Falar com Mario Kempes sobre Maradona é tocar-lhe no coração: Kempes conversa sem parar. «Vou contar-lhe uma história», diz ao Maisfutebol. «Quando assinei pelo River Plate, o Maradona tinha acabado de chegar ao Boca Juniors. Eu vinha do Valência, de Espanha, e ele vinha do Argentino Juniors.»

Estava-se em 1981. «Poucos dias depois de assinar, recebi uma chamada: Maradona queria convidar-me para ir almoçar a casa dele e para levar toda a minha família. Fez um grande banquete, onde também estava o Jorge Cysterpiller, que na altura era agente dele, para me dar as boas-vindas ao rival do Boca Juniors.»

O gesto tocou Mario Kempes. Ele que tinha sido o dez no Mundial de 1978, o tal Mundial em que Menotti ignorou o talento de Maradona. «É uma grande pessoa, muito amigo. Comemos, rimos, passámos um bom tempo e no final tirámos uma foto, eu com a camisola dez do River e ele com a camisola dez do Boca.»

Por essa altura Maradona já tinha ultrapassado a frustração de não ser chamado para jogar o Mundial 78. A Argentina organizava o Campeonato do Mundo, El Pibe já era uma estrela no Argentino Juniors e estava pré-convocado: na recta final, César Luis Menotti acabou por riscá-lo para grande desilusão do país.

O tempo viria a dar razão a Menotti: a Argentina foi campeã do mundo e Mario Kempes (que vestiu a tal dez que todos queriam nas costas de Maradona) foi eleito goleador e melhor jogador da prova. «A camisola dez foi uma casualidade. Os números eram distribuídos por ordem alfabética e calhou-me a mim.»

«No Mundial de 82, por exemplo, calhou ao Patrício Hernández ficar com a dez, mas ele deu-a a Maradona e eu não fiquei chateado.» Quatro anos antes, é um facto, Diego ficara chateado com a ausência do Mundial. Ele e todos os argentinos. «Comigo não teve qualquer atitude incorrecta. Nem nunca me disse nada.»

O treinador Juan Carlos Montes, do Argentino Juniors, diz que Diego Maradona acabou por perceber a decisão de Menotti. «Ele era muito novo. Já tinha feito alguns jogos pela selecção e estava a iniciar uma grande carreira, mas o seleccionador tinha uma equipa formada e não quis mexer nela. Fez sentido.»

Maradona manteve sempre, de resto, um grande respeito por Kempes. «Trata-me por mestre», conta o herói de 78. «Acho que é porque quando ele surgiu eu já era um goleador. É por uma questão de respeito, mas para mim é sobretudo um grande orgulho que o melhor do mundo me trate por mestre.»

Veja como foi a final do Mundial 78: