«Mais longe e mais alto» é uma rubrica do Maisfutebol que olha para atletas e modalidades além do futebol. Histórias de esforço, superação, de sucessos e dificuldades.

Um Espinha na baliza da seleção? Onde é que já ouvimos isso?

Pedro. Pedro Espinha, isso mesmo. O guardião que fez carreira em vários clubes, entre os quais o Belenenses, Salgueiros, V. Guimarães e FC Porto, e que foi seis vezes internacional por Portugal.

Pedro Espinha, dizíamos, foi o primeiro. Mas Miguel, o sobrinho, pode seguir-lhe as pisadas. Miguel Espinha, tal como o tio, é guarda-redes foi uma das novidades da convocatória de Paulo Jorge Pereira para o Europeu de andebol, apesar de ter visto o seu nome 'cair' no último momento, algo que vai adiar a estreia na seleção.

Em conversa com o Maisfutebol, o andebolista que se iniciou no Benfica e esteve ligado às águias durante 17 anos, assumiu que o legado familiar teve peso no momento de escolher a posição no campo.

«Claro que houve uma influência familiar. Além do meu tio, que foi guarda-redes de futebol, o meu pai foi de andebol. Fez a formação no Benfica e depois ainda jogou na primeira divisão, mas já sem ser no Benfica», começa por contar Miguel Espinha.

«Quando somos miúdos, tendemos a imitar aqueles que são as nossas referências e foi isso que me aconteceu. Sempre tive o gosto de ir à baliza, foi uma coisa que surgiu naturalmente», acrescenta.

Miguel é um dos três jogadores convocados para o Euro que não conta com qualquer internacionalização ‘A – juntamente com Martim Costa e Daniel Vieira, cujas histórias já demos a conhecer.

E essa convocatória é razão mais do que suficiente para ir conhecer o percurso de um guarda-redes que fez quase todo o trajeto no Benfica, mas que começou a voar mais alto precisamente depois de deixar as águias.

Sair da zona de conforto para crescer

Em 2020, ao fim de 14 épocas de ao serviço dos encarnados – com três empréstimos pelo meio -, Miguel Espinha decidiu que era a hora de dar um novo rumo à carreira e sair da zona de conforto, como o próprio admite.

«Foi a primeira vez que deixei Lisboa, fui morar sozinho para outro país e claro que ia reticente e receoso, mas também com muita esperança de que as coisas iam correr bem», revela.

E correram. Em Espanha, Miguel fez quase 30 jogos ao serviço do Huesca, na Liga ASOBAL, uma das mais competitivas do mundo.

«Foi importante ter saído do Benfica porque isso deu-me outra visibilidade. Dei-me a conhecer a outras pessoas do andebol e passaram a dar-me valor para lá do potencial que já me reconheciam e que acho que confirmei. Joguei bastante numa das melhores ligas do mundo, só atrás da Alemanha e da França», orgulha-se o guardião de 28 anos.

Ora, se eram precisas provas do crescimento do guardião em Espanha, a maior surgiu no final da época. Depois de ajudar o Huesca a chegar ao quinto lugar da liga espanhola, Espinha recebeu uma proposta para se mudar para França, tendo assinado pelo Cesson-Rennes, atual oitavo classificado da liga gaulesa.

Entretanto, Miguel agarrou um lugar na seleção de Paulo Jorge Pereira e esperava pela estreia, que podia acontecer na fase final do Europeu, levando-o a tocar o céu.

E será que a estreia, numa arena de Budapeste com capacidade para 20 mil pessoas já deixa Miguel a sonhar?

«Não, ainda falta algum tempo! Ainda não estou a pensar nisso porque há trabalho para fazer até lá. Talvez só comece mesmo a pensar quando chegarmos à Hungria. Aí, se calhar muda e começo a imaginar jogar ali com as bancadas cheias e a motivação vai ser ainda maior», acredita.

Miguel Espinha faz parte da ‘revolução’ – em parte imposta por lesões e finais de carreira – da comitiva que Paulo Jorge Pereira leva para Budapeste, onde Portugal vai ter a sua sede.

Para se ter uma noção, apenas nove jogadores repetem a presença, relativamente à equipa que surpreendeu a Europa do andebol há apenas dois anos, quando a seleção conseguiu a melhor classificação de sempre em europeus.

No que diz respeito aos guarda-redes, em concreto, só Gustavo Capdeville repete a presença, ele que era o terceiro guardião, atrás do malogrado Alfredo Quintana e do ‘quarentão’ Humberto Gomes.

Porém, Miguel Espinha garante que não será pelos guarda-redes que Portugal terá problemas, elogiando as três opções – Manuel Gaspar junta-se a Espinha e Capdeville -, apesar de juntos somarem apenas 33 internacionalizações.

«Acho que isso não conta muito. Todos temos demostrado qualidade não só em Portugal, como lá fora. Eu a jogar em Espanha e França, o Gustavo [Capdeville] e o Manuel [Gaspar] a jogar pelo Benfica e pelo Sporting nas competições europeias. Somos guarda-redes de futuro, mas também já somos de presente e só podemos crescer com esta responsabilidade que nos é dada», sublinha.

Apesar de ser o menos experiente internacionalmente, os dois últimos anos de Miguel Espinha mostram que ele não se deixa atemorizar por desafios.

Pelo contrário: supera-se diante das adversidades e cresce em terreno desconhecido.

Será, portanto, mais uma arma a ter em conta por Paulo Jorge Pereira.

[artigo atualizado após ser conhecida a convocatória final para o Europeu, na qual não consta o nome de Miguel Espinha]

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