Mais longe e mais alto é uma rubrica do Maisfutebol que olha para atletas e modalidades além do futebol. Histórias de esforço, superação, de sucessos e dificuldades.
 
29 de maio. Fez esta segunda-feira precisamente sete anos, que Pedro Solha viveu o momento mais alto da carreira: a conquista da primeira Taça Challenge. Foi em Almada, diante dos polacos do MMTS Kwidzyn. 
 
Um marco histórico para o Sporting, para Portugal e também para Pedro Solha, que além de arrecadar o troféu ainda se destacou como o melhor marcador da prova com 57 golos.
 
«Tínhamos uma boa equipa, com bons jogadores e recém-chegados ao clube. Eu era um deles, e queria dar o melhor pelo Sporting. Tínhamos todos muita vontade de vencer. Fizemos uma boa campanha e ninguém contava que a vencêssemos. Nunca ninguém a tinha ganho em Portugal. Fomos andando e chegámos lá», recordou ao Maisfutebol
 
Sete anos passaram e o ponta-esquerda vive por estes dias a ressaca de mais uma conquista: a mesma de há sete anos. O Sporting voltou a vencer a Taça Challenge desta vez na Roménia, agora diante do Potaissa Turda. Foi no sábado, 27 de maio.
 
Pedro Solha somou a segunda Taça Challenge à conta pessoal e também ao Sporting, mas desta vez de maneira diferente. Foi à distância, no sofá e ao lado dos pais. 
 
Já que o jogador, de 35 anos,  que é um dos poucos jogadores de 2009/2010, que ainda se mantém no clube, a par de Pedro Portela e João Pinto, e ainda do regressado Bosco Bjelanovic, mas ao contrário deles, desta vez não jogou. Lesionado, e recentemente operado ao tendão de Aquiles do pé esquerdo, nem sequer viajou com a equipa.
 
«Cansou-me menos esta conquista, sim», disse entre risos. «Foi um misto de sensações: uma alegria imensa por conseguir mais este troféu, mas uma enorme tristeza por não puder disputar a final», revelou.
 
«Não é fácil ver um jogo de fora, mas na bancada até me custa mais porque não consigo ver sentado. Em casa vi com calma, até porque se viu logo nos primeiros 15/20 minutos aquilo para que o Sporting foi lá: ganhar. Não fomos para gerir o resultado [tinham vencido em Portugal].» 
 
«Esta equipa é muito forte», elogiou, admitindo que é uma das melhores do Sporting nos últimos anos: «É, sem dúvida. Toda a gente sabe disso, ninguém esconde. Fez-se um investimento grande. Pelos jogadores que vieram, a maturidade e a experiência, é a melhor.»
 
Por isso, ao contrário da primeira vez, vencer a Taça Challenge este ano era de facto um objetivo concreto: «Sabíamos que a podíamos vencer. Começámos a época centrados em três objetivos. Um já conseguimos e estamos na luta pelos outros dois - o campeonato e a Taça de Portugal.»
 
 
«Acredito que é desta que vamos ganhar o campeonato»
 
Com vários títulos na carreira, até de MVP, falta-lhe apenas o campeonato e algum título pela seleção, que já não conseguirá.
O ex-internacional português tem, para além das referidas Taças Challenge, três Taças de Portugal e uma Supertaça, mas está finalmente mais perto de vencer o título mais aguardado e que já foge aos leões desde 2000/2001.
 
É já esta quarta-feira, que se decide o campeonato, em Odivelas, diante do Benfica. O Sporting lidera a prova com mais um ponto do que o FC Porto e tem apenas de vencer: «Não vai ser um jogo fácil, mas acredito que vamos vencer. Acredito que é desta que vamos ganhar o título.»
 
Os jogos com percalços frente ao FC Porto, na primeira fase do campeonato, e diante do Benfica, na segunda, são passado e Pedro Solha desvaloriza o que se comentou: que este Sporting se amedronta diante destes rivais. 
 
«Não temos esses fantasmas. Que disparate dizer-se isso», começou por dizer, justificando: «São momentos. Não se passou nada e não considero que tenhamos falhado. Prova disso é que estamos na luta pelo título.»
 
«Não jogamos sozinhos. Não depende só de nós! Não quer dizer que tenha sido totalmente demérito nosso, é também mérito dos adversários», disse, acrescentando: «Todas as equipas têm altos e baixos ao longo da época. Felizmente que os nossos baixos foram no início e que neste momento já vencemos um título e estamos ainda vivos nas outras duas competições.»
 
Depois do campeonato, segue-se a Taça de Portugal e a possibilidade de os leões - se ganharem o campeonato - vencerem o triplete no espaço de apenas oito dias. A meia-final joga-se este sábado com o Avanca, já a final, se lá chegarem, será frente ao FC Porto ou ao ABC no domingo.
 
«Parece um cliché, mas o que espero é ganhá-la», atirou Pedro Solha, mostrando ter os pés bem assentes na terra: «Mas vamos com calma. Primeiro é preciso jogar a meia-final, porque só assim chegaremos à final.»
 
«Temos o dever de ganhar ao Avanca, mas sabemos que não será um jogo fácil. O Avanca chegou a esta fase com mérito e fez um bom campeonato, tem bons jogadores», alertou, dizendo também que a outra meia-final «será igualmente difícil para qualquer uma das equipas».
 
Tudo pode acontecer, o certo é que o Sporting está na corrida e vencer o triplete seria inédito. Uma época sem igual a nível coletivo, depois da chicotada em fevereiro com a saída do treinador Zupo Equisoain e a promoção do adjunto Hugo Canela.
 
«Dizem que as mudanças fazem bem, talvez. São treinadores diferentes, com métodos diferentes. Adaptámo-nos bem ao Hugo. Está no Sporting há muitos anos, conhece bem o grupo e trabalha muito bem. Mereceu ter assumido a equipa e estar a conseguir tudo isto.»
 
Nos festejos da Taça de Portugal de 2013. Pedro Solha, no chão à esquerda, Hugo Canela, em cima à direita, na altura como adjunto
Com mais de uma centena de internacionalizações abdicou pelo filho e pela faculdade
 
Já a nível individual a época terminou mal para o ponta-esquerda. A lesão sofrida há poucas semanas afastou-o destes jogos decisivos e só deverá regressar em novembro. Ainda assim, e apesar da idade, Pedro Solha não se lamenta: «São coisas que acontecem.»
 
Este contratempo, até o faz querer voltar mais forte e… jogar durante mais tempo. Com contrato com o Sporting até ao final da próxima temporada, o ponta-esquerda revelou que como vai perder a primeira metade da época 2017/2018 quer jogar mais «dois ou três anos».
 
«À medida que a idade avança pensamos em terminar, mas por agora sinto-me bem física e psicologicamente e com capacidades para continuar», atirou, referindo que há muito tempo que tem sabido gerir a carreira e a vida pessoal.
 
Numa das 115 vezes que representou Portugal, esta em 2010

Pedro Solha abdicou da seleção nacional em novembro do ano passado, ao fim de 115 internacionalizações, para dar espaço aos mais novos, mas sobretudo por motivos pessoais: «Não foi uma decisão nada fácil, foi muito ponderada. Além de achar que estava na altura de dar lugar aos mais novos, que têm muita qualidade, queria dedicar-me mais e em exclusivo ao Sporting, estar mais tempo com o meu filho e ter tempo para a faculdade.»

Agora tem esse tempo e não se arrepende da decisão, está mais perto de acabar a licenciatura em Administração e Gestão Desportiva na Universidade Autónoma de Lisboa. Falta-lhe apenas um semestre e a vontade de terminar já é muita, até porque pensa muito no futuro.
 
«Jogo andebol desde os nove anos, sou profissional há muito tempo, mas é uma modalidade que não nos dá muitas garantias financeiras depois de terminarmos a carreira. Por isso, e porque acho que toda a gente deve ter um curso, quanto mais não seja por ser uma mais-valia para a nossa vida, decidi seguir o caminho académico.» 
 
«Não me vejo a ser treinador. Sempre gostei da parte da gestão desportiva, por isso decidi ir por aí. Gostava que o futuro passasse por esse lado», comentou o atleta que além do Sporting representou o Águas Santas [clube da freguesia de onde é natural] em três ocasiões, o FC Porto em duas e ainda o Maia numa.
 
Mas, para já, é certo que vamos continuar a vê-lo de leão ao peito e cada vez mais dedicado ao clube de Alvalade: «Estou ansioso pelo Pavilhão João Rocha, a nossa casa. O Sporting já é muito forte e tornar-se-á mais ainda quando tiver o quartel-general das modalidades. Vai ser bom para nós e melhor também para os adeptos. O futuro é risonho.»