Mais longe e mais alto é uma rubrica do Maisfutebol que olha para atletas e modalidades além do futebol. Histórias de esforço, superação, de sucessos e dificuldades.

Rafaela Azevedo nasceu numa família de nadadores e desde que aos três anos entrou pela primeira vez numa piscina, nunca mais tirou a cabeça fora de água.

Aos nove anos começou a competir, aos 13 conquistou o primeiro recorde nacional, nos 200 metros costas, e a partir daí foi somando recorde atrás de recorde, tornando-se numa certeza da natação portuguesa.

Nesse sentido, poucos estranharam quando a nadadora do Algés e Dafundo se tornou recordista absoluta de 50 e 100 metros costas – tanto em piscina curta como em piscina longa – ainda com idade de júnior. Ela, que no final de 2019 conquistou a medalha de bronze nos 100 metros costas nos Europeus de juniores e foi sétima nos 100 metros costas dos Mundiais da categoria.

Isso aliado ao sonho de estar presente nos Jogos Olímpicos de Tóquio, cuja marca de qualificação estava a pouco menos de um segundo, fez com que a pandemia da covid-19 tivesse apanhado Rafaela Azevedo na melhor forma de sempre.

Mas se o facto de todas as piscinas terem encerrado logo no início de março foi negativo, as piores notícias chegaram já em abril, sob a forma de um teste positivo para o novo coronavírus.

«Só tive sintomas ligeiros: sentia-me entupida, com dores de cabeça, e perdi o olfato», começa por dizer ao Maisfutebol, antes de explicar que os sintomas, porém, se mantiveram durante cerca de um mês.

«Os principais sintomas duraram mais ou menos 15 dias, mas depois eu achava que já estava bem, voltei a treinar, mas sentia-me muito cansada. Esse cansaço muscular fez com que os sintomas se prolongassem por mais de um mês», explica a atleta de 18 anos.

Longe da piscina… e fechada no quarto

No total, Rafaela passou mais de dois meses afastada das piscinas, algo que nunca tinha acontecido desde que se iniciou na modalidade.

Ainda assim, pior do que estar fora de água, foi ter de ‘mergulhar’ durante mais de um mês no quarto. Referindo que toda a família teve alguns sintomas – pais e duas irmãs -, Rafaela nota que só ela e uma outra irmã testaram positivo.

«Durante um mês, estivemos as duas fechadas no quarto, sem contacto com o resto da família. Em termos de dinâmica foi complicado porque sempre que precisávamos de alguma coisa, tínhamos de pedir para alguém nos trazer», revela.

Essa fase, contudo, já foi ultrapassada. Rafaela já voltou à família e também já regressou às piscinas, há cerca de três semanas. A sensação tem sido positiva, ainda que a nadadora assuma ser mais difícil manter o foco no treino.

«Senti-me melhor do que imaginava, mas esta fase, depois de dois meses sem nadar, ainda é para voltar a ganhar sensibilidade à água. Só é mais difícil manter-me focada no treino porque não há competição e falta essa pressão», refere.

Mas também neste caso Rafaela consegue retirar algo de positivo de um aspeto negativo.

Estudante do 12.º ano e com os exames nacionais adiados para meados do mês de julho, Rafaela Azevedo admite que assim vai conseguir concentrar-se mais numa fase tão importante da vida de qualquer adolescente, como é o ano de acesso à universidade.

«Também nos estudos é difícil voltar ao ritmo depois de dois meses sem escola. Mas espero que isso não influencie os resultados», nota, ela que revela gostar da área de Biologia.

De olhos postos em Tóquio

O principal objetivo desportivo que Rafaela Azevedo tinha traçado para 2020, como é fácil de imaginar, era a presença nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

É atrás dele que Rafaela já começou a nadar no Centro de Alto Rendimento do Jamor. E por isso, tratando-se de uma atleta tão jovem, o adiamento dos Jogos… alimenta-lhe o sonho.

«Tenho mais um ano para me preparar e para evoluir, por isso, para mim, o adiamento não foi negativo. Pelo contrário, é muito bom», assume.

E quando convidada a olhar para o futuro, Rafaela não olha muito para além de 2021. O foco é claro: «O meu objetivo neste momento é ‘apenas’ estar nos Jogos Olímpicos», resume.

E percebe-se. Não vá uma pandemia aparecer para destruir um sonho.