Pela terceira vez Manuel José conquistou a Liga dos Campeões Africanos. A primeira pergunta da conversa que o Maisfutebol manteve com o treinador tinha por isso de começar por aí. Três títulos depois, o que muda no sabor da conquista? «Muda muita coisa», respondeu Manuel José. «Esta Liga dos Campeões é o momento mais alto de um clube que vai fazer cem anos em 2007, que é praticamente centenário, portanto, e que conseguiu igualar o Zamalek em número de títulos africanos conquistados».
Mas é diferente também para o português. «Para mim é o momento mais alto da minha carreira de treinador», garante. «Em ano e meio de trabalho tivemos nove operações, algumas a jogadores que eu próprio considerava insubstituíveis. Por isso é que ontem tive de jogar com um júnior de 18 anos e que mede 1m59». Uma revelação que ajuda a justificar a alegria do técnico. «Foi sem dúvida a mais difícil das Ligas dos Campeões Africanos que conquistei e por isso também sem dúvida a mais saborosa das três».
«Tenho 60 anos e levanto-me todos os dias às sete da manhã com a mesma alegria»
Ora também por isso é que custa perceber que motivações podem ainda guiar Manuel José para outras conquistas nos egípcios do Al-Ahly. O treinador português já ganhou três Ligas dos Campeões Africanos, duas Supertaças Africanas e já conseguiu até fazê-lo em condições muito difíceis. Manuel José corrige as dúvidas e garante que há sempre motivação. «Um treinador de clube grande é obrigado a ganhar todos os dias», responde. «Não estou cansado do sucesso nem vou deixar que os meus jogadores se cansem do sucesso. Para mim o futebol é uma paixão. Tenho 60 anos e levanto-me todos os dias às sete da manhã com a mesma alegria para ir treinar. Passado uma hora já estou no estádio a brincar com os jogadores. Por isso enquanto este prazer existir vou continuar a sentir-me sempre motivado».
«Não vou deixar um clube que luta por títulos para ir para Portugal lutar por nada»
Por isso e porque Manuel José continua a querer sempre mais para a sua carreira. «Sei que se não ganhar num clube como Al-Ahly, vou ser despedido. Eu não só não quero ser despedido, como quero continuar a ter convites de clubes com grandes dimensões». É nesta altura que se introduz na conversa Portugal. Estará Portugal no horizonte do treinador para um futuro próximo? «Não sei, ainda», responde. «Portugal está sempre no meu horizonte, mas não vou deixar de lutar por título no Al-Ahly para ir para um clube do futebol português que luta por nada. Até posso parar quatro ou cinco meses, porque há quatro anos que não vivo, só trabalho, e tenho saudades da minha mulher, da minha família, dos meus amigos. Mas se voltar, ou é para lutar por alguma coisa ou é para descansar. Não vou para jogar por nada».