Agora que Maxi Araújo foi oficializado no Sporting, pondo fim a várias semanas de 'novela mexicana', o Maisfutebol entrevistou Nuno Campos, treinador-adjunto de Renato Paiva no Toluca, que conhece bem as características futebolísticas e humanas do uruguaio que vem acrescentar opções ao corredor esquerdo do Sporting.
E é mesmo a todo o corredor - Maxi Araújo já atuou como extremo, lateral ou ala, a posição mais adotada por Ruben Amorim no seu sistema em 3-4-3. Nuno Campos afirma que, ultimamente, Maxi tem jogado como «ala por dentro», aparecendo muitas vezes nas costas da defensiva contrária. Foi assim, aliás, que marcou alguns golos.
Um jogador «incisivo», de «remate fácil» e «versátil», segundo Nuno Campos, um tipo de futebolista que «que vai um pouco desaparecendo do futebol, que tem iniciativa, que vai para cima e encara». O técnico garante que Araújo vai criar empatia com os adeptos porque «quando falha, é capaz de vir recuperar a bola 50 metros atrás».
Sem querer estabelecer grandes comparações com Nuno Santos, habitual dono da ala-esquerda do Sporting de Ruben Amorim, Nuno Campos admite que Maxi Araújo seja um jogador mais explosivo que o português, mas talvez tenha menos eficácia nos cruzamentos, pois Nuno Santos destaca-se dos demais nesse capítulo.
A nível mental, Maxi Araújo «cria muito empatia» com os colegas e elementos da equipa técnica, segundo Nuno Campos. «É um miúdo doce, fácil de gostar», que fez questão de se despedir devidamente de todos no Toluca. Por fim, Nuno Campos revela ainda quais os aspetos em que Maxi pode melhorar com Ruben Amorim.
Quais são as principais características do Maxi Araújo enquanto futebolista?
Bem, o Maxi tem muita verticalidade para ir buscar os espaços nas costas [da defesa], algo que é importante para qualquer equipa, porque isso vai fazer com que ele tenha oportunidades de golo. Depois, no um contra um ofensivo é forte, chuta muito bem, é um jogador que trabalha muito para a equipa em termos defensivos também, creio que é um jogador que tem um espaço para crescer e vai ter um grande treinador para o fazer [Ruben Amorim]. Ele próprio irá dar algumas características incisivas nessa posição se jogar, mesmo como lateral ou como extremo, vai ser um jogador incisivo, vai ser um jogador que gosta de entrar na área para fazer golo. É um jogador que tem um remate fácil, eu acho que vai aportar aqui ao Sporting algo também importante em todas as equipas, que é um jogador de golo, um jogador de assistência, um jogador que tem a capacidade de ser incisivo, de querer entrar na área para fazer a diferença.
Ele, no Toluca, tem jogado mais a extremo ou a ala?
Ele, no torneio passado, jogou muitas vezes a lateral, um lateral muito ofensivo, como se fosse um extremo aberto. No fundo, um ala. Neste torneio, jogou mais vezes a ala por dentro. Onde ele tem que crescer um bocadinho mais é como a ala por dentro, no sentido em que tem menos tempo de treino nessa posição, não sei se o Ruben não vai querer utilizá-lo aí, porque tem essas características para fazer também, ou por fora, sendo quase como um lateral muito ofensivo - e o Sporting também o faz - mas aí já está mais habituado a jogar, porque no torneio passado jogava dessa forma, na seleção também jogava mais aberto. Portanto, por dentro é onde ele tem que crescer mais, no sentido em que tem menos treinos também nessa posição.
É engraçado o Nuno ter referido também o ataque que ele faz à profundidade, às costas da defensiva contrária. Eu vi alguns golos marcados pelo Maxi exatamente nessa situação em que consegue descobrir as costas da linha defensiva e depois, na cara com o guarda-redes, marca.
Sem dúvida, o Maxi é um jogador que procura muito as costas dos adversários, faz muitas diagonais, tem sempre muita disponibilidade e é rápido e explosivo para pedir a bola na frente e é um jogador que nesse aspeto vai dar sempre soluções de passe nas costas da linha defensiva do adversário. É algo que é muito benéfico para quem tem a bola, na tomada de decisão, sendo que o colega está sempre a dar-lhe uma solução de passe em profundidade. Se jogar a extremo mais ainda do que como lateral, então acho que é algo que pode realmente aportar à equipa do Sporting, é essa a característica nele.
O Renato Paiva disse, recentemente, que a sua equipa técnica, onde está integrado o Nuno também, ensinou o Maxi a jogar por dentro, no posicionamento, nas decisões, mas sem perder a explosão e a verticalidade. Onde é que acha que ele devia evoluir ainda mais? O que é que precisa de trabalhar no futuro?
Como o Maxi treina connosco há relativamente pouco tempo por dentro, ainda há alguns posicionamentos iniciais antes da bola lhe chegar, que ainda tem que compreender melhor os espaços a ocupar. Nesse aspecto, creio que vai evoluir bastante e que o Ruben vai evoluir muito mais, e certamente vai começar a perceber melhor os timings de fazer a profundidade, de onde parte para fazer a profundidade, quando vir em apoio, em que zona vir em apoio, ou seja, são alguns detalhes, mas que ele já tem o principal e mais geral, que é esse posicionamento. Depois há alguns detalhes - conhecer os colegas, porque há colegas que depois vão colocar mais a bola no espaço e outros mais no pé, mas já são detalhes mínimos. Certamente, vai começar a render o que o Ruben vai querer que ele renda. Demora sempre tempo de habituação às ideias do treinador mas eu creio que o Maxi é um jogador que a massa adepta vai gostar porque ele dá sempre tudo em campo, mesmo quando falha é capaz de vir recuperar a bola 50 metros atrás, ou seja, é aquele jogador que cria empatia normalmente no grupo e também nos adeptos.
Falámos aqui muito sobre a parte tática, a parte técnica dele, também depois há outra questão que é sempre muito importante, que é a parte mental. Eu gostava que o Nuno pudesse, por exemplo, recordar uma história que mostre como é que é o caráter do Maxi Araújo, como é que ele se relaciona com os colegas e como é que ele vê o jogo, uma história em concreto em que dê para perceber o caráter dele.
Eu posso dizer que, por exemplo, o Maxi teve, até ao último momento que esteve aqui conosco e com o grupo, até ter mesmo que se despedir de nós e sair, o carinho especial que sentiu por todas as pessoas aqui no clube, e isso demonstra a afetividade que ele cria com todas as pessoas e com todos os companheiros de equipa. Veio despedir-se de nós, veio aqui outra vez ao nosso balneário depois de se despedir no relvado. Ou seja, é um miúdo muito afetuoso, que cria muito bom ambiente junto a ele e cria muito empatia de todos os colegas e de todas as pessoas que envolvem o clube. Eu acho que é um miúdo doce, que é fácil de gostar, e que nesse aspeto vão gostar dele.
Quando olhou para ele nos primeiros treinos, o que é que lhe chamou a atenção? Já o conhecia antes de ir para o Toluca?
Sim, já o conhecia da seleção. De qualquer forma, depois também o conheci porque vi muitos jogos do Toluca antes de chegar. Era um jogador explosivo e vai continuar a ser, um jogador que tem um contra um, que arrisca, que chuta muito bem. É um bocadinho aquele jogador que vai um pouco desaparecendo do futebol, que tem iniciativa, que vai para cima e encara. Esse jogador é um jogador valioso, é um jogador que faz a diferença naqueles momentos em que, por exemplo, está mais difícil e sai de um contra um e faz um cruzamento e vai dar gol. É um jogador que encara muito defesa quando apanha a situação de um contra um.
Faz sentido olhar para o Maxi como substituto do Nuno Santos?
Uma equipa não pode ter só um jogador por posição. O Nuno é um grande jogador, certamente que o treinador terá as suas ideias bem claras para saber o que quer do Maxi e não vai ver nunca como substituto de alguém, porque o treinador olha para um plantel sabendo que vai haver jogos importantes para o Maxi a jogar, vai haver jogos importantes para outro, até ao ponto de ter um conhecimento tão grande do jogo que então o treinador vai colocar sempre aquele jogador a jogar.
E diria que ele, em relação ao Nuno Santos, joga de forma semelhante? Talvez seja mais forte no um contra um, mas inferior nos cruzamentos? O Nuno Santos é um jogador muito conhecido pelos cruzamentos que faz, em jeito de 'banana'. Como é que compara as valências de um e do outro?
O Nuno é um grande jogador e, principalmente, o Nuno tem uma definição no último momento muito boa, faz aquele último passo quase, não é um centro, não é um cruzamento, é um passe, é autenticamente uma assistência para o colega fazer o golo. E, naturalmente que o Maxi tem que melhorar, porque é um miúdo mais jovem que vai melhorar muitas coisas com o tempo. Há coisas que o Nuno certamente fará melhor que ele. Ele, se calhar, é mais explosivo do que o Nuno, por exemplo. Creio que vai aprender também muito com o Nuno, vai melhorar muito, vai ter uma excelente relação e vai com certeza ouvi-lo também nos seus conselhos.
Uma última pergunta. Que jogador do futebol mundial é que comparava com o Maxi? Quem é que o Maxi lhe faz lembrar?
Agora apanhaste-me mais desprevenido [risos]. Eu também não sei se o Ruben vai pô-lo por fora ou por dentro. E isso aí pode mudar um bocadinho as coisas. Acaba por ser mais complicado de comparar. Eu acho que, acima de tudo, ele é um jogador versátil.