«Sou Maria Amélia da Silva Morais, mais conhecida pela Melinha de Braga. Pode perguntar a idade, a gente morre e descobre-se logo o segredo. Tenho 77 anos, faço 78 no dia 15 de fevereiro, a seguir ao dia dos namorados. Moro à beira da ponte de S. João, à beira do Estádio velho, o 1º de Maio. Sou uma mulher sem pais, sem marido e sem filhos. A minha política é o Sp. Braga e a igreja. Mais nada».

Está feita a apresentação, na primeira pessoa e sem papas na língua. Não é preciso perguntar, o discurso sai fluente e com a coerência de quase oitenta anos de vida. Quem diria. A senhora que acompanha o Sp. Braga para todo o lado, com o cabelo sempre bem arranjado como principal imagem de marca não acusa a idade.

Depois dos minutos de fama que projetaram Amélia Morais para os quatro cantos do mundo, o Maisfutebol foi conhecer a senhora que entrou no relvado no final do jogo disputado pelo Sp. Braga no Funchal. (e deu a volta ao mundo no Youtube, como pode ver aqui)

«Nunca se é demasiado velho para ser adepto do futebol» pôde ler-se na imprensa Suíça no dia a seguir ao jogo, no Brasil foi destaque a 'vovozinha que invadiu o gramado', enquanto que em terras de sua majestade diz-se que uma 'Avó portuguesa invadiu o relvado' num jogo de futebol. Sorridente, Melinha diz que sabe da sua fama: 'Já saí na América e tudo, eu sei'».

«O Braga ainda não jogou no estrangeiro sem eu estar presente»

Com 78 anos de idade, Melinha marca presença assídua nos estádios de futebol. Em Portugal e por essa Europa fora, onde o Braga estiver. Como é que uma senhora desta idade se tornou uma adepta com esta estaleca?

«O meu marido meteu-me a sócia. Já sou viúva há 28 anos e não tenho filhos, mas estou com os pés bem assentes no chão. É por isso que vou com o Braga para todo o lado», referiu Amélia Morais.

Nunca é demais referir. O assunto é o Sp. Braga e o discurso sai sem ser preciso esboçar qualquer pergunta, até pede para apontar: «O Braga ainda não jogou lá fora no estrangeiro sem eu estar presente, o dinheiro é meu. Oiça se faz favor: Fui a Sevilha e ganhamos, o Lima meteu lá três tentos; fui à Escócia, Liverpool, Londres, Kiev, Polónia, à Ucrânia, à Sérvia, até fui onde jogou o Cristiano Ronaldo lá fora», disse Melinha com um sorriso de orelha a orelha.

A lista de deslocações é grande cheia de histórias para contar. A senhora revela que, pelo ambiente, os jogos com os ingleses são os melhores. Melinha até já esboça algumas palavras em inglês: «Os ingleses quando me vêm começam logo a cantar o meu nome e eu digo logo “I love you, thank you”.»

«A entrada em campo e a confusão com a rainha»

No baú de recordações, a viagem a Liverpool está guardada num cantinho especial. «Fui confundida com a Rainha Isabel. Fomos Liverpool, e eu meti-me lá num coche dos cavalos para me abrigar do sol. Eu estava lá e começaram todos a chamar “Queen, queen”, pensavam que eu era a rainha. Eles chamavam isso e eu acenava e dizia “Sem coroa, sem coroa.” As televisões inglesas começaram todas a filmar-me à frente do coche.»

Apesar dos 78 anos, é comum ver Melinha na linha da frente no apoio ao Sp. Braga. Entre os jovens, no meio da claque. Ao nosso jornal a conhecida adepta diz que até ralha com eles se for preciso: «São muito respeitosos comigo, podem-se emborrachar e fazer o que quiser, mas comigo não. Eu até ralho com eles. São muito meus amigos, não tenho nada que dizer das claques. Até cantam cantigas para mim, põe-me a saltar e a dançar. Portaram-se mal na Madeira.»

É precisamente neste momento que Melinha entra em cena no mais famoso capítulo da sua história. O que se passou? «Estão a fazer obras no estádio lá na Madeira, e os tipos começaram a atirar com tantos ferros e tantas pedras e os nossos atiraram com as cadeiras para acalmar. Eu até fugi para a beira do campo. Eu e mais gente fugimos com medo que nos desse com as cadeiras na cabeça».

Pedimos desculpa. Melinha parece ter levado a mal a nossa pergunta se tinha falhado algum jogo na primeira década do Estádio Municipal de Braga. «Eu? Nunca na vida», disse com um tom de voz intimidatório.

Fica a promessa de continuar na mesma toada, mesmo quando ficar velhinha. Se for preciso leva os cobertores para o Estádio. «Eu nem que seja muito velhinha, mesmo se tiver muito doente vou com os cobertores. Só se me der um AVC que não possa ir é que não vou ao Braga, você não sabe a fibra que eu sou. Tenho uma saúde de ferro.»