Mais longe e mais alto é uma rubrica do Maisfutebol que olha para atletas e modalidades além do futebol. Histórias de esforço, superação, de sucessos e dificuldades.
 
 
Há mais ou menos 13 milhões de portugueses, mas há sempre um em qualquer parte do mundo. E, neste caso, um a praticar qualquer tipo de modalidade. Até esqui alpino, apesar de Portugal não ser um país com grande tradição de neve. Serra da Estrela e pouco mais. 
 
Mas, é certo, há muitos portugueses que são adeptos da modalidade e foi assim que Catarina Carvalho se tornou num símbolo português nas pistas internacionais, nomeadamente da Serra Nevada e Andorra.
 
Aos 20 anos, a esquiadora soma vários títulos nacionais e esteve presente nos últimos Mundiais de esqui alpino, que se disputaram em St. Moritz, na Suíça, na semana passada. Ficou em 74.º lugar, entre várias atletas de diferentes países mundiais.
 
Tudo começou aos dois anos, em família, e tornou-se mais sério com o passar do tempo. Pelo meio muitos amigos e um braço partido, que a fez perder algumas provas, mas agora é vê-la descer pistas ao mais alto nível e subir ao pódio. O último foi um já repetido e nesta terça-feira, depois de se sagrar de novo campeã nacional universitária na Serra da Estrela.
 
Com toda a comitiva portuguesa nos Mundiais de esqui alpino em St. Moritz, na Suiça
 
Quem sai aos seus não degenera
 
Apesar de ter nascido a vários quilómetros da Serra da Estrela, nas Caldas da Rainha, Catarina Carvalho cresceu «no meio da neve». O pai, contabilista e professor de marketing, sempre fez esqui e deu aulas na Serra Nevada, incutiu-lhe a paixão e foi-lha alimentando.
 
«Ia de férias com ele, quando ele dava aulas lá. Primeiro ficava na creche e depois comecei a ir para as pistas e a praticar. Aos dois anos experimentei, aos sete fiz a primeira prova - na Serra da Estrela - e aos 12 fui convidada pela federação para fazer uma prova internacional.»
 
Foi assim, aos poucos e de forma gradual, que tudo começou. A aposta foi muita, sobretudo da família e o percurso continua a ser feito na companhia do pai. 
 
Sem patrocinadores e com o apoio da Federação de Desportos de Inverno de Portugal (FDI-Portugal) nas provas internacionais, cabe à família Carvalho todo o restante investimento. As viagens e tudo o que implicam as estadias na Serra Nevada entre novembro e abril, onde vai recorrentemente e permanece vários dias para treinar.
 
«Já é hábito, há muitos anos. Antes ia por lazer. Aos 12 anos não tinha muita noção do que queria, mas depois comecei a entrar em provas internacionais e a querer evoluir. Estando a competir ao lado de jovens com outras rotinas, mais habituados às pistas e oriundos de países com tradição na modalidade, decidi investir cada vez mais.»
 
Além das idas às montanhas espanholas, Catarina Carvalho faz trabalho de ginásio e tem uma alimentação cuidada e regrada, mas, ao contrário de outras modalidades, não se priva de ter uma «vida como qualquer adolescente normal», segundo contou ao Maisfutebol.
 
«Nos meses de competição tenho os dias mais cheios, mas no verão e nos restantes meses aproveito como qualquer pessoa da minha idade. Mesma nos meses em que há competição, também consigo ter vida social, mas opto por ficar em casa a estudar.»
 
Tudo porque a esquiadora leva o esqui muito a sério, com seis a oito provas por ano, mas o sonho é outro: «O esqui é um hobby que me completa, mas o meu sonho é ser apresentadora. Até agora tem dado para conciliar os estudos e o resto da minha vida, mas um dia sei que vai deixar de dar.»
 
O sonho dos Jogos Olímpicos e o de ser apresentadora de televisão
 
Catarina Carvalho acabou o secundário na Secundária Raul Proença, nas Caldas da Rainha, rumou a Lisboa e é na capital que agora estuda. Está no segundo ano da licenciatura em Comunicação Social na Universidade Católica e sabe bem o que quer.
 
«Quero fazer televisão e estar ligada à área do entretenimento. Por isso, sei que quando acabar o curso, daqui a sensivelmente dois anos, vou entrar no mercado de trabalho e não me vou conseguir dedicar ao esqui como agora.»
 
Ainda assim, até lá, vai continuar a apostar na modalidade já sabendo que outro dos sonhos não cumprirá. «O sonho de qualquer atleta é participar nos Jogos Olímpicos, mas sei que não vou conseguir lá chegar. Teria de abdicar de muita coisa para conseguir os mínimos, nomeadamente parar de estudar e, como disse, o esqui é um hobby.»
 
Por isso, a participação nos Mundiais de esqui alpino foram o topo, até agora, e talvez de sempre, mas os objetivos não ficam por aqui: «Os Mundiais foram o ponto mais alto, mas ainda quero ser campeã de Espanha. Já fui e sou de Portugal e quero chegar ao título de campeã ibérica, que só se consegue vencendo também o campeonato espanhol.»
 
Depois disso, quer então encarar a neve como encarava nas primeiras pistas que desceu: «Sem a pressão de conquistar nada e de estar a representar o meu país. Só com a liberdade e a alegria de sair da partida e chegar à meta, por lazer e porque o esqui de facto me faz sentir bem.»
 
Pista de slalom nos Mundiais em St. Moritz

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