O Maisfutebol desafiou os jogadores e treinadores portugueses que atuam no estrangeiro, em vários cantos do mundo, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:

MARCO LEITE, ADJUNTO DE JORGE COSTA NO ANORTHOSIS (CHIPRE) 

«De volta a Chipre, mas desta vez para outra música.

Sete da tarde de sexta-feira, o telefone toca, dois dias depois do fim de umas magníficas e merecidas férias com a família. Havia uns anos que não o fazia. Com a pressa do costume e bem ao seu jeito, o chefe liga, 'faz a mala que amanhã às sete da manhã temos avião'. Como!? Para onde? Retorqui. 'Para o Chipre'. Para onde!? Telefone desligado. E agora…como é que vou dizer aos filhos e mulher, que vou para terras cipriotas outra vez (tinha estado no AEL Limassol na época passada). E amanhã já! Foi com certeza uma das noites mais difíceis e stressantes que passei.

Chegámos a Chipre, mais propriamente a Larnaca. Fomos recebidos no aeroporto pelo Big Boss, o maestro da companhia (ndr. o máximo responsável pelo Anorthosis Famagusta). Estranho, pensei eu. Durante a curta viagem, pôs-nos ao corrente de tudo o que se passava. Como estava a equipa, a saúde financeira do clube, a qualidade ou não de este ou aquele jogador, a estrutura, a grandeza do clube, a importância da sua história, a crença na equipa para a nova época (a audiência não acredita na banda).

Enfim, fez um resumo direto e honesto, de tudo o que se passava. Mais tarde depois de uma conversa com o Jorge, percebemos que, enquanto o maestro dirigia, ambos pensamos que tudo isto suava de outra maneira. O som propagava-se de forma diferente, a acústica era outra. E não nos enganámos.

O clube é realmente grande em todos os aspetos. Soa a orquestra bem afinada. Os violinos brilham de fundo, os sopros entram no seu tempo, as madeiras e os metais. Quando se necessita, a percussão bate forte mas ritmada, marcando o caminho. O Maestro, esse, move-se freneticamente, gesticulando furiosamente, para que nada falhe.

Aqui, é tudo para ontem. Nada é deixado ao acaso. Tudo é bem pensado e feito no devido tempo. Os ensaios são metódicos e regulares. Cada pessoa é de facto responsável pela sua área, não imputa em ninguém. Responsabiliza-se antes, e leva de facto o seu 'instrumento' bem afinado. É fantástico. Tudo é posto à nossa disposição, para que possamos acompanhar sem dificuldade estes músicos.

A banda era diferente. Estava algo desafinada, mas com vontade de tocar bem. Ora tocava a percussão, ora tocavam as cordas, com os violinos a destacarem-se. As teclas, essas iam tocando, mas murchas. Ainda não se conseguiam equilibrar.

Os ensaios desta banda andavam pouco regulares e eram tocados com pouca paixão. O novo chefe de banda veio sem dúvida trazer paixão, intensidade e dinâmica aos ensaios. As competições, essas, passaram a ser muito melhores, mais afinadas e organizadas.
A audiência passou a acreditar na banda, pois a música passou a ser outra.

A música está de parabéns, viva o futebol.

Até breve!»