Manuel Madureira era polícia em Portugal. Como treinador, dividiu o seu tempo entre Aveiro e Viseu. Esteve em Inglaterra no início do milénio. Regressou até emigrar de vez, em 2007. Até hoje. Agora, assumiu o comando técnico dos Diables Noirs, o campeão em título do Congo-Brazzaville.

Em entrevista ao Maisfutebol, o técnico português conta a sua história. Um relato com sorrisos nos últimos dias.

No Congo (não confundir com a República Democrática do Congo, o antigo Zaire), é tratado com respeito. Vem da Arábia Saudita, do Al Qadisiyah, onde foi «escravizado».

«Foram meses para esquecer. Pagavam-me apenas o dinheiro de algibeira. Chegou a um ponto que tive de pedir ajuda ao embaixador português em Riade. Lá me deram o bilhete de avião e o meu passaporte, que estava retido no clube. Fazem isso com os passaportes dos estrangeiros», desabafa.

Em Brazzaville, a capital do país que acolhe Manuel Madureira, o cenário é completamente diferente. O seu novo clube é presidido pelo responsável máximo pela segurança na nação.

«O General faz segurança ao presidente do Congo. Comigo, estão sempre dois polícias à paisana para me acompanhar.»

«A polícia deu-me tudo que sou»

Polícia com polícia. Uma coincidência curiosa. O exercício da lei tem reflexos no terreno de jogo. «A polícia deu-me tudo que sou como homem, sem esquecer os meus pais. Quem sabe, no futuro, até posso voltar a exercer como complemento para a reforma. O que aprendi em disciplina, rigor e respeito, utilizo na profissão de treinador», confirma.

Recuando no tempo. Em 2001, esteve em Inglaterra, orientando o Sidlesham. Em 2007, despediu-se novamente da família para rumar à Argélia. Seguiu-se a Túnisia, Marrocos e a tal experiência amarga na Arábia Saudita. Desta vez, procura o sucesso no Congo-Brazzaville.

Aos 47 anos, o antigo agente da PSP de Aveiro habituou-se à vida de emigrante.

«Procurei adaptar-me sempre. O essencial é compreender o mundo árabe, onde o Islão é presença constante. É preciso saber respeitar os seus costumes.»

«Aqui há estabilidade e prosperidade»

De um lado, Congo-Brazzaville. Do outro, Congo-Kinshasa. «É preciso não confundir os países. Aqui, há estabilidade e prosperidade. Deste lado, tudo corre bem», explica Manuel Madureira.

«Do outro é que houve guerra e constantes problemas.» O Congo-Kinshasa, antigo Zaire, viu nascer Makukula e Bosingwa.

«Em Brazzaville, as condições são boas. O Diables Noirs é um clube com estrutura e vários campeonatos ganhos, incluindo o último. Existe um projecto para um centro de formação e aposta nas camadas jovens», salienta o treinador português.

Manuel Madureira quer revalidar o título nacional e atacar a Liga dos Campeões Africanos.

«Para já, estamos em trabalho de pré-época e a realizar uma bateria de testes, porque a qualidade do trabalho anterior foi medíocre em alguns aspectos. Temos aspirações na Liga dos Campeões Africanos e vamos jogar em vários países. Veremos o que o futuro reserva.»