* e Henrique Mateus

P - Depois de Madrid, com que relação ficou com Cristiano Ronaldo?
R - Que relação? Mais importante do que a relação é a recordação, porque a relação não existe. Ele é jogador do Real Madrid, eu sou treinador do Chelsea, não nos encontramos na rua. A relação, não. A recordação, sim. E a recordação que guardo – procuro fazer sempre isso – é do bom e não tanto do menos bom. E tenho de recordar um rapaz que era uma máquina de golos, que me ajudou – e muito! - a ganhar um campeonato, uma Taça e uma Supertaça no Real. Provavelmente eu também o ajudei a ele, ajudámo-nos todos, mutuamente, a fazer história, ganhando o campeonato dos 100 pontos, frente ao maior Barcelona da história. Do Cristiano, enquanto jogador, guardo as melhores recordações, e obviamente que lhe desejo o melhor na sua carreira. Mais na seleção do que no clube, naturalmente, mas também no clube, porque quando eu saio de um clube, saio com sentimento de pertença e gosto que os meus antigos jogadores continuem a ter sucesso.

- O que lhe ficou da passagem por Madrid?
- Por um lado, a consecução de um objetivo, que estava completamente definido quando fui para lá: ganhar os três campeonatos que eu considero os mais importantes do Mundo – ou, como algum diz, do Mundo e talvez da Europa. Esse objetivo era importante. Depois, resumo tudo o resto numa frase: se hoje pudesse voltar atrás, tinha ido para o Real Madrid? Sim. Claramente, sim. Foi uma experiência, como treinador e como homem, que eu voltaria a repetir, sem pensar duas vezes.

- E voltando, faria as coisas da mesma maneira?
- É uma pergunta muito geral, em qualquer processo, se um treinador o pensar devidamente, e se fizer análises e autocríticas permanentes, como nós fazemos, enquanto equipa técnica, obviamente que em todos os clubes e em todos os processos em que estive envolvido, não faria tudo igual. Em nenhum deles, não só no Real Madrid.

- Para quem está de fora, sem os dados todos, ficou a sensação de que a diferença para a sua passagem por outros clubes foi a de não ter um balneário unido. Foi isso que se passou?
- Não te vou dar o que nunca dei até agora, e não vou dar nunca, e que são grandes explicações sobre os meus anteriores clubes. Tu repara que a minha carreira parece que se fecha em gavetas, não me vês a falar muito sobre o que aconteceu no passado, seja pela positiva ou pela negativa. Não me vês esmiuçar detalhes sobre o que aconteceu ou não, sobre o que é especulação ou não. Eu saí do Real Madrid com uma relação fantástica com o presidente, com o CEO e com toda a estrutura, após uma decisão que tomámos, e que achei a melhor para a mina carreira. Sou um homem feliz, hoje vou treinar e jogar com uma alegria grande, e não sou o tipo de pessoa que goste muito de falar no passado.

- Como viveu esta conquista da Liga dos Campeões pelo Real Madrid?
- Não falo sobre o Real Madrid. Eles, os vossos colegas, querem que eu fale. Estão todos à espera, e vão continuar à espera.