Mads Timm conhece Cristiano Ronaldo dos tempos em que ambos partilharam o balneário do Manchester United, mas muitas diferenças os separam desde aí até aos dias hoje: o dinamarquês já se retirou do futebol, o português continua e é o melhor jogador do mundo.

Já na altura era um pouco assim: um com muita vontade e outro sem ela. Quem o revelou foi o próprio Timm na biografia intitulada 'Red Devils'. «O Ronaldo era totalmente o oposto de mim. Eu estava acabado psicologicamente e odiava o ambiente que se vivia em Manchester. Ele era o oposto. Estava a avançar, estava focado e tinha uma inabalável fé em si mesmo. E isso refletia-se no campo.»

Por isso, Timm elogia Ronaldo, mas admite que o avançado do Real Madrid não tinha dó nem piedade e que o próprio sofreu as consequências: «Lembro-me que fizemos um jogo-treino interno, onde eu estava na esquerda e ele jogava na direita da outra equipa. De todas as vezes que nos cruzávamos, ele passava por cima de mim. Raramente tinha folego depois dos treinos, mas nesse dia fiquei mesmo a zero.»

No livro que agora lançou, o ex-jogador do United escreveu ainda sobre os dribles do internacional português que não agradavam a Gary Neville e a Ole Gunnar Solskjaer e de Ronaldo ter sido gozado quando chegou a Old Trafford.

«Era extraordinário enquanto futebolista e também como pessoa. Como eu, também foi gozado quando chegou ao clube. Devido ao seu cabelo e também pelas suas quase acrobáticas tentativas de impressionar os treinadores.»

Mas há mais: fora a boa pessoa, Timm escreveu sobre o egocentrismo de Ronaldo que, afinal, até é bom: «É completamente indiferente ao coletivo. Não deu espaço aos outros. Era 'eu, eu, eu'. Cristiano Ronaldo. CR7. Ele não é apenas o melhor futebolista com o qual joguei, mas também a pessoa mais focada que eu conheci. Mentalmente faz-me lembrar como eu era aos 12 anos. Não acredito que ele se importe com o que as pessoas pensam e não me parece que o vá fazer e rir-se de si próprio. E acho que foi por isso que sobreviveu no futebol do futebol profissional.»

Também tentaram fazer «negócios» juntos, mas o dinamarquês acabou por não deixar: «O Cristiano estava mortinho por comprar um dos meus diamantes, mas recusei vender-lhe. Já tinha feito demasiado. Já tinha roubado o meu sonho.»