Tem sido um início de época atípico para o Sporting. Os desempenhos da equipa não têm agradado aos adeptos, os resultados também não. No final do jogo com o Marítimo, José Peseiro disse que a ansiedade levou a que fossem cometidos erros que não teriam surgido em situações normais.
Para ajudar a perceber o que se passa e para tentar apontar caminhos, o Maisfutebol «levou» a equipa do Sporting ao psicólogo. Falámos com o professor Jorge Silvério, assistente do Departamento de Psicologia da Universidade do Minho e formador convidado da Federação Portuguesa de Futebol. Foi o primeiro mestre de Psicologia do Desporto em Portugal e tem já uma longa experiência em trabalhar com atletas de diversas modalidades. Jorge Silvério foi também professor de José Peseiro no curso de treinadores e aceitou fazer-nos o diagnóstico do que se passa em Alvalade.
A primeira questão é saber o que é afinal a ansiedade: «Basicamente, a ansiedade está relacionada com a forma como nós damos significado às situações», explica, apontando uma situação concreta, que tem a ver com os assobios que se têm ouvido no estádio: «Inicialmente os jogadores terão interpretado os assobios como uma crítica. Como jogador posso interpretar isso como o facto de as pessoas estarem à espera que eu renda mais ou pensar que me assobiam porque sabem que eu sou capaz de mais. Essa segunda interpretação leva-me a tentar render mais e a jogar melhor, enquanto a segunda leva-me a jogar cada vez pior». «Depois é um ciclo vicioso. Sou assobiado e interpreto isso como uma crítica. Começo a perder a confiança em mim próprio, começo a ter receio de ser assobiado no próximo jogo e cada vez vai sendo pior. Antes do próximo jogo ao entrar em campo já estou a pensar que vou ser assobiado».
A explicação dos erros
Todos nós já nos sentimos ansiosos perante um desafio difícil e sabemos que esse sentimento gera reacções a nível fisiológico: aceleração dos batimentos cardíacos, suor nas mãos, dureza muscular. Mas a ansiedade pode também fazer com que as pessoas se sintam mais irritáveis. E, num grupo de trabalho, a ansiedade por gerar desentendimentos entre os atletas. «Se a pessoa está ansiosa, há um aumento da probabilidade de conflitos entre as pessoas», confirma o psicólogo.
No entanto, nem todos lidam da mesma forma com o problema. Há aqueles que rendem mais quando estão ansiosos, outros tendem a errar quando a ansiedade está no auge, porque não a conseguem controlar. Jorge Silvério recorreu a um gráfico muito usado em psicologia para ilustrar este facto: «Cada pessoa tem aquilo a que chamamos uma curva de ansiedade, se tivermos baixa ansiedade, o mais provável é termos baixo rendimento. Se a ansiedade for alta, e desde que eu a consiga controlar, posso conseguir o máximo do meu desempenho e da minha capacidade. O problema é quando eu não consigo controlar a ansiedade e ela continua a aumentar e aí o rendimento baixa».
Daí os erros de que falava Peseiro. «É mais provável que isso se note logo no início do jogo. Depois, e se as coisas começarem a correr bem, é provável que a ansiedade diminua. Se não é provável que a ansiedade aumente mais. Podemos controlar a ansiedade se soubermos como. Esta curva é específica para cada jogador e varia também em função da situação. O que está a acontecer no Sporting é que esta curva vai aumentando à medida que os jogos vão decorrendo sem que os resultados apareçam», elucidou.
«A ansiedade por ser controlada e ultrapassada com o tempo», garante Jorge Silvério, mas pode ultrapassar os limites do campo e estender-se por exemplo à vida familiar de um atleta: «A tal irritação pode propagar-se a outros sectores. Um jogador pode reagir mal, por exemplo, com a esposa e com os filhos».