», apontou.

Questionado sobre se poderia treinar o PSG, afirmou que «seria possível» até porque, embora admita que não fala francês porque estudou a língua na escola há já «muito tempo», Paulo Fonseca diz que compreende quase tudo. «Tenho a certeza de que em pouco tempo poderia voltar a falar francês novamente».

O Shakhtar Donetsk procura, frente ao Lyon, um lugar nos oitavos e final da Liga dos Campeões, bastando, para isso, um empate. Questionado sobre se a sua equipa pode ir mais além da próxima fase, Paulo Fonseca afirmou:
«É muito difícil. O campeonato nacional não é competitivo e isso é prejudicial para nós. Quando chegamos à Liga dos Campeões não tem nada a ver. Aqui jogamos 99 por cento dos jogos a atacar em 30 metros contra equipas fechadas. Mas, em futebol não há impossíveis.»