Por vezes, é necessário um reset que apague erros antigos e permita um recomeço em grande. Este foi o pensamento que trouxe Maradona de volta à Argentina. Depois da polémica saída do Nápoles e de uma fugaz passagem pelo Sevilha, o regresso a casa.

«Ele tinha de regressar, não tinha mais nada a fazer na Europa». A declaração é de Ricardo Giusti, companheiro de Maradona nos Mundiais de 1986 e 1990, um dos «carregadores de piano» da equipa que conquistou o mundo no México.

Quando atendeu o telefonema do Maisfutebol, não escondeu o espanto: «Porque me estão a escolher a mim para falar do Maradona? Há tanta gente mais importante». A frase não encontra base num ponto: o regresso de Maradona à Argentina, em 1993, para jogar no Newells. Aí, poucos terão tanta importância como Ricardo Giusti.

Ainda muito próximo de «El Pibe, mas já retirado na altura, Giusti não pensou duas vezes em aconselhar a contratação à equipa onde iniciou a carreira, apesar de todas as polémicas em que «El Pibe» estava envolvido. «Sabia que ele não estava no seu momento mais alto, mas eu tinha confiança que ele ia voltar a ser o grande Maradona se voltasse a jogar na Argentina. Mas o Newells nem precisava do Maradona de 86, metade já era bom», atira.

Trinta mil a ver um treino

A ideia não colheu unanimidade. «Havia algumas pessoas que eram contra, que diziam que ele já estava acabado», conta. Mas Giusti estava plenamente convicto da aposta e pressionou o Newells a entrar na corrida, quando se dizia que o destino de Maradona poderia ser o Argentino Juniors.

«O ambiente cá ia protegê-lo de tudo. E tinha cá a filha também, tinha tudo para ser uma boa aposta, como é óbvio. Quando se joga num sítio onde somos queridos, conseguimos dar dez vezes mais. Depois do Mundial de 90 a força dele na Europa tinha vindo a diminuir e ele ainda queria fazer mais um Mundial com a Argentina», revela.

A 13 de Setembro de 1993, 30 mil pessoas juntaram-se para ver o primeiro treino de Maradona no regresso a «casa». Nunca tanta gente tinha visto um treino do Newells. Mas o regresso seria infeliz. Uma sucessão de lesões e a incompatibilidade com o técnico Jorge Castelli precipitaram o fim, cinco jogos depois e sem qualquer golo marcado.

«Com os jogadores não se passou nada. Já no meu tempo não havia nada a apontar-lhe como companheiro e acho que ninguém tem. Quando voltou à Argentina, nos treinos era mais um, apenas. Trabalhava como todos e não tirava proveito de nada por ser o Maradona», assegurou Giusti.

E a despedida, precisamente há 13 anos

Maradona haveria de conseguir marcar presença (e criar polémica) no Mundial dos EUA e ainda regressaria ao «seu» Boca Juniors. Mas os excessos fora de campo, a idade e a pressão tinham deixado marcas. Ver Maradona jogar começava a ser um exercício de memória, tentando lembrar o génio que já não era tão brilhante.

A 25 de Outubro de 1997, num «clássico» com o River Plate, as coisas começam por correr mal. Maradona perdia por 0-1 e saiu para dar o lugar ao jovem Riquelme. O Boca deu a volta, venceu por 2-1 e, cinco dias mais tarde, no seu 37º aniversário, anunciou a retirada. Começou aí a interminável demanda argentina por uma nova referência. Um novo Deus.

Ricardo Giusti confessa nunca se ter arrependido da sugestão que fez ao Newells. Embora a relação com Maradona não seja a mesma: «Tenho as melhores recordações dele como jogador. Éramos companheiros. A palavra amigo é muito profunda. Partilhámos muitas coisas, mas a vida foi-nos separando. Eu segui o meu caminho e ele seguiu adiante na sua luta de crescer como treinador.»

O primeiro treino e jogo pelo Newells