Em março do próximo ano, Sara Mota Carmo e Matilde Pinheiro de Melo vão competir no Troféu Princesa Sofia com o objetivo de conseguirem para a vela portuguesa a vaga europeia de apuramento para os Jogos Olímpicos na classe 470.

Esta será a última hipótese para as velejadoras portuguesas conseguirem uma passagem para as Olimpíadas Rio 2016, pois é a derradeira etapa da qualificação europeia. Sara Carmo refere que, nesta altura, já há 13 países qualificados e que, com uma vaga reservada para o Brasil como país organizador, estão seis lugares em aberto para completar a lista de 20 países que estarão nos Jogos.

A última qualificação continental das Américas, por exemplo, decorrerá em janeiro, em Miami. «Nós vamos competir pela vaga do país europeu» na regata do Troféu Princesa Sofia, explica Sara Carmo perspetivando um bom resultado numa prova que deverá ter cerca de 40 participantes na classe 470 Women.

«Julgo que conseguimos assegurar um lugar entre as 15 primeiras, que conseguimos garantir uma vaga contabilizando o número de países europeus [presentes] e aqueles que ainda não estão qualificados», afirma à MF Total a velejadora que está ao leme nesta embarcação de dois tripulantes – Matilde Pinheiro de Melo está na proa do 470.



Sara Carmo tem 29 anos e é arquiteta. Em Londres 2012 teve o ponto mais alto de uma carreira com vários títulos nacionais. A velejadora portuguesa estreou-se nuns Jogos Olímpicos com o 28º lugar na classe laser radial. Depois de «fazer um percurso individual no laser, com a experiência em Londres, de viver o ambiente dos Jogos», segue-se agora para Sara «ambicionar um lugar melhor».

A aposta passou a ser no 470, uma embarcação dupla. «A mudança foi em 2013, quando terminei o curso.» Porquê? «Em termos físicos, de estrutura física, as outras atletas eram mais capazes, tinham mais peso. A mim custava-me atingir esse peso, elas tinham mais vantagem», explica a velejadora do Clube Naval de Cascais concretizando que o objetivo foi «passar para um barco duplo em que as falhas físicas fossem menos notadas, aliar a experiência da vela a um barco que pudesse colmatar o défice físico».

«O barco duplo tem outros desafios que não tem um barco individual e é com esses que tenho vindo a deparar-me». Além daqueles, há os desafios conjunturais, como os apoios, sempre «muito difíceis». «Os apoios do clube têm sido muito condicionados e, fazendo par com outra atleta que é não do meu clube, não tem sido nada fácil, nem arranjar patrocínios.» Matilde Pinheiro de Melo é velejadora do Ginásio Clube Naval de Faro.

Esta é agora «uma altura crítica com o apuramento para os Jogos com um nível mais elevado» e a preparação para o Troféu Princesa Sofia inclui «fazer um estágio de três meses em full time» em Palma da Maiorca, no local da regata de março. A arquitetura, tão necessária à estabilidade económica da cidadã tem se ser sacrificada em favor da atleta olímpica.



«Tenho tido algumas experiências na arquitetura desde que acabei o curso em 2013, sempre a tentar conciliar a vela com a carreira profissional. Mas chegamos a um ponto em que a disponibilidade que há no nosso país para nos dedicarmos ao desporto não tem uma estrutura sólida», explica Sara Carmo revelando como os pratos da balança têm pesado: «Tem-me levado a optar um bocado mais pela área da arquitetura onde tenho conseguido alguma estabilidade económica.»

«No início», Sara «ainda trabalhava a tempo inteiro deixando para segundo plano os treinos». «Agora inverti, com a arquitetura em part time e dedicando-me mais aos treinos. É tentar conciliar e definir prioridades» de acordo com o calendário desportivo, pois está-se no final do ciclo olímpico com uma última prova de qualificação para os Jogos.

A velejadora de Cascais «até há uns meses trabalhava das nove à uma e das duas às sete treinava». Num plano «de 2ª a 6ª feira». Os fins de semana era para provas, ou para descansar ou para preparar o barco. Com o Rio na mente, o trabalho de arquiteta tem de ser sacrificado em favor do projeto olímpico: «Estou a trabalhar só num registo pontual e a dedicar-me mais à vela.»