Depois de Londres 2012, Michael Phelps jura que vira costas. Apesar da pressão da mãe, que quer ir ao Rio de Janeiro, em 2016. Ele diz que vai com ela, mas como turista. Ao fim de vinte anos na piscina o nadador que se tornou o atleta mais medalhado da história dos Jogos Olímpicos está farto. Ele só quer ser um tipo normal. «Fui a uma série de cidades maravilhosas. Mas não as vi. Vi o hotel e a piscina. Quero ir e fazer o que me apetece», dizia Phelps em Maio deste ano, à CNN.

Foi a mesma entrevista em que mostrou apenas sete das oito medalhas que ganhou em Atenas, porque não sabia onde andava uma delas. «Acho que quando estávamos em viagem alguém a tinha... Bem, na verdade nunca as tenho à vista», disse. E depois foi buscar as oito medalhas de ouro de Pequim a uma bolsa, uma espécie de bolsa de maquilhagem, onde estavam embrulhadas numa T-shirt velha.

Phelps é um atleta único, mas também é este tipo desprendido. E, aos 27 anos, ele decidiu escolher o segundo. Depois das medalhas de Londres, claro.

Já tem três, faltam três. Sim, ele pode chegar às 22 medalhas. Ainda vai nadar os 200m estilos, os 100m mariposa e os 4x100 estilos. Sábado, portanto, dever ser o dia em que Michael Phelps diz definitivamente adeus à sua história olímpica.

Ele anda nisto desde os sete anos. Já esteve nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000. 16 anos ao mais alto nível, para conseguir o que ninguém conseguiu. Na Austrália não ganhou nenhuma medalha, mas naquele miúdo de 15 anos com aparelho nos dentes já estava o princípio do que viria a ser o fenómeno Michael Phelps. Nos 200m metros mariposa terminou em quinto, mas foi mais rápido que qualquer outro nos últimos 50 metros.

Quatro anos mais tarde, em Atenas, começou a lenda: seis medalhas de ouro mais duas de bronze. E a seguir foi Pequim: oito medalhas de ouro. Nunca ninguém tinha ganho tantas numa só edição dos Jogos Olímpicos.

Isto deu muito trabalho. Durante cinco anos, Phelps não teve um único dia de folga. Nem no Natal, contou o seu treinador, Bob Bowman. Dias inteiros passados na piscina, 10 horas a nadar. E, depois de Pequim, Phelps perdeu a vontade.

Deixou de aparecer nos treinos, começou a duvidar de tudo. «Não sabia se ainda tinha a paixão. O Bob não podia ajudar-me. A minha mãe não podia ajudar. Tinha de ser eu. Estava numa espécie de depressão. Não fazia nada, não saía de casa, jogava jogos de vídeo», contou em Maio deste ano nessa entrevista a Anderson Cooper. «Foram vezes sem conta em que eu pensei: 'Não quero continuar a fazer isto.'»

Foram os tempos em que foi fotografado com um cachimbo de marijuana, uma imagem que lhe valeu três meses de castigo por parte da Federação norte-americana de natação. O seu treinador de sempre diz que a coisa esteve mesmo tremida, entre parar e continuar: «Houve uma altura que era 50/50.»

«No Outono de 2009 falhou meses de treinos. De uma vez foram seis semanas seguidas», conta Bowman. Mas o pior foi no verão de 2010. «Foi uma semana antes dos Nacionais. Num sábado, esperei por ele na piscina e não apareceu. Tinha ido passar o fim de semana a Las Vegas.»

Tudo mudou de um dia para o outro, nem Phelps sabe explicar bem porquê. «Não sei o que foi. Acordei uma manhã e disse: 'Vamos a isso.'» Depois, tenta avançar alguns dos motivos que o levaram a voltar a aplicar-se: «Um, estamos tão perto, e dois, estou a divertir-me outra vez.»

Enquanto esteve afastado da piscina Phelps ganhou peso e perdeu elasticidade. Teve de trabalhar muito para recuperar. Um dos métodos a que recorreu foi uma câmara que simula a altitude, instalada no seu quarto. Foi lá que dormiu nos meses que antecederam os Jogos. «Sou como o «Rapaz na Bolha», sorria Phelps em Maio, enquanto Bob Bowman via uma utilidade alternativa para o aparelho: «Às vezes tenho vontade de o fechar lá.»