Bernardo Silva recebe a TVI/Maisfutebol em Manchester para uma conversa descontraída. Com o esquerdino do City tem mesmo de ser assim. O futebol dele é, aliás, o reflexo da personalidade extrovertida e sorridente. 

Bernardo responde a tudo sem hesitações, como se soubesse que o sentido do ataque é está sempre na resposta mais rápida. Fala muito do Benfica, naturalmente, e até surpreende ao afirmar que há uns meses seria inimaginável ver o emblema da Luz a lutar pelo título em abril. 

Aos 24 anos, Bernardo Silva está a fazer uma temporada fulgurante em Inglaterra e a apenas três jogos de chegar aos 100 com a camisola Citizen. É uma das escolhas preferenciais de Pep Guardiola e, muito provavelmente, aquele que mais vezes foi elogiado publicamente pelo treinador espanhol. 

Nesta parte da conversa fala-se da atmosfera da temporada de Bernardo no Manchester City, da passagem pelo Monaco e da relação quase sempre especial com Pep Guardiola. 


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TVI/Maisfutebol – Esta é a época em que o Bernardo Silva se sente mais importante dentro de uma equipa, depois da saída do Benfica?
Bernardo Silva –
A minha última época no Monaco também foi muito boa. Não consigo escolher entre essa e esta. Sinto, claramente, que estou a fazer uma boa temporada. Ainda não acabou e espero que acabe bem, com títulos. Sinto-me feliz e respeitado aqui em Manchester. 

TVI/MF – O Pep Guardiola tem elogiado o Bernardo publicamente. Várias vezes. Como é que um futebolista reage a esses elogios do seu treinador?
BS –
É ótimo ouvir isso do meu treinador. É sinal de que estou a fazer bem o meu trabalho. Dá-me mais responsabilidade.

TVI/MF – Do ponto de vista individual, em que situações o Bernardo mais melhorou desde a chegada ao City? Em que aspetos o Guardiola tem insistido mais consigo?
BS –
Não gosto de dizer que evoluí mais aqui do que no Monaco. A passagem por lá também foi importantíssima. Tornei-me um homem a jogar, em vez de ser só um miúdo. Aqui no City acho que ainda fiz um upgrade. Há uma preocupação enorme pelo detalhe e em perceber como esta equipa joga. Sinto que cresci imenso. O ritmo competitivo, a forma como me habituei a jogar jogos grandes e a ambição de jogar numa equipa que joga sempre para ganhar e nunca tem medo de nada. Tudo isso é crucial.

TVI/MF – O posicionamento e a leitura de jogo do Bernardo também foram muito elogiados. Isso está ligado ao ritmo competitivo e à competição permanente?
BS –
Acho que sim. Começamos a perceber os passos a dar para estar mais vezes com a bola, por exemplo. E começamos a saber como orientar o corpo para receber melhor a bola e depois atacar. Isso surge do treino, sim, mas principalmente da quantidade de jogos que são feitos. Somos obrigados a melhorar.

TVI/MF – O Manchester City luta por todos os títulos. O dia a dia deve ser muito exigente em todos os aspetos, até nos pormenores mais individuais do jogo.
BS –
Treinamos sempre num ritmo muito alto. Este ano, infelizmente, não temos tido muito tempo para fazê-lo, pois jogamos de três em três dias. O processo é jogar/recuperação, jogar/recuperação. Mas num período normal os treinos são muito intensos mesmo e isso é refletido nos jogos.

TVI/MF – O Bernardo afirmou há uns dias que uma das vantagens do Manchester City é não ter um Cristiano Ronaldo ou de um Messi. Quer explicar melhor a ideia?
BS –
Para que fique claro, um jogador como o Cristiano ou o Messi melhora sempre uma equipa. O que eu disse foi isto: não tendo o Manchester City um jogador como o Cristiano ou o Messi, que faz a diferença todos os jogos e marca 70 golos por época, esse papel principal é mais dividido por todos os jogadores. Depender de todos os jogadores faz de nós um coletivo mais forte.

TVI/MF – Ainda olha para o Aguero e para o Sané como exemplos a seguir ou já ultrapassou essa fase?
BS –
Acho que temos sempre de olhar para os bons jogadores. Há situações em que olho para um jogador e penso ‘uau, também quero fazer isto’. E o mesmo aplica-se no outro sentido. ‘Olha, aquele está a fazer aquilo mal’. Independentemente do nível onde estou, há sempre margem para aprender. Todos os dias.

TVI/MF – No City tem jogado esta época mais em espaços interiores. É aí que se sente mais confortável?
BS –
Joguei 12 anos na formação do Benfica e 11 deles foram passados a jogar como médio interior. No meio. Naturalmente, a minha posição é mais essa, em zonas interiores. Quando fui para o Monaco passei grande parte da época a jogar na direita e o ano passado, aqui no City, também joguei sobretudo na direita. Na Seleção Nacional também. Esta época voltei a jogar mais pelo meio. Sinto-me confortável nas duas posições. Dependendo do estilo de jogo da equipa, posso sentir-me mais desconfortável na direita por não ser um jogador muito rápido. Mas sinto-me bem nas duas posições.

TVI/MF – No campeonato a luta com o Liverpool está a ser dura.
BS –
Está a ser fantástico viver esta época. O Liverpool tem feito um ano fantástico e está a tornar tudo mais difícil para nós. Faltam seis jogos e temos uma pequena vantagem. Vamos tentar aproveitá-la, mas há jogos difíceis aí pela frente. Estamos a fazer uma grande época. Já vencemos um troféu, estamos na final da FA Cup e a lutar pelo campeonato e a Liga dos Campeões.

TVI/MF – A Liga dos Campeões é um dos grandes objetivos do Manchester City já esta época, até para se afirmar como um gigante europeu?
BS –
Claro que sim. Falamos entre nós e sinto isso. Só um ou dois jogadores do City é que já ganharam a Liga dos Campeões. O Danilo e o Claudio Bravo. Vamos tentar este ano. Estamos em desvantagem na eliminatória, mas em casa podemos dar a volta ao Tottenham.

TVI/MF – Tem acompanhado com preocupação o processo do Brexit?
BS – Tem-se falado muito nisso aqui em Inglaterra e sigo, claro. A Primeira-Ministra disse que as pessoas que já cá vivem vão ser sempre protegidas e a relação com a União Europeia será sempre boa.