Os jogos de palavras servem para introduzir a personagem central deste artigo. Ela é Shelly-Ann Fraser-Pryce, a bicampeã olímpica em título dos 100 metros, atual tricampeã mundial da distância também. Onde é que já se ouviu algo deste género? Quando se fala no masculino e de Usain Bolt.

Na Jamaica, porém, não existe apenas o homem mais rápido do mundo; existe também a mulher mais rápida. E é ela a única que pode fazer o mesmo que se espera para ver se o humano mais veloz do planeta consegue: vencer a prova-rainha do atletismo olímpico pela terceira vez consecutiva.

Nunca antes alguém o conseguiu fazer. Nem homem nem mulher. Bolt é o mais forte candidato pelo currículo inigualável que tem nas provas de velocidade do atletismo. Independentemente do género. Mas Shelly-Ann também é candidata porque é a melhor da atualidade entre as mulheres. E é entre jamaicanos que se poderá ver esta «rivalidade» de não deixar de conseguir o que nunca foi conseguido.



Usain Bolt é o atleta mais rápido de sempre (com 9.58 segundos nos 100 metros), tem seis medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos e onze em Campeonatos do Mundo (e mais dois recordes mundiais). Shelly Ann-Fraser-Pryce não consegue ser igualmente eficaz nos 200 metros como é nos 100, nem a equipa feminina da Jamaica é tão forte na estafeta 4x100 como a masculina – onde fica explicada a diferença de títulos entre ambos.

Mas, no hectómetro, com exceção do(s) recorde(s) do mundo (sem influência nesta «rivalidade») e da fama do melhor de sempre, as «diferenças que contam» entre ambos são quase nenhumas. Bolt «que se cuide», pois há «mais alguém» que pode conseguir o que ele nunca conseguiu...

Este é um exercício que foi feito após as vitórias de ambos nos Mundiais 2013.



Shelly-Ann Fraser-Pryce tem 28 anos (faz 29 em Dezembro). Aos 21 anos tornou-se a primeira caribenha a ganhar os 100 metros nos Jogos Olímpicos (Pequim 2008). E a primeira jamaicana a ganhar uma medalha de ouro olímpica. Foi a terceira mulher a ganhar duas vezes seguidas os 100 metros nos Jogos – como as atletas dos Estados Unidos Wyomia Tyus (em 1964 e 1968) e Gail Devers (em 1992 e 1996) já tinham feito.

Depois de Devers, Shelly-Ann é a segunda velocista a deter os títulos mundial e olímpico e superou a norte-america no facto de tê-los em simultâneo por duas vezes. A atleta jamaicana foi a primeira de sempre a ganhar três vezes os 100 metros nos Mundiais e a deter os três títulos mundiais nos 100, 200 e 4x100 metros em simultâneo, assim como nos 60, 100 e 200 metros.

Com 1,52 metros de altura, Shelly-Ann é conhecida como «pocket rocket» [«foguete de bolso»] O seu recorde pessoal nos 100 metros é de 10.70 segundos sendo a quarta mulher mais rápida de sempre (o recorde mundial feminino são 10.49 segundos – mais 91 centésimos de segundo do que o masculino). Nos mundiais de 2013, a jamaicana ganhou os 100, os 200 e a estafeta 4x100; como Bolt. League, Shelly-Ann venceu a Diamond League quatro vezes: 2012 (100 m); 2013 100 e 200 m); 2015 (100 m).



A mancha no currículo de Shelly-Ann está na forma de uma suspensão da competição seis meses por uma análise antidoping positiva. A jamaicana acusou a substância proibida oxicodona. Shelly-Ann justificou a presença da substância com a toma de um analgésico para uma dor de dentes. O fármaco ter-lhe-á sido dado pelo seu treinador que o tomava para as pedras nos rins.

«Eu sou uma atleta profissional. É suposto dar um exemplo. Por isso, a responsabilidade daquilo que eu ponho no meu corpo é minha e foi o que eu fiz», afirmou Shelly-Ann apesar do desconhecimento que garantiu ter sobre a composição do que tinha tomado. A suspensão afetou-lhe o ano de 2011, mas não a carreira de atleta. Em 2012 confirmou o ouro olímpico.

Em 2013, Shelly-Ann estrou-se a ganhar o ouro (nos Mundiais) nos 200 metros e criou a sua fundação que tem como nome a sua alcunha. «Pocket Rocket Foundation». Licenciada em Desenvolvimento de Adolescentes e Crianças há apenas três anos, a velocista jamaicana quis ajudar quem precisa de apoio para estudar.

«Não há uma regra a dizer que uma pessoa tem de sacrificar os estudos pela vida desportiva ou que se se é bom no desporto não se será bom nos estudos. Quando eu comecei tive a ajuda de muita gente que me encorajou e acreditou no meu potencial, que me disse que eu poderia ir longa tanto desportiva como academicamente. E isso fez toda a diferença para mim», afirmou ao site dos Jogos Rio 2016.



Primeira embaixadora da Boa Vontade nomeada pela UNICEF para a Jamaica, a bicampeã olímpica e consagrou-se tricampeã mundial já neste ano ganhando os 100 metros a correr com uma coroa de flores na cabeça – «Eu gosto de cores, gosto de ser ousada. Trata-se de estar feliz e descontraída na linha de partida». Como Bolt fez – com a sua ousadia do costume: o gesto do relâmpago.

Ainda há poucos dias, Bolt manifestou a incerteza da data da reforma. A única garantia que deu foi que será depois dos Jogos Olímpicos, onde quer ser o Bolt de sempre, o que significará o palmarés ainda mais único, como se referiu: «O meu objetivo é manter os títulos olímpicos. Essa é a meta. E somente depois de Rio 2016 saberei se vou reformar-me.»

Ainda antes dos Mundiais deste ano, já Shelly-Ann anunciava esperar a continuação da glória: «Para os Jogos Rio 2016 espero que tudo seja bom e dourado para mim.» Neste momento, o favoritismo de que um consiga o que o outro não consiga não está em qualquer dos lados em particular. Está nos dois em conjunto. Desde há um bom tempo. Como ambos sabem, pois é algo que estão habituados a ter em comum.




Margem Olímpica surge no último ano do ciclo olímpico até aos Jogos Rio 2016, com a MF Total a destacar atletas, nacionais e internacionais, assim como outras histórias relevantes das Olimpíadas do próximo verão.