São a maior manifestação desportiva do planeta. Os Jogos Olímpicos são o palco da consagração-mor de um atleta na maioria das modalidades. Mas são também um cenário especial para o ponto final de uma carreira que elevou esse espírito competitivo até ao Olimpo.

Os Jogos Olímpicos Rio 2016 não serão diferentes nesse plano. Os ciclos olímpicos marcam e mostram o aparecimento de grandes atletas – a espaços, os maiores que alguma vez se viu – ao mesmo tempo que assinalam, também muitas vezes, o ocaso (involuntário) ou o adeus com a maior e a mais merecida pompa.

Assim já estão marcadas algumas dessas despedidas. Ainda não há menos de duas semanas, Mikola Milchev anunciou que vai retirar-se depois dos Jogos do Rio. O atirador de 48 anos fez a revelação depois de ter ganho a medalha de ouro da Taça do Mundo de caçadeira da Federação Internacional de Tiro Desportivo.

«Estas vão ser as minhas últimas Olimpíadas. Retiro-me no Rio», assegurou o ucraniano que se estreou nos Jogos em 2000 tendo ganho a medalha de ouro em Sidney. Mikola Milchev participou também nos Jogos de 2004, em Atenas, e 2008, em Pequim, tendo estado ausente em Londres 2012.

Para o Rio 2016, está qualificado desde os Europeus de 2015. «O desporto tem vindo a mudar muito nos últimos 16 anos, desde Sidney 2000. Mas os Jogos Olímpicos são sempre únicos e eu ainda estou motivado como se fosse a minha primeira participação. Tenho trabalhado muito para melhorar os meus resultados e para chegar preparado ao Rio. Estou ansioso», garantiu o atirador ucraniano nascido em 1967.

Mikola Milchev

Com o nome já inscrito no álbum dos recordes mundiais e olímpicos entre o palmarés, Milchev fecha o seu ciclo com a forma perfeita da despedida nas Olimpíadas. A nadadora Rachel Bootsma também pretende fazê-lo dessa forma circular para seguir noutra direcção quando tem menos de metade da idade do atirador ucraniano.

A nadadora norte-americana da Califórnia anunciou há pouco mais de uma semana que vai terminar a carreira no final do próximo verão. O seu objectivo último anunciado no plano desportivo é estar no Rio de Janeiro em agosto. E decidiu mudar de direcção aos 22 anos. «Depois do verão, a natação irá chegar ao fim. Vou atrás de um novo capítulo», assumiu.

Bootsma ainda tem de fazer as qualificações para integrar a equipa de natação dos Estados Unidos, em junho. Se o conseguir estará nas segundas Olimpíadas consecutivas – e últimas. Em Londres 2012, com 18 anos, ganhou a medalha de ouro fazendo parte da equipa norte-americana nos 400 metros estilos por estafetas. A sua especialidade é o estilo de costas tendo sido a 11ª melhor em Londres individualmente. Dirá adeus ainda como nadadora universitária com vários títulos e recordes nacionais e internacionais.

No ponto oposto da longevidade competitiva está Bernard Lagat; cidadão e atleta dos Estados Unidos, mas nascido no Quénia, país que também representou. O abandono por completo não está em causa. Mas, da mesma forma, o adeus à alta roda sim. «Depois do verão de 2016 não penso retirar-me, mas a minha carreira em pista terminará por completo», afirmou Lagat ao site da IAAF.

«Tenho de ser honesto comigo. Estarei perto de fazer 42 anos nessa altura e ficarei feliz por correr», explicou o antigo meio-fundista actualmente já fundista. Em Sidney 2000, Lagat ganhou o bronze nos 1.500 metros e, em Atenas 2004, levou a prata na distância, ainda quando corria pelo Quénia. Em Pequim 2008, foi nono nos 5.000 metros e, em Londres 2012, ficou em quarto também nos 5.000, já com as cores dos EUA. «Esta será a minha quinta e também a minha última» Olimpíada, garantiu o norte-americano.

Bernard Lagat

Bernard Lagat esteve em dezena e meia de grandes competições tendo-se sagrado campeão do mundo quer nos 1.500, quer nos 3.000 quer nos 5.000 metros. Em 2015 falhou pela primeira vez uma competição de relevo não conseguindo qualificar-se para os Mundiais de Pequim. Neste mês também não esteve nos Mundiais de pista coberta, em Portland. Mas a saída em beleza está mesmo ali ao lado, mais de dezena a meia de medalhas depois.

«Ia retirar-me no final de 2015, mas algo dentro de mim dizia-me Porquê retirar-me um ano antes dos Jogos Olímpicos? Ainda podes fazer isto» confessou o corredor sabendo que já não é o favorito de outros tempos e que vai ter de correr ainda muito: «Vou às qualificações dos Estados Unidos para fazer o meu melhor para entrar na equipa. Mas não é um dado adquirido.»

Lagat já tem planos para o que falta dia sua corrida e vai passar para a estrada. «Ainda quero ser competitivo, mas quero também divertir-me», assumiu já com um dos pés na maratona: «Isso não vai ser competitivo, não vou fazê-lo pelo dinheiro, mas é apenas para dizer que corri uma maratona.»

Sem se saber se ainda continuará a competir na pista de atletismo depois dos Jogos Rio 2016, se embarcará noutra aventura, como reafirmou na entrevista que deu ao Maisfutebol há poucos meses, Usain Bolt voltou a fazer mais uma declaração que põe em suspenso qualquer seguidor do desporto. O maior velocista de sempre assumiu que fará no Rio 2016 a sua despedida olímpica.

«Serão seguramente as minhas últimas Olimpíadas» garantiu o jamaicano à agência Sports-Information Dienst: «Será duro continuar mais quatro anos, manter a motivação que quero, especialmente se atingir no Rio o que pretendo.» E todos sabem o que ele pretende. Depois das duas triplas de medalhas, em Pequim 2008 e em Londres 2012, Bolt quer repetir no Brasil o ouro nos 100, 200 e estafeta dos 4x100 metros.

Usain Bolt

«O meu maior sonho nos Jogos Olímpicos é ganhar outra vez três medalhas de ouro», garante Bolt. O homem mais rápido de sempre recordista do mundo nos 100 e 200 metros tem seis medalhas de ouro olímpicas e 11 de campeão do mundo. O que pode levá-lo para lá das Olimpíadas para que o seu adeus não se faça já no Rio de Janeiro, ganhe ou não ganhe mais uma tripla?

«Adoraria ficar abaixo dos 19» segundos. Ai está, o recorde dos 200 metros: «É um dos meus objectivos. Sempre falei nisso e sempre o quis para mim. É algo que ambiciono», confessou Bolt nesta entrevista.

No último dia dos Jogos Olímpicos Rio 2016, Usain Bolt fará 30 anos. O que ele conseguir durante a competição ditará certamente a homenagem que lhe será prestada no Brasil; que tipo de despedida olímpica terá; a definição em relação ao adeus já em parte por si confirmado.

Michael Phelps contradisse as expectativas. E ele próprio, antes de mais. Aos 30 anos, saiu da reforma e vai estar no Brasil. O atleta com mais medalhas de sempre da história olímpica – 20 (18 de ouro, duas de prata e duas de bronze) – é o caso especial dos que já disseram adeus e que vão voltar a fazê-lo. E, dado o que já aconteceu, os Jogos Rio 2016 deverão ser o palco do adeus definitivo do nadador dos Estados Unidos.

«Em 2012, eu não tinha mais nada a ver com o desporto. Não sei o que queria fazer naquela altura, mas eu estava acabado. Não queria treinar mais», recordou já neste mês numa conferência de imprensa da equipa olímpica dos EUA. Os tempos da depressão já lá vão. Phelps voltou e está em forma. Agora, é nadar: «Se eu não ganhar qualquer medalha e tiver feito tudo que podia para preparar-me vou ficar feliz. Terei feito tudo que podia.»

Charlotte Dujardin e Valegro

Mesmo sem o dizer, prevê-se mais uma despedida, mais uma homenagem. A forma é o aliciante que permanece. Palco de atletas que vão para além do humanamente concebível, os Jogos Olímpicos são o cenário perfeito para fechar um ciclo. Para todos os que neles participam. E que não são só humanos, super ou não.

Valegro também fará a sua despedida nas Olimpíadas do próximo verão. Valegro é um cavalo. Com ele, a cavaleira Charlotte Dujardin ganhou as medalhas de ouro em dressage individual e por equipas com a Grã-Bretanha. Os cavalos também se despedem. «Valegro retira-se depois do Rio, por isso quero ir lá e desfrutar até ao último segundo», admitiu Dujardin à «BBC». No Rio 2016, defendem o ouro de há quatro anos. Para uma despedida em beleza.