O 10 sempre foi mais do que um número, um dorsal, mais até do que uma posição em campo. O 10 era o craque, o líder incontornável do ataque. Criador e, muitas vezes, também finalizador. No passado, muitas vezes o 10 era o 10, outras camuflava-se noutros números. «Os 10 e os deuses» recupera semanalmente a história destes grandes jogadores do futebol mundial. Porque não queremos que desapareçam de vez. 

«Os anjos cantam nas suas pernas!»

A frase deliciosa é de Aldo Agroppi, antigo treinador firenze. Poucos terão dito algo mais acertado sobre Baggio, o fantasista.

Muitos recordam-no, injustamente, por aquele penálti nos Estados Unidos. Esquece isso, Baggino! São os mesmos que não se lembram da lesão grave aos 18 anos, a rótula perfurada e 220 pontos internos para voltar a unir ligamentos destroçados, os 12 quilos perdidos, e a ameaça a pairar de não voltar a jogar. E das dores excruciantes, por ser alérgico à maior parte dos analgésicos.

Dos meses a fio de paragem. Da traição florentina na venda à Juventus, quando não queria sair e com as culpas atiradas para cima de si. Do penálti que se recusou a marcar contra a ex-equipa, e que a Vecchia Signora falhou a seguir e que lhe granjeou um par de inimigos em Turim. Da tentativa de sobrevivência num calcio cada vez mais físico. Das desavenças com Capello. Das guerras com Lippi, que pouco ou nada gostava dele.

Fiz um passe de 40 metros para Bobo Vieri, que marcou. Ele virou-se e aplaudiu, e Panucci imitou-o. Era algo normal entre colegas, mas Lippi ficou doido. Vieri, Panucci, que raio vocês pensam estar a fazer? Pensam que isto é teatro? Não estamos aqui para aplaudir-nos uns aos outros.»

Os famosos livres de Baggio, aqui já no Brescia.

Sobretudo fizeram por esquecer as jogadas de mestre. Um primeiro toque de excelência. As mudanças de velocidade, as mudanças de direção. O drible fácil, muitas vezes começados com o pé contrário, o esquerdo. O remate na passada. O remate em curva. Em vólei. Em força. Gelo nas veias para a finalização, que o tornou muitas vezes um 9-e-meio. Um segundo avançado. Os cantos olímpicos, os livres diretos. Os perfeitos livres diretos, dignos de um dos maiores especialistas de todos os tempos. As assistências, com uma habilidade incrível para descobrir espaços e colegas desmarcados.

Il Codino era um especialista também no drible.

Não se lembram das suas sete vidas, pontuadas por lesões e pela dor que o acompanhou sempre desde a operação precoce. Fiorentina. Juventus. Milan. Bolonha. Inter. Brescia. Seis vidas depois do Vicenza e da lesão grave à chegada ao conjunto viola. Altos e baixos. Mas enorme nos momentos mais baixos. Um Dez de superação. Um Dez goleador.

Era este Il Divin Codino! Sim, o penálti contra o Brasil… mas e a injeção que levou para poder jogar a final? Os outros que falharam dos 11 metros? O golo que marcou quatro anos antes é ainda hoje um dos melhores da história dos Campeonatos do Mundo. A média de um golo em cada dois jogos pela squadra azzurra. A justíssima Bola de Ouro, que leiloou para ajudar as vítimas das cheias.

Quando Roberto Baggio arrancava para a área era poesia em movimento. Os anjos cantavam realmente nas suas pernas. Será impossível alguém algum dia descrevê-lo melhor!

Os 20 melhores golos:

Algumas das melhores jogadas da sua carreira:

O golo marcado à Checoslováquia em 1990:

Roberto Baggio

Data de nascimento: 18 de fevereiro de 1967

1982-85, Vicenza, 47 jogos, 16 golos
1985-90, Fiorentina, 136 jogos, 55 golos
1990-95, Juventus, 200 jogos, 115 golos
1995-97, Milan, 67 jogos, 19 golos
1997-98, Bolonha, 33 jogos, 23 golos
1998-2000, Inter, 59 jogos, 17 golos
2000-04, Brescia, 101 jogos, 46 golos

Itália, 56 jogos, 27 golos

Palmarés:

1 Taça UEFA (1992-93)
2 ligas italianas (1994-95 pela Juventus; 1995-96 pelo Milan)
1 Taça de Itália (1994-95)
Terceiro lugar no Mundial 1990
Segundo lugar no Mundial 1994

Alguns prémios individuais:

Bola de Ouro (1993)
FIFA Player of the Year (1993)
Segundo melhor jogador do Mundial 1994
Segundo classificado na Bola de Ouro (1994)
Terceiro classificado no FIFA Player of the Year (1994)
Jogador italiano do século (2000)

O penálti falhado perante o Brasil na final do Mundial de 1994.

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