Um pequeno toque no ombro. Carlos Manuel, então capitão do Sporting, falava às rádios no acesso ao túnel do Estádio de Alvalade sobre o empate sem golos frente ao Nápoles, em 1989, a contar para a Taça UEFA, quando Maradona se lhe dirige.

«Carlos, dás-me a tua camisola?», perguntou o D10S com o jersey 16 na mão, provavelmente a mesma que três anos antes afastou a Inglaterra do Mundial.

Carlos Manuel achou «estranho», até para si, que nunca teve o hábito de trocar camisolas. Mas era Maradona. «Os meus amigos pediam-me sempre a camisola de onde jogava e, por isso, nunca trocava. Mas o Maradona queria trocar a camisola. Ele só devia fazê-lo com capitães e eu era capitão do Sporting, só por isso, penso eu. Mas deve ser inédito ter uma camisola 16 do Maradona, porque ele não foi titular e, antigamente, os números eram fixos daquela maneira. É a única camisola que tenho», recordou Carlos Manuel ao Maisfutebol.

Não era a primeira vez que defrontava Maradona - foi em 1981, em Buenos Aires, num particular do Benfica com a selecção argentina -, já lá iremos, mas era a primeira vez que muitos adeptos tinham o privilégio de ver Maradona ao vivo. Carlos Manuel lembra-se de um Alvalade cheio¿ de curiosos.

«Possivelmente, as pessoas até tinham ido ao estádio para ver o Maradona. Mas o futebol tem coisas interessantes. Imagine que ia ver o Pavarotti cantar e quando ele entrava em cena o assobiava. Não é normal! Quando o Maradona entrou houve um coro de assobios», contou.

Mas também houve «muitas palmas». Os adeptos renderam-se à simplicidade de Maradona quando, já durante o jogo, realizava o aquecimento com um... apanha-bolas.

Na segunda volta haveria mais Maradona para deslumbrar a comitiva portuguesa. Depois do toque no ombro, o toque na porta.

«Em Nápoles, estávamos na cabina quando me chamaram lá fora. Era o Maradona a perguntar se precisávamos de alguma coisa, se estava tudo bem. Ele, como capitão do Nápoles, não tinha necessidade de ir ter connosco», disse Carlos Manuel.

Mas foi ao serviço do Benfica que Carlos Manuel conheceu El Pibe. «Num jogo particular com a selecção argentina, em Buenos Aires, de preparação para o Mundial-1982, o antigo médio português nem precisou tirar as medidas ao jovem avançado, então com 20 anos, para saber o que o esperava em campo. «Estive algum tempo a falar com o Ardiles [antigo médio argentino, vencedor do Mundial 78] e ele dizia já o melhor sobre Maradona. Não era normal naquela altura.»

«Devia ter tirado uma foto com ele», lamentou Domingos

Se pudesse voltar atrás, Domingos tinha tirado uma foto com Maradona. «Devia tê-lo feito, mas não o fiz», contou ao Maisfutebol. Não o fez, mas também ninguém lhe tira as memórias de um dia único para si e para o F.C. Porto. Em Sevilha, o agora técnico do Sp. Braga realizou o sonho de qualificar a sua equipa para a Liga dos Campeões no mesmo campo onde anos antes realizou o sonho de defrontar Maradona. Um jogo de despedida do argentino, onde o Dragão foi convidado.

«Na altura até apareci numa foto, numa disputa de bola com ele! E guardei o jornal. Era um sonho para qualquer jogador poder defrontar o melhor do mundo e toda a gente viveu aquele jogo de forma diferente. Foi um dia muito especial para muitos jogadores do F.C. Porto», recordou.

Domingos não falou com Maradona, mas admirou-o. Naquele dia e nos seguintes. Pelo melhor e pelo pior. «Mais tarde fui para Tenerife onde encontrei o guarda-redes que jogava no Sevilha de então, o espanhol Juan Carlos Unzué. E falámos desse jogo e do homem e do colega de balneário que Maradona era. Contou-me coisas muito boas. Que era muito integrado no grupo, muito colega de equipa, não era vedeta, era amigo do amigo», contou, orgulhoso.

Para Domingos, «Maradona teria sempre de existir». E porquê? «Porque é o melhor do mundo, é o expoente máximo do futebol. É um exemplo para todos, por tudo o que fez de diferente.»