«A vida, às vezes, prega-nos partidas», disse ao Maisfutebol. Foram precisos dez anos de carreira para Ricardo Esteves, 28, lateral direito do Marítimo, marcar o primeiro golo... na própria baliza. Aconteceu na jornada anterior (15ª), recepção ao Leixões, cinco minutos contava o relógio, quando dois antes brilhara no cruzamento (mais um) para o primeiro golo da sua equipa, ainda os adeptos se acomodavam. «Assumi o erro e levantei a cabeça.»
Talvez de mais, já que aos 36 minutos foi expulso por ter pontapeado a bola com indignação. A história terminou em campo com o «terceiro cartão vermelho de sempre», todos madeirenses (dois pelo Nacional), e fora dele com o julgamento de Lazaroni no dia seguinte, num balneário apinhado.
«Foi uma conversa particular na presença de terceiros, como sempre acontece. Tudo é resolvido frente a frente. O treinador disse-me que fui ingénuo, que devia ter cuidado com aqueles lances, evitá-los e aprender com os erros.» A absolvição foi, contudo, proferida e as manifestações de «apoio dos companheiros» seguiram-se «pelo telemóvel».
«Senti-me bastante desiludido depois da expulsão. Apesar do autogolo, estava a jogar muito bem. O meu desalento não foi tanto por marcar na própria baliza, pois são coisas que acontecem, mas por ter feito duas faltas que o juiz considerou para cartão amarelo», esclareceu Ricardo Esteves. Cosme Machado não terá gostado do trajecto que a bola tomou, coincidência infeliz, garantiu o jogador. «Mandei a bola para o chão sem intenção de acertar no árbitro! Não tenho esse feitio!»
E foi assim que Ricardo Esteves forçou o Marítimo a jogar com menos um elemento praticamente 40 minutos, apesar do final feliz: vitória do Marítimo por 2-1 e a estima recuperada dos adeptos, saudosos de êxitos no Caldeirão há quatro rondas consecutivas. «Mesmo na infelicidade nunca deixámos de ser um grupo unido. O resultado premiou o bom trabalho que temos feito.»
A estratégia de Lazaroni; a ambição de Ricardo
Há muito que o Marítimo não tinha um balneário assim, escutou já Ricardo Esteves. «Não me admiro, pelo que tenho visto e vivido...», acrescentou. E um dos principais motivos reside na experiência de Sebastião Lazaroni, técnico que gosta de partilhar diferentes ensinamentos. «Formamos um grupo muito unido e isso espelha não só o bom trabalho que tem sido feito em termos técnicos nos treinos e nos jogos, mas também o apoio que temos recebido», contou.
Quando pensou em regressar e no caminho surgiu a equipa dos Barreiros, não houve espaço para dúvidas. «Uma das razões pelas quais comprei casa no Funchal foi por sentir-me muito bem aqui. O Marítimo é um dos clubes grandes de Portugal, com excelentes condições de trabalho. Estou a gostar bastante», assumiu, ainda ambicioso q. b.:
- Quero e posso fazer ainda mais do que tenho feito. O ser humano é assim, nunca está satisfeito. Tenho 28 anos, mais uma época de contrato, e, depois, quem sabe, voltar ao estrangeiro.
José Mota, amigo, mas adversário
Depois de três anos em Itália, voltou ao Funchal, onde se fixou por ocasião da primeira aventura na ilha e tem «amigos, como o Patacas», desde os tempos do Nacional, em 2002/03 e parte da época seguinte, dividida com o P. Ferreira, precisamente o adversário deste fim-de-semana.
O castigo impede-o de rever os muitos amigos do Norte conquistados em «quatros meses espectaculares» e, como tal, será à distância do imenso Atlântico que vai acompanhar o jogo da sua equipa, que esta quinta-feira viajou para o continente sem o habitual titular, para defrontar quem em tempos testemunhou a última experiência do lateral em Portugal, antes de emigrar para o Reggina (Itália).
«José Mota marcou-me bastante. Tenho ali grandes amigos», recordou o lateral, sem que tal deva constituir motivo de apreensão para os adeptos insulares, já que as «trocas de mensagens» não envolvem informação privilegiada.