22 de maio de 2005.

Fez na semana passada exatamente 18 anos que o Benfica foi campeão, numa corrida pelo título também decidida na última jornada. A formação de Geovanni Trapattoni entrou no jogo decisivo na liderança e com três pontos de vantagem sobre o FC Porto, pelo que um empate no Bessa, frente ao Boavista, seria suficiente para libertar a festa presa no peito.

Ora por isso, quando Simão abriu o marcador, aos 38 minutos, de penálti, começou a euforia encarnada, que perdeu fulgor no instante em que Éder Gaúcho empatou para o Boavista.

Ali a poucos quilómetros, no Estádio do Bessa, o FC Porto recebia a Académica e adiantou-se no marcador por Ibson, à passagem da hora de jogo, o que deixou o título do Benfica preso por um golo do Boavista. Até ao fim do jogo foi um sofrimento enorme, que só terminou aos 89 minutos: nessa altura, Joeano empatou para a Académica e deu início à festa encarnada.

Ao fim de onze anos de jejum, com muitos momentos baixos como o 7-0 em Vigo, o 0-5 em casa com o FC Porto ou a presidência de Vale e Azevedo, o Benfica voltava a ser campeão.

O país saiu à rua. Literalmente. De norte a sul de Portugal continental, na Madeira, nos Açores e até em centros internacionais com forte presença de emigrantes, como Paris, por exemplo, a noite pintou-se de vermelho, numa festa enorme e sem hora para acabar.

A festa começou logo no Porto, com os benfiquistas do norte, num grande cortejo pela VCI, Castelo do Queijo e Circunvalação, até ao Aeroporto Sá Carneiro, que chegou a encher-se com centenas de adeptos. Mais tarde, a polícia acabou por esvaziá-lo para a equipa.

Na viagem para Lisboa, a TVI foi a única televisão que teve acesso ao avião e registou as imagens da festa privada dos jogadores. Mantorras andou de microfone na mão, a fazer de repórter, enquanto entrevistava um Trapattoni que não percebia nada do que ele dizia, antes da esposa de Luís Filipe Vieira confessar que o coração bateu tão forte que se sentiu obrigada a refugiar-se na casa de banho do Estádio do Bessa para aguentar a emoção.

Enquanto isso, o Estádio da Luz cobriu-se com 50 mil adeptos, que esperaram até às duas da manhã para fazer a festa com os jogadores.

A equipa seguiu do aeroporto num autocarro descapotável para o Estádio da Luz: um autocarro, refira-se, que calculou mal as medidas e obrigou a comitiva a fazer algum contorcionismo para não levar com a placa a indicar a direção para o Hospital Santa Maria na cara. É certo que pelo menos ficava a caminho das urgências, mas era chato perder a festa.

No Estádio da Luz, foi a loucura, claro. Até que os adeptos perderam a paciência, invadiram o relvado e os festejos tiveram de acabar mais cedo. Da pior forma possível, aliás.

O que é normal: ao fim de onze anos, muitos jovens já não sabiam festejar...

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