O 10 sempre foi mais do que um número, um dorsal, mais até do que uma posição em campo. O 10 era o craque, o líder incontornável do ataque. Criador e, muitas vezes, também finalizador. No passado, muitas vezes o 10 era o 10, outras camuflava-se noutros números. «Os 10 e os deuses» recupera semanalmente a história destes grandes jogadores do futebol mundial. Porque não queremos que desapareçam de vez. 

O dez excêntrico. Extravagante. O Dez da permanente e do bigode, mas sobretudo o Dez do toque. De um futebol de toque, muitas vezes de primeiro toque, dessa Colômbia fins de oitentas, início de noventas.

Simples, artisticamente belo, um futebol de apoios inventado por Maturana. Uma filosofia que tinha Valderrama no centro de tudo. Mesmo no centro, não onde os Dez andavam, mas sim a meio do meio-campo, onde podia realmente influenciar a equipa naquela procura incesssante do espaço, sempre com um altruísmo muito próprio, de fazer chegar a bola a quem a merecia.

Dois anos antes do Campeonato do Mundo de Itália, é um particular dos cafeteros em Wembley que apresenta Valderrama à Europa. Destaca-se a elegância, a qualidade de passe com ambos os pés, mas sobretudo a inteligência do médio ofensivo, naquela Colômbia de tabelinhas, de um-dois, e de triângulos e outras figuras geométricas que maravilham as bancadas e anunciam a uma parte do mundo o que verá nos grandes palcos transalpinos daí por uns tempos. O resultado? Um empate a um golo, e a Inglaterra de Bobby Robson a ficar acenar que sim com a cabeça. Convencida.

É esse jogo que convence igualmente Louis Nicollin, presidente do Montpellier, a assinar com o nosso Dez. Laurent Blanc é o capitão dessa equipa, onde figura ainda um camaronês já veterano, já com 36, chamado... Roger Milla. Dois anos depois, no San Paolo de Nápoles, será o velhote a aproveitar um erro de Higuita nos oitavos de final do Mundial e a mandar os colombianos para casa, dias após um apuramento brilhante com um empate frente à poderosa Alemanha, futura campeã, já nos descontos. Golo de Rincón, assistência do nosso amigo.

Valderrama marcou frente à Argentina (1-1) e qualificou a Colômbia para o Mundial de 1998.

A adaptação ao mais veloz e físico futebol europeu não é fácil, e Carlos Valderrama passa muito tempo no banco. Até que na meia-final da Taça da França frente ao Saint-Étienne causa tamanho impacto, empurrando a equipa definitivamente para o segundo troféu da história e provando que havia um lugar ali que só podia ser seu.

El Pibe, como também ficou conhecido – afinal era o Maradona dos colombianos – e que tinha nascido para o jogo no Unión Magdalena e crescido no Millonarios e no Deportivo Cali, passa depois pelo Valladolid, em Espanha, antes de regressar à Colômbia e terminar, depois, nos Estados Unidos. Na seleção, os anos pós-Itália ficam marcados uma goleada monumental à Argentina no Monumental de Buenos Aires (0-5), que qualifica os cafeteros para 1994. No entanto, tanto nessa fase final como quatro anos mais tarde, não consegue chegar aos oitavos.

O colombiano jogou pelo Millonarios em 2001 num amigável frente à sua antiga equipa, o Tampa Bay.

Fosse também pela permanente e bigodes louros ou simplesmente pela classe, a verdade é que poucos que o viram jogar esquecem Valderrama. Um hino ao altruísmo.

O fantástico passe para Rincón, que qualifica a Colômbia nos descontos com a Alemanha:

Os 0-5 em Buenos Aires na qualificação para o Mundial dos Estados Unidos:

Carlos Alberto Valderrama Palacio
2 de setembro de 1961

1981-84, Unión Magdalena, 94 jogos, 5 golos
1984, Millonarios, 33 jogos, 0 golos
1985-88, Deportivo Cali, 131 jogos, 22 golos
1988-91, Montpellier, 77 jogos, 4 golos
1991-92, Valladolid, 17 jogos, 1 golo
1992-93, Independiente Medellín, 10 jogos, 1 golo
1993-95, Junior Barranquilla, 82 jogos, 5 golos
1996-97, Tampa Bay Mutiny, 43 jogos, 7 golos
1996-97, Deportivo Cali, 19 jogos, 4 golos
1997-99, Miami Fusion, 24 jogos, 3 golos
1999-01, Tampa Bay Mutiny, 71 jogos, 5 golos
2001-02, Colorado Rapids, 39 jogos, 1 golo

Colômbia, 111 jogos, 11 golos

1 taça de França (Montpellier, 1990)
2 campeonatos colombianos (Junior Barranquilla, 1993 e 1995)

Melhor jogador da Copa America: 1987
Jogador sul-americano do ano (1987 e 1993)
Melhor jogador da Major League Soccer: 1996
Jogador colombiano do século XX (1999)
Recordista de assistências na MLS (26, 2000)
Lista dos 100 melhores de sempre para o World Soccer
Lista FIFA 100 (2004)

Primeira série:

Nº 1: Enzo Francescoli
Nº 2: Dejan Savicevic
Nº 3: Michael Laudrup
Nº 4: Juan Román Riquelme
Nº 5: Zico
Nº 6: Roberto Baggio
Nº 7: Zinedine Zidane
Nº 8: Rui Costa
Nº 9: Gheorghe Hagi
Nº 10: Diego Maradona

Segunda série:

Nº 11: Ronaldinho Gaúcho
Nº 12: Dennis Bergkamp 
Nº 13: Rivaldo
Nº 14: Deco
Nº 15: Krasimir Balakov
Nº 16: Roberto Rivelino

Jogo de homenagem a Valderrama, que marca a despedida dos relvados.