As revelações e as desilusões no primeiro terço da Liga. Claro que ainda é cedo, mas em alguns casos vale a pena arriscar. As indicações, para o bem ou para o mal, são seguras e não deverão ser desmentidas no futuro.

Antes do detalhe, duas ideias. As revelações são mais e mais fortes do que as desilusões. Por outro lado, as desilusões são sobretudo coletivas (com exceção de Sporting, Estoril e Gil Vicente), têm a ver com a qualidade de jogo. E a grande notícia é uma revelação: William Carvalho.

As boas notícias divididas em dois grupos. De um lado os mais novos, do outro os que chegaram este ano.

Em muitos casos, os números falam por si, dispensando mais explicações. O caso mais evidente será o de William Carvalho. Chegou agora e parece que sem ele a equipa do Sporting já não funcionaria. Exagero, claro, mas dá uma ideia da importância. Também em Alvalade, outro nome: Carlos Mané. Tem muito menos minutos (só 33, na verdade) e influência do que o colega. Mas também é mais novo, menos experiente. Aparece aqui mais por um
feeling. Ele entra e percebe-se ali qualquer coisa. O futuro dirá.

Do outro lado da segunda circular, Ivan Cavaleiro serviu para Jorge Jesus aparecer como treinador que aposta nos mais jovens. Os números dizem o contrário, bem o sabemos. O extremo acaba por aparecer nesta lista mais pelo conjunto de jogos (Benfica B e seleção sub-21) do que propriamente pelo que conseguiu fazer na Liga (131 minutos). Um pouco na linha de Carlos Mané, o talento revelou-se. Mas ainda falta muito caminho.

As primeiras jornadas da Liga foram generosas para os jovens jogadores. Em Barcelos, Luís Martins e Diogo Viana estão entre as principais figuras da equipa-sensação. No Estoril, Sebá impôs-se sem dificuldades. Os números ainda não são impressionantes (dois golos e uma assistência), mas o potencial está lá.

Formado nas escolas do Benfica, Diego Lopes, de apenas 19 anos, conquistou um lugar no onze do Rio Ave. Ainda precisa de acrescentar números aos minutos (sem assistências ou golos), mas a qualidade está lá.

Em Braga o tempo tem estado instável e sabe-se como essas condições são delicadas para lançar jovens. Mesmo assim, Rafa Silva tem jogado com alguma regularidade e percebe-se que só poderá crescer. O mesmo de pode dizer das revelações do Bonfim. Lançados por José Mota, Rúben Vezo e Ricardo Horta impressionaram. O defesa sairá em Janeiro para o Valência.

Na Madeira, Miguel Rodrigues, defesa central da seleção sub-21.

No Restelo, destaque para Miguel Rosa (três golos antes de se lesionar) e sobretudo para o internacional sub-21 Tiago Silva, muitas vezes o responsável por dar sentido ao futebol de ataque do Belenenses.

Na lista dos que chegaram esta época, poucas notas de verdadeiro relevo.

Markovic e Quintero mostraram o talento que já traziam como referência. Falta acrescentar-lhe regularidade. Mesmo assim, são duas evidentes boas notícias para a Liga.

Ramón Cardozo começou por despertar a curiosidade por ter o mesmo nome e nacionalidade do outro Cardozo, mas o tempo já permitiu observar que é mais do que apenas um acaso. O jogador sadino é um ponta-de-lança da cabeça aos pés e isso não é assim tão comum em Portugal. O Vitória anda necessitado de um jogador assim há muito tempo.

Na Madeira, Derley tem mostrado serviço apesar do mau início de época do Marítimo. Além dos seis golos marcados, mais duas assistências. Ou seja, participou em metade dos golos da equipa de Pedro Martins. Difícil pedir mais.

Desilusões

Ainda é cedo, são apenas dez jornadas. Algumas coisas podem mudar, mas este é o retrato até ao momento. Depois ver-se-á. Também aqui as desilusões dividem-se em dois grupos: os que nem convencem os treinadores (e por isso pouco jogam) e os que não nos convencem a nós, apesar de irem jogando.

No primeiro grupo, três jogadores do FC Porto.

Ghilas não há maneira de entusiasmar Paulo Fonseca. Jackson Martinez é o titular óbvio, mas a forma do colombiano já foi mais impressionante. Entre a seleção e uma ou outra lesão, não há forma de o argelino começar a contar no FC Porto.

O mesmo se passa com o mexicano Diego Reyes. A defesa soma erros que custam pontos. Mas mesmo assim não há forma de o antigo jogador do América se chegar perto da titularidade. É verdade que tem apenas 21 anos, mas para os adeptos permanece um mistério.

Depois do golo que valeu um campeonato esperava-se que Kelvin tivesse uma temporada com mais minutos, até porque o campeão não está especialmente dotado de extremos. Afinal, foi mais fácil entrar no museu do clube do que no onze de Paulo Fonseca.

A Alvalade chegaram dois brasileiros sem grande expectativa. Welder, lateral, foi logo «substituído» por Piris. Tudo indica que em Janeiro regressará a casa. Se assim suceder terá sido enorme falhanço. Sobre Gerson Magrão é mais diíficil escrever. Afinal, não se percebe sequer em que lugar joga: lateral, médio esquerdo, médio defensivo, número 10? Foi titular na primeira jornada e saiu antes do intervalo. Entrou alguns minutos frente ao Vitória de Setúbal e, estranhamente, no Dragão. Pode ser um caso de dificuldade de adaptação. Pode, mas não parece.

Rinaudo e Salim Cissé são outras duas desilusões, também em Alvalade. O argentino, adorado pelos adeptos (vá lá saber-se porquê…), foi suplente utilizado em três partidas. A culpa é de William Carvalho. O avançado de 20 anos anda pelo Sporting B, apesar de Leonardo Jardim não ter assim grandes opções na frente.

Por último, Vítor. Tem 155 minutos na Liga, apenas mais quatro do que tinha somado em Paços de Ferreira, nas duas primeiras jornadas. Sabe-se que tem qualidade, mas pelos vistos isso ainda não foi suficente para fazer o treinador pensar duas vezes nas suas opções.

Na Luz, Ola John foi suplente utilizado quatro vezes. Tudo junto, 130 minutos, apesar da lesão de Salvio. Na prática, não conta para Jorge Jesus. Steven Vitória, depois do sucesso no Estoril, deve estar a pensar duas vezes na opção de carreira que tomou.

O mesmo se passa em Braga com Custódio e Edinho. Dois jogadores experientes de quem seria de esperaria mais tempo. Ainda na equipa de Jesualdo Ferreira, destaque para a escassa utilização do internacional sub-21 Salvador Agra.

Estes são os futebolistas que nem têm conseguido convencer os treinadores. Na categoria dos que até jogam mas não nos convencem a nós há mais desilusões.

Herrera tem sido um dos jogadores mais discutidos da Liga. Começou a jogar no início de outubro, em Arouca. Soma cinco participações, apenas um encontro completo. Por norma, é opção para sair. É verdade que naquele lugar jogava Moutinho, o que torna a comparação pesada. Mas não é só isso. O mexicano de 23 anos está muito longe de entusiasmar.

Na Luz, Djuricic tornou-se notado por protestar na imprensa do seu país: estava à espera de jogar mais, disse ele. Desde então, não se pode queixar. Tudo junto, 181 minutos na Liga e mais uns quantos em outras competições. E a sensação de que não está adaptado. ( Sulejmani não foi esquecido,apenas poupado devido às lesões) 

Também na Luz, Cortez. A história é conhecida. O brasileiro chegou por empréstimo. Era mais um lateral esquerdo. Depois de uns dias, o clube foi a correr buscar outro brasileiro, a Espanha. O ex-jogador do São Paulo ficou fora da Liga dos Campeões e depois de uma exibição preocupante em Alvalade entrou para a lista negra dos adeptos. Siqueira anda a contas com problemas físicos, mas entretanto apareceu Sílvio. Só jogará se não houver mais ninguém.

Ainda na Luz, Rodrigo. Há meses que o avançado não convence na Liga. Oscila entre a titularidade, a bancada e o banco. Esteve em sete jogos da Liga, mas tem apenas 336 minutos (e um golo). Claro que é bom jogador, já o demonstrou, mas esta fase cinzenta dura há demasiado tempo. Provavelmente precisava de cinco ou seis jogos de início e total confiança do treinador. Depois do que fez em Bruxelas, estará Jorge Jesus pelos ajustes?

Para conferir números, veja a lista de marcadores e de jogadores que fizeram assistências para golo. Depois partilhe connosco as suas opiniões.

NOTA: Izmailov é um caso à parte. Se não treina, evidentemente não podia jogar. Por razões que desconhecemos, é óbvia desilusão.