São pelo menos 40 e valem um charter. Mas são mais do que uma espécie de realização da profecia de Paulo Futre, dois anos depois. Estão em Portugal dezenas de jovens jogadores chineses, a treinar e a jogar por cá, em vários clubes espalhados pelo país. Trouxeram o sonho de seguir os passos de Cristiano Ronaldo ou Nani, para os clubes nacionais são um balão de oxigénio. É que, com eles, vem também dinheiro.

Os últimos chegaram em dezembro. Vêm das seleções chinesas e sub-17 e sub-19 e fazem parte de um projeto conjunto dos dois países. A China escolheu Portugal depois de pesquisar vários locais para levar os seus futebolistas a um nível superior. Os eleitos para integrar o projeto foram escolhidos após várias observações. Vêm acompanhados por alguns treinadores chineses, estão divididos por vários grupos, que treinam em diferentes clubes, e além disso têm sessões de trabalho conjuntas em Massamá sob a supervisão de Carlos Gomes, o treinador português responsável pelo projecto.

Massamá. Mesmo onde Nani treinou e jogou antes de ir para o Sporting e, depois, para o Manchester United. «Não queria acreditar que o Nani praticou aqui quando era adolescente. Estou tão orgulhoso por pisar os mesmos passos que ele», diz Zhou Dadi, de 17 anos, numa reportagem da agência Reuters sobre este programa.

Yang Ailong, de 18 anos, treina no Sacavenense, embora se mantenha ligado a um clube da Liga chinesa, o Changchun Yatay. E diz que foi o melhor que lhe aconteceu. «O futebol português é muito melhor que o chinês. Graças a este prograna acredito que vou chegar à seleção principal um dia e talvez ficar a jogar na Europa», afirma, enquanto explica como é diferente o futebol cá e lá: «A maior diferença é o ritmo de jogo. Jogam tão mais depressa aqui em Portugal.

Carlos Gomes diz que os jogadores já evoluiram muito desde que chegaram. «É como da noite para o dia», relata o técnico: «Há duas semanas aconteceu algo extraordinário. Num jogo em Espanha, ganhámos à seleção sub-22 da China por 2-1. Dominámos completamente.»

A opção da China por Portugal tem a ver com o sucesso desportivo e os craques portugueses que atingiram estatuto mundial, mas também com a dimensão do país. Numa área geográfica pequena há centenas de clubes competitivos para evoluir. «Na China só há normalmente um clube por cidade e são muito distantes entre si. Para terem um campeonato com periodicidade semanal de jovens tinham de começar a viajar dois a três dias antes. Como iam à escola?», observa Carlos Gomes.

Cada clube português recebe uma verba por acolher os jogadores. Os clubes a que os jogadores chineses estão ligados são Varzim, Oliveirense, Pombal, Fátima, Alverca, Casa Pia, Oeiras e Real Massamá, segundo informação da «Notícias Magazine» numa reportagem recente com estes imigrantes especiais. Gomes diz à Reuters que no início o valor fixado era de 20 mil euros anuais por jogador. Qi Chen, um dos responsáveis pelo programa, evita falar em valores concretos. «Não vou dizer quanto os clubes recebem agora, mas estamos de facto a apoiá-los através de subsídios a treinadores, bónus para jogos e no apoio às finanças dos clubes, explica à reportagem da Reuters.

Para Qi Chen, este projeto junta o melhor de dois mundos: «Não há país como a China quando se fala de crescimento económico hoje em dia mas, no que diz respeito a futebol, Portugal está muito à frente. É por isso que estamos aqui.» Além dos sonhos individuais de cada um dos jovens jogadores chineses, e além também do que defendia Futre em 2011, quando era candidato a diretor desportivo do Sporting e queria trazer «o melhor chinês da atualidade» e atrair a atenção do mercado chinês para Alvalade, isto faz parte de uma estratégia global da China. «Os chineses estão à procura de sucesso com as suas seleções, mas também à procura de um jogador-bandeira, alguém que possa tornar-se um ícone no desporto chinês», observa Carlos Gomes.