O Maisfutebol desafiou os treinadores portugueses que trabalham no estrangeiro, em vários pontos do planeta, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:

Leia a apresentação de Mário Lemos

MÁRIO LEMOS, MTG UTD (Tailândia)

«Caros Leitores,

Faz em Março um ano que estou na Tailândia. Já aprendi algumas palavras em tailandês, já me acostumei com a cultura, habituei-me aos sabores picantes da comida e acostumei-me ao clima.

Esta é a minha segunda experiência a treinar fora de Portugal, primeiro estive nos Estados Unidos da América, onde encontrei um Soccer muito bem estruturado, clubes e campeonatos muito bem organizados, objetivos estipulados, ao contrário do que fui encontrar na Tailândia.

Tanto nos Estados Unidos como na Tailândia tive de me adaptar e perceber a cultura do país e do futebol. Fui aos poucos fazendo as minhas alterações à maneira de estar e fazer as coisas. Uma delas foi a pontualidade. Ninguém a cumpria. Os meus jogadores, o meu treinador adjunto e os diretores não respeitavam os horários do treino.

Até existe um ditado popular tailandês que é Sabai Sabai. Significa Tranquilo, vai com calma. Não é por nada que a Tailândia é conhecida pela terra do sorriso.

Num dos meus primeiros treinos falei com os jogadores e disse que o treino começava às 15 horas e que às 14h45 tinham de estar equipados e preparados para treinar. No treino do dia seguinte tinha oito jogadores a horas e os restantes 17 foram chegando aos poucos.

Às 15 horas reuni os jogadores e pedi ao meu adjunto para perguntar a que horas tínhamos combinado ontem. Disse que os 17 jogadores atrasados podiam voltar para a academia e que não treinavam. Foi um choque para eles.

Nunca tinham sido proibidos de treinar. O meu adjunto pediu-me para os deixar treinar porque eles nunca foram obrigados a cumprir horários. Não voltei com a minha palavras atrás e dei treino apenas aos oito jogadores.

Todos os meus jogadores têm contrato, todos eles recebem um ordenado mensal e têm direito a alimentação, escola, transporte para a escola e academia. Têm as condições perfeitas para se concentrarem no futebol e tempo suficiente para chegar a horas ao treino.

Como em qualquer outro tipo de trabalho, a pontualidade é essencial!

Vou na minha segunda época com a mesma equipa e hoje o treino estava marcado as 16 horas da tarde. Às 15h30 os jogadores começaram aparecer no campo, às 16 horas começámos a treinar. A falta de pontualidade já não é um problema.

Já nos dias de jogo a história é diferente. Nunca saímos à hora prevista, saímos sempre atrasados. Uma vez na brincadeira com o meu adjunto fiz uma aposta. No dia em que sairmos à hora marcada pago um jantar à equipa toda. Até hoje ainda não aconteceu.

Acontecem todos os tipos de situações que não nos deixam sair à hora marcada. O motorista não encontra as chaves do autocarro, o motorista deixa-se dormir, não temos autocarro, temos de ficar à espera de um diretor, já me aconteceu de tudo. Eu já tive que me deslocar de moto-táxi para um jogo porque o autocarro avariou a meio do caminho.



A pouco e longo custo e a uma velocidade vagarosa estou a tentar mudar algumas coisas, mas como podem imaginar, não é nada fácil.

Cumprimentos de Banguecoque - Tailândia

Mario Lemos»