Está a 90 degraus de um sonho, o de ser número um do ténis mundial, mas tem apenas 16 anos. Michelle Brito é a tenista sensação de Portugal e além-fronteiras, conhecida pelo melhor e pelo pior, pelo menos na perspectiva das adversárias, que o seu jogo tem para oferecer. Depois do feito inédito de chegar à terceira ronda de Roland Garros e de ter integrado o quadro principal de Wimbledon, Michelle está de passagem pelo seu país, onde revelou o que lhe vai na alma.
«Gostava muito de ser número um, é o meu objectivo. Se pensas que podes chegar lá e trabalhas duro, nada é impossível», contou Michelle Brito, esta quarta-feira, em Lisboa, no auditório da TMN, patrocinadora da tenista, orgulhosa por colocar o ténis feminino português «no mapa».
Para quando a concretização do sonho «é difícil dizer», mas Michelle sabe que está «no caminho certo». «Tenho de continuar a treinar, concentrada e com a mesma vontade e determinação», lembrou a atleta, inspirada pela suíça Martina Hingis, a sua tenista preferida «desde pequenina».
Chegou a Wimbledon entre as 100 melhores do mundo, depois do sucesso alcançado em Roland Garros, e prepara-se para continuar a brilhar nos mais prestigiados courts. «Estou a jogar bastante bem e estes resultados ajudaram o meu ténis. Acredito que consigo competir ao mais alto nível e resta-me continuar a fazê-lo.»
Com o êxito vem maior responsabilidade, no entanto, Michelle não sente a pressão. «Só tenho 16 anos», recordou. «Sei que há muitas que não gostam de mim. Tenho 16 e se ganho a alguém de 20 não ficam muito contentes. Têm de se habituar, não vou sair daqui e vou ficar mais forte», prometeu.
Ouvir os adeptos gritar o seu nome durante o Grand Slam londrino é recordação que recupera com entusiasmo, mas que também traz à memória imagens menos apaixonantes.
«Gosto de saber o que dizem de mim, mas às vezes fico triste com a maneira como falam dos meus gritos. Vou continuar a gritar, não vou parar de ser a jogadora que sou. Quem não sabia o meu nome de certeza que agora já sabe», garantiu a tenista lusa de sotaque americano e apenas isso, pois sente-se portuguesa.
Já lhe passou pela cabeça largar tudo, mas da mesma forma que o pensou assim o esqueceu. «É muito duro, é preciso muito trabalho, muitos sacrifícios, às vezes apetece desistir, quando nos apercebemos que não podemos ter uma vida normal. Mas consegui ultrapassar isso, lembrei-me que gosto do que faço e que já fiz muitos sacrifícios para parar agora», admitiu.
Começou a jogar com cinco anos (chegou a ser apanha-bolas) e aos nove iniciou o sonho americano. Mudou-se para a Florida, nos Estados Unidos, onde se tornou na tenista que é hoje e espera ainda vir a ser. Para tal, passa o dia na academia Nick Bollettieri, por não poder ir à escola tem um professor particular e, no pouco tempo livre que lhe sobra, lê, vai ao cinema e passeia o seu cão. «Gosto muito de animais, gostava de fazer alguma coisa nesta área quando deixasse o ténis, mas veterinária não», contou.