O 10 sempre foi mais do que um número, um dorsal, mais até do que uma posição em campo. O 10 era o craque, o líder incontornável do ataque. Criador e, muitas vezes, também finalizador. No passado, muitas vezes o 10 era o 10, outras camuflava-se noutros números. «Os 10 e os deuses» recupera semanalmente a história destes grandes jogadores do futebol mundial. Porque não queremos que desapareçam de vez. 

O Maradona do novo século. O Dez hang-loose, de sorriso nos lábios, a querer divertir. O Dez-moleque, abusador da ginga, o talento puro. O Dez-surfista. O mentor do joga bonito.

Um dos melhores dribladores da história, e que executa ainda mais rápido do que pensa. A mudança de direção, a aceleração, a bola colada ao pé e o golo no final. A pedalada, a vírgula ou um simples jeito com o corpo e o adversário no chão. Os truques têm a sua própria vertigem, e raramente os defesas se aguentam no sítio.

O passe, sempre a rasgar, a cortar defesas ao meio. A noção perfeita de malabarista de onde a bola vai cair. Para onde tem de mandá-la. Túneis. Cabritos. Um compêndio de mil maneiras de humilhar o adversário, fosse quem fosse, viesse quem viesse. Messi? Mesmo que fosse Messi. Não há cá códigos de honra.

Fosse Pirlo ou Gattuso, Lampard ou Scholes, Sergio Ramos ou Nesta. Todos sofrem com aquele sorriso eterno, gravado de forma quase fisiológica, num dos melhores de todos os tempos. Um Joker da bola, mas do lado certo da Lei.

O primeiro que o quer moldar é Lazaroni, no primeiro clube: o Grémio. Estreia-se na Libertadores em 98, humilha o campeão do mundo de há quatro anos Dunga nas finais do Gaúcho do ano seguinte e chega ao Escrete. Só por ter tirado Dunga do sério não vos deixa mais feliz?

Ronaldinho começa a ser uma estrela muito cedo. Aqui, em 2000.

Romário e Ronaldo tinham saído para o PSV, Ronaldinho parece ir seguir-lhes os passos quando surge o Paris Saint-Germain. Os gaúchos aguentam-no até 2001, recusam todas as propostas milionárias, juram a pés juntos que não sai, mas Dinho assina um pré-contrato. Caso na FIFA, tem de esperar meses sem jogar.

Volta em agosto, mas Fernández mostra-se pouco compreensivo com os excessos pós-hora de jantar, ao contrário do que lhe acontecia em Porto Alegre. Dá o litro nos grandes jogos, mas as equipas pequenas parecem não motivá-lo o suficiente.

Volta ao Escrete para ser campeão do mundo em 2002, com aquele chapéu de livre a Seaman a ficar na história.

Em 2003 assume que quer sair do PSG e o Barcelona paga 21 milhões. Tal como Romário e Ronaldo, e também Rivaldo, veste blaugrana.

Não se pode dizer que Ronaldinho tenha sido bem sucedido no PSG.

Segundo lugar em 2004/05, e o bis mágico no Bernabéu (0-3) em 2005/06. É aplaudido de pé, perspetivando-se o que vem aí: a conquista de Liga, Supertaça e Champions. Ganha a Bola de Ouro. Dois FIFAs.

O Mundial 2006 não lhe corre tão bem. Fora de posição, acaba eliminado pela França e uma estátua feita para si em Chapecó é incendiada, como represália pelas más exibições.

Em 2008, chega o fim o percurso na Catalunha, com Laporta a frisar que o mágico precisa de um novo desafio.

Contrato de cinco anos com o Milan, cumpre dois. O 10 era de Seedorf, ficou com o 80. Após um primeiro ano dececionante, no segundo já é o melhor dos rossoneri. Em 2009, a World Soccer elege-o futebolista da década.

Depois do Barça, o Milan como novo desafio.

Suplente, em 2011, assina pelo Flamengo e sagra-se campeão carioca. Assina hat-tricks, parece de novo feliz. Até um golo olímpico consegue. Um ano depois, alega vencimentos em atraso e sai.

Segue-se o Atletico Mineiro. Guilherme tem o 10, ele fica com o 49, ano de nascimento da mãe. Volta a ser Dinho, com golos antológicos, sobretudo na Libertadores, que arrecada para o Galo. Tal como o Mineirão e a Recopa sul-americana.

No «Galo», Dinho volta a ser feliz.

Seguem-se os «Gallos Blancos» do Querétaro, no México, ainda com o 49 nas costas. O número de sorte que não evita que falhe um penálti na estreia. Apesar de um ou outro momento de brilho, já não é o mesmo, e dura nove meses antes de voltar ao Brasil. Agora, para o Fluminense. Mas já em quebra, a pensar em gozar a vida. De vez.

O futebol fica mais sisudo, perde o seu sorriso. Mantém o talento, que brota um pouco por todo o planeta, mas perde aquele jeito de se deixar levar pela onda. De estar sentado na prancha, a receber o vento na casa enquanto a espuma não cresce e o leva para a areia. Ronaldinho, que ainda anda por aí, foi o Dez-surfista. Uma espécie de Maradona. Igualmente genial.

O sorriso do futebol (documentário):

Os dez melhores golos:

Algumas das melhores jogadas:

Os melhores momentos da exibição no Bernabéu, que valeram que os adeptos rivais o tenham aplaudido de pé:

Ronaldo de Assis Moreira
21 de março de 1980

1998-2001, Grémio, 145 jogos, 72 golos
2001-03, Paris Saint-Germain, 73 jogos, 23 golos
2003-08, Barcelona, 207 jogos, 94 golos
2008-10, Milan, 116 jogos, 29 golos
2011-12, Flamengo, 72 jogos, 28 golos
2012-14, Atlético Mineiro, 85 jogos, 27 golos
2014-15, Querétaro, 29 jogos, 8 golos
2015-16- Fluminense, 9 jogos, 0 golos

Brasil, 99 jogos, 34 golos

1 Campeonato Gaúcho: Grémio, 1999
1 Taça Intertoto: Paris Saint-Germain, 2001
2 Campeonatos Espanhóis: Barcelona, 2004–05, 2005–06
2 Supertaça de Espanha: Barcelona, 2005, 2006
1 Liga dos Campeões: Barcelona, 2005–06
2º lugar no Campeonato do Mundo de Clubes: Barcelona, 2006
1 Campeonato Italiano: Milan, 2010-11
1 Campeonato Carioca: Flamengo, 2011
1 Campeonato Mineiro: Atletico Mineiro, 2013
1 Taça dos Libertadores da América: Atletico Mineiro, 2013
1 Supertaça sul-americana: Atlético Mineiro, 2014

1 Copa América: 1999
1 Campeonato do Mundo: 2002
1 Taça das Confederações: 2005
1 Superclásico das Américas: 2011
1 Campeonato do Mundo sub-17: 1997

Alguns prémios individuais:

Melhor jogador e melhor marcador da Taça das Confederações: 1999
Terceiro melhor jogador da Taça das Confederações: 2005
Melhor jogador do Ano para a «World Soccer»: 2004 e 2005
Melhor jogador do Ano para a FIFA: 2004 e 2005
Terceiro melhor jogador do ano para a FIFA: 2006
Bola de Ouro France Football: 2005
Melhor avançado do ano para a UEFA: 2004-05
Melhor jogador do ano para a UEFA: 2005-06

Primeira série:

Nº 1: Enzo Francescoli
Nº 2: Dejan Savicevic
Nº 3: Michael Laudrup
Nº 4: Juan Román Riquelme
Nº 5: Zico
Nº 6: Roberto Baggio
Nº 7: Zinedine Zidane
Nº 8: Rui Costa
Nº 9: Gheorghe Hagi
Nº 10: Diego Maradona