Principal arguido no processo do atropelamento mortal do adepto italiano Marco Ficini junto ao Estádio da Luz, em 2017, Luís Pina afirmou em tribunal que ficou «em pânico», depois de ter sido atacado e ficado com os vidros do carro partidos.

«Só me apercebi que estava muita gente já na rotunda. Foi lá que apareceram à frente do carro, tentei assustá-los, guinei, mas numa questão de segundos aconteceu a fatalidade», explicou Luís Pina, de acordo com a Lusa. O arguido testemunhou que o seu carro fora atacado com pedras e barras de ferro, pelo que só tinha visibilidade se estivesse «inclinado para o lado direito, por cima das mudanças».

A acusação diz que durante os confrontos e perseguições entre adeptos do Sporting e do Benfica junto ao estádi oda Luz, Luís Pina atropelou mortalmente Ficini, «arrastando o corpo por 15 metros». Parou o carro «depois de ter passado completamente por cima do corpo da vítima» e, diz o Ministério Público, abandonou o local «sem prestar qualquer auxílio» à vítima.

Luís Pina argumentou que teve de deixar o carro no meio da confusão, perto da rotunda, porque o estavam a atacar e «teve medo». Acrescentou que quando fugiu na direção da ‘casinha’ dos bilhetes do Benfica, alguém o perseguiu, mas, pouco depois, essa pessoa desistiu: «Eu também corri depois, mas na direção do meu carro, queria sair dali, tirar o meu carro da confusão. Entrei no carro, no momento em que acelerei sinto que passei em cima de alguma coisa – fez tumtumtum - e bato num carro cinzento que ia à minha frente. Foi uma questão de segundos. Para mim só tinha batido no carro. Parei mais para cima e saí do carro, vi um indivíduo a dizer que achava que eu tinha feito asneira e para desaparecer dali. Fiquei em pânico.»

Escreve a agência de notícias que Luís Pina disse em tribunal que só soube que tinha passado por cima de uma pessoa de manhã, pelas notícias, depois de ter passado a noite no sofá. E quando foi questionado sobre o que era estar em pânico pelos juízes, respondeu estar «super assustado».

A procuradora do Ministério Público questionou ainda o arguido sobre a carrinha em que terá batido e se, na altura em que esta se encontrava à sua frente, viu alguma porta a abrir-se ou alguém a correr na sua direção. «Só senti o impacto e o estrondo», respondeu Pina.

Consultor técnico e testemunha da defesa, Rui Silva foi ouvido de novo pelo coletivo de juízes depois de analisar as imagens apresentadas na última sessão.

O perito disse em tribunal que as imagens «corroboram tudo aquilo que disse anteriormente» e afastou a hipótese de o primeiro embate em Ficini ter sido provocado pela carrinha que seguia à frente do carro de Luís Pina.

O Ministério Público acusou, em outubro de 2017, 22 arguidos (10 adeptos do Benfica com ligações aos ‘No Name Boys’ e 12 adeptos do Sporting da claque ‘Juventude Leonina’) do atropelamento mortal de Ficini.

Luís Pina está acusado do homicídio de Marco Ficini e de outros quatro homicídios, na forma tentada.

Em 16 de abril de 2018, o Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa decidiu levar a julgamento Luís Pina pelo homicídio do italiano.