O Maisfutebol desafiou os treinadores portugueses que trabalham no estrangeiro, em vários pontos do planeta, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:

Leia a apresentação de Marco Leite

MARCO LEITE, AEL LIMASSOL (CHIPRE)

«Chipre, o que eu não conhecia.

Interessante país! Reconheço que pouca importância dava quando ouvia falar do Chipre. Pensava eu para os meus botões: um destino de praia, com alguns conflitos políticos. Nada mais que isso. Bastante enganado eu estava!

Esta ilha, situada no mar Mediterrâneo oriental a sul da Turquia, com os Libaneses e os Sírios a leste, tem muito para nos dar. Existem, de facto, conflitos políticos e bem acessos, sendo a presença da ONU constante.

As tropas movimentam-se de uma forma frenética e atribulada, como de um cenário de guerra se tratasse. Nicósia, a capital, está divida em duas partes por um muro supervisionado pelas forças das Nações Unidas, um pouco a fazer lembrar Berlim antiga.

A turca, com um aspeto mais degradado e velho, boa para fazer compras; a cipriota mais moderna e mais cara, bem mais cara! A tensão que se vive neste posto fronteiriço respira-se e é bem latente.

Longe deste cenário de guerra (fria), caracterizado por uma espécie de disputa estratégica e conflitos indiretos, sem confrontos bélicos ou guerra declarada, encontra-se a azáfama e rebuliço de um destino quente de praia fabuloso.

Dentro desta pequena ilha conseguimos ter inúmeras escolhas, como praias mais ou menos concorridas. Com mais russos ou menos ingleses. Com areia branca, preta, fina ou grossa. Com água quente, sempre quente, mais ou menos translúcida. Enfim, temos muito por onde escolher.

Em Ayia Napa, a Ibiza do Chipre, a 70 kms de Limassol, encontramos uma praia paradisíaca a fazer lembrar as Caraíbas, assim ao jeito de uma Cuba ou República Dominicana.

De areia fina, com uma água quente e cristalina, onde no pico do verão as mais belas russas e inglesas desfilam alegre e elegantemente na areia quente. Mas não ficamos por aqui.

Neve. Leram bem meus amigos. Neve na cordilheira de Troodos, que se estende no lado ocidental da ilha. Aqui proliferam mosteiros e igrejas bizantinas que se espalham por bonitas aldeias, que se encrostam por estas belas montanhas, de uma forma aparentemente aleatória.

Durante o período bizantino estas foram aqui construídas para estarem a salvo de uma costa ameaçada. A neve no Monte Olimpo (pico mais alto com 1.920 m) é outra atração que não conhecia.

Com uma pequena mas bem organizada estância de SKI, com quatro pistas, a neve abunda e é de boa qualidade. Das várias tardes que lá passei a fazer snowboard, destaco uma que foi particularmente engraçada para mim, mas entediante e gelada para os ¿três mosqueteiros¿ que comigo estão nesta aventura.

Comprei o forfait, aluguei o material e estava pronto para descer as pistas do Olimpo. A malta acomodou-se num daqueles bares com bom aspeto que existem no final das pistas, com refeições quentes, chocolate quente, etc.

E eu descia, e descia e voltava a descer e a malta a arrefecer, ou a aquecer a poder de chocolate, as caras a ficarem cada vez mais roxas com o frio... e eu descia, o pingo no nariz escorria com bom fluxo, eu descia, as horas passavam e eles mais roxos e gélidos ficavam... e eu descia!

Nisto: «Marco, vamos embora»! Mas a pica era muita e lá fui mais uma vez, descer. «Pessoal, é só mais uma, prometo!!». Quando cheguei cá em baixo, também um pouco gelado confesso, nem carro, nem mosqueteiros, NADA!

Deixaram-me... e com razão! Táxi até Limassol. Mas ainda assim, a tempo de tomar um bom banho de mar. Revigorante! Quanto mais conheço este país que desconhecia, mais gosto dele».