Nuno Gomes, em entrevista à Maisfutebol Total, fala das expetativas do Benfica na Liga Europa antes do segundo jogo com o Tottenham e encontra muitas semelhanças entre a atual equipa com a que foi campeã em 2009/10. Uma conversa que passa ainda pela Fiorentina e pela forma como a equipa «viola» pode vir a ajudar a equipa da Luz e ainda das dificuldades que o FC Porto vai ter de enfrentar  esta quinta-feira no «ambiente escaldante» do San Paolo.

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A sua última época foi em Inglaterra. Conhece bem a Premier League, ficou surpreendido pela forma como o Benfica venceu em White Hart Lane?

- Não me surpreendeu porque sei que o Benfica tem equipa para discutir jogos com qualquer outra equipa. Tem uma equipa muito forte e está a atravessar um grande momento. Era um jogo difícil, em casa do Tottenham que, apesar de ter alguns problemas em termos de resultados, não deixa de ser uma grande equipa inglesa. Jogar com o suporte do seu público é sempre um factor extra, até para intimidar o adversário, mas o Benfica deu uma grande resposta, correspondeu àquilo que é o verdadeiro valor da equipa. Apanhou-se a ganhar 1-0, depois soube gerir muito bem as coisas e aumentar a vantagem. Deu um grande passo para os quartos de final, apesar de ainda faltar um jogo e nada estar ainda ganho. Nunca se sabe o que se pode esperar de uma equipa inglesa. Os ingleses lutam até ao apito final do árbitro, é isso que espero esta quinta-feira, apesar das baixas que têm, vão com certeza com a intenção e com a esperança de dar a volta ao resultado.



Uma vitória com dois golos de Luisão que foi seu companheiro no Benfica. Esperava ver Luisão a este nível, nesta altura?
- Sim, o Luisão está a atravessar um dos seus melhores momentos de forma, estou feliz por ele, merece, é um excelente profissional, está no clube há muitos anos. Fico muito feliz pelo momento que está a atravessar. Está a juntar a qualidade que tem em ser um dos grandes esteios da defesa do Benfica com, neste momento, uma veia goleadora apuradíssima.

Jogou dois anos com Jorge Jesus no Benfica, foi campeão na primeira época com uma equipa que já era de tração à frente. Encontra muitas semelhanças com o Benfica atual?
- Sim. Lembro-me que nesse ano, apesar de só termos ganho o título na última jornada, em casa, com o Rio Ave (2-1) e tivemos a discutir com o Braga até ao fim, também tínhamos uma excelente equipa com o Javi Garcia, David Luiz, Ramires, Di María. Uma equipa que em muitos jogos cilindrou muitos adversários com um futebol bonito de se ver, com um futebol de ataque, que é sempre um apanágio do mister Jorge Jesus. Neste momento o Benfica atravessa uma dessas fases, uma euforia atacante que se alarga também para fora do estádio e cativa também os adeptos. Cria-se uma onda não só de golos, mas também uma onda de apoio em torno da equipa, o que é fantástico, mas que por vezes pode levar a excessos. Neste momento a grande diferença em relação à época passada é que, apesar dessas vitórias, os jogadores continuam a ter os pés bem assentes na terra, sabendo que nada está ainda ganho.



Acha que o que aconteceu na última época tornou o Benfica mais forte?
Acho que sim, aprende-se sempre com os erros e o Benfica não foge à regra. O campeonato perdeu-se quando já ninguém estava à espera. A Liga Europa perdeu-se, depois de um excelente jogo do Benfica, numa bola parada. Uma distração defensiva no último minuto quando já toda a gente estava à espera do prolongamento. São erros, são derrotas que servem para que a equipa cresça. Este ano a equipa tem sabido gerir não só o esforço dos jogadores, mas também a euforia que muitas vezes as vitórias proporcionam.

E esta quinta-feira? Espera um Benfica a gerir a vantagem que trouxe de Londres ou um Benfica a tentar resolver a eliminatória de início?
- Acho que o Benfica vai querer matar a eliminatória, apesar do Tottenham também querer tentar um golo cedo que lhe dê a esperança de poder dar a volta. O Benfica poderá tirar partido desse pendor atacante que o Tottenham terá que ter para virar o jogo. O Benfica vai poder por em prática aquilo que mais gosta de fazer, e com os jogadores que tem para o fazer, que é partir para o contra-ataque rápido, com jogadores com bola ou sem bola. O Benfica irá com certeza querer marcar o quanto antes para arrumar com a eliminatória.

São uns oitavos de final com outra equipa que também lhe diz muito. A Fiorentina empatou com a Juventus em Turim (1-1). Tem boas hipóteses de seguir para os quartos agora em Florença?
- Acho que sim, a Fiorentina tem uma ligeira vantagem, mas é um jogo em que é muito difícil prever quem irá passar porque são duas equipas rivais em Itália, com acontecimentos ao longo da história dos dois clubes que levaram a que os adeptos, quer de um lado, quer do outro, não gostem uns dos outros. Espero que a Fiorentina possa passar por tudo o que significa para os adeptos da Fiorentina poderem eliminar a Juventus. Será com certeza um dia de festa fantástico para eles. Sabendo que, se eliminarem a Juventus, serão uns dos candidatos à vitória na final que se realiza em Turim. Por isso até podem dar uma ajuda ao Benfica ao impedir que a Juventus jogue a final em casa.



É bom voltar a ver a Fiorentina nos grandes palcos depois dos momentos difíceis nos últimos anos?
- É bom voltar a ver a Fiorentina na Europa. Com a história que tem, está neste momento no lugar que merece. Está também a fazer um excelente campeonato este ano, está a lutar pelo acesso à Liga dos Campeões, portanto, depois dos tempos perturbados e difíceis que os adeptos passaram, é bom que estejam neste momento a ter muitas alegrias.

Já que estamos em Itália, o FC Porto vai defrontar o Nápoles no San Paolo que tem fama de ter um ambiente terrível para os visitantes. É mesmo assim?
- É- O FC Porto tem um osso duro de roer, apesar de ter a vantagem de 1-0 conseguida na primeira mão. Essa parte [do ambiente] vai ser quanto a mim a mais complicada do que propriamente o jogo em si porque o Nápoles nem está a jogar um futebol assim tão atrativo que se possa temer dentro do campo. A parte exterior ao jogo, o que os adeptos vão fazer na bancada, o próprio ambiente do estádio, muitas vezes pode intimidar os jogadores. Muitas vezes esses ambientes ganham jogos. É sempre difícil jogar em Nápoles, o ambiente é complicado e estão a tentar voltar a ter o Nápoles de antigamente. Têm uma excelente equipa, se formos ver individualmente a constituição do plantel. E tem esse grande ponto a favor que é jogar em casa com um ambiente escaldante. Mas acho que o FC Porto também tem equipa para marcar golos lá, por isso prevejo um jogo equilibrado e se calhar uma eliminatória com uma indefinição muito imprevisível até ao final do jogo.

Uma amostra do ambiente no San Paolo: