A polémica no boxe mundial está aberta com a perspetiva de qualquer pugilista profissional poder estar presente nos Jogos Olímpicos Rio 2016. A proposta é da Associação Internacional de Boxe (AIBA). Uma das quatro principais confederações de pugilismo profissional já criticou ferozmente as intenções alertando sobre os perigos para a saúde dos atletas.

A proposta poderá tornar-se real no próximo mês de maio quando decorrer o congresso extraordinário da AIBA em que os atuais estatutos deverão ser reformulados (por via de emendas). Esta proposta decorre na sua formalidade pela adoção pelo COI da Agenda 2020 cuja recomendação 9 visa «garantir a participação dos melhores atletas».

O presidente da AIBA considera esta mudança a fazer «um passo verdadeiramente importante para o boxe olímpico», pois Ching-Kuo Wu conclui que «vai ter um grande impacto nas Olimpíadas se os grandes nomes aparecerem». Esta situação permitirá, em teoria, que os maiores combates de boxe do milionário circuito profissional possam repetir-se em ambiente olímpico.

Combates híper-mediáticos como os que aconteceram no ano passando entre Floyd Mayweather Jr. e Manny Pacquiao ou entre Tyson Fury e Wladimir Klitschko poderão realizar-se no ringue olímpico do Rio 2016, não obstante as maiores ou menores probabilidades que um combate em particular tenha de acontecer. Dependerá, em primeira instância, de cada pugilista profissional decidir se quer ir aos Jogos e, depois, à sua federação nacional escolher os que representarão o país nas Olimpíadas.

«As federações nacionais terão mais poder e responsabilidade», defende Wu destacando que «qualquer atleta que queira ir aos Jogos Olímpicos tem de ir aos torneios de qualificação aprovados pelo COI». À espera da reformulação dos estatutos da AIBA em maio próximo, o que já parece quase certo é que os atuais profissionais só deverão ter uma prova de qualificação disponível: a Qualificação Olímpica da AIBA, entre 14 e 26 de junho, em Baku, no Azerbaijão.

Mas, antes, é preciso que os próprios pugilistas em plena carreira profissional com combates agendados com meses de antecedência, queiram ir aos Jogos. Mayweather, por exemplo no seu caso pessoal, já se retirou. Será que um desejo insaciável de poder ganhar o ouro olímpico que não obteve em Atlanta 1996 – ficou-se pelo bronze – poderá levá-lo a querer fazer mais um regresso?

E, depois, é preciso que as federações nacionais queiram levar estes pugilistas veteranos – por melhores que seja – em desfavor dos atletas mais jovens cujo desenvolvimento na esfera do amadorismo é o que faz evoluir a modalidade com o aparecimento de mais lutadores dentro de programas desportivos como é o caso olímpico...

As opiniões entre vários pugilistas que se seguiram a este anúncio da AIBA – num recente encontro no final deste mês em Inglaterra – dividem-se, por exemplo, entre os que consideram «injusto» terem abdicado do profissionalismo para se manterem no trilho (amador) do ouro olímpico e os que irão aproveitar a segunda oportunidade da glória olímpica já depois de terem seguido para o profissionalismo tout court.

O esbatimento entre amador e profissional, entretanto, tem sido uma das diretrizes da atual presidência da AIBA. Wu foi eleito em 2006 e, apesar de a Associação Internacional de Boxe manter a quarta letra (o segundo «A») na sua sigla AIBA, o < i>Amador já desapareceu do nome oficial. Mas não só. A direção de Wu já retirou dos combates, por exemplo, a camisola e as proteções para a cabeça.

Em 2013 forma introduzidas regras que permitem a pugilistas profissionais iram aos Jogos Olímpicos desde que tenham menos de 15 combates pagos e que assinem um contrato de curto-prazo (cinco anos) com o ramo profissional da AIBA (APB). A par da maioria dos combates (do circuito vulgo amador) da AIBA Open Boxing, a federação internacional instituiu mais duas competições: a World Series of Boxing (competição semi-profissional de equipas) e AIBA Pro Boxing (a ABP – uma liga profissional).

O Conselho Mundial de Boxe (WBC, do inglês «World Boxing Council») – uma das quatro grande confederações da modalidade – já se manifestou contra a proposta de profissionais experientes nos Jogos Olímpicos incidindo a sua veemência nas consequências para os pugilistas ao nível da sua integridade física, entre outras acusações que vão até às dos interesses económicos.

«O boxe não pode ser considerado sem separar o boxe amador do profissional pelo mais básico princípio da segurança evitando tão perigosos encontros desiguais entre experientes pugilistas profissionais e pugilistas amadores», lê-se no comunicado onde a acusação de «tentar estabelecer um monopólio do boxe profissional» é feita à AIBA: «A prioridade da AIBA parecem ser os aspetos comerciais e empresariais do desporto. Os pugilistas são obrigados a assinar contratos comerciais com a AIBA e os seus filiados, o que coloca a AIBA numa inegável posição de conflito de interesses.»

Em resposta ao comunicado do WBC, a AIBA destacou a sua «procura contínua» no «desenvolvimento do boxe» e «agindo sempre nos interesses dos pugilistas», «cuja saúde é da maior importância» para a federação internacional. Realçando as relações com as federações nacionais e os comités olímpicos, a AIBA reforça os seus objetivos: «É de importância fundamental desenvolver para os nossos pugilistas uma via de carreira com oportunidades claras para treinarem e competirem no melhor ambiente e encorajá-los a procurarem oportunidades de relevo no âmbito das suas federações nacionais quando as suas carreiras terminarem.»