Começou por ser um «sonho americano». Ao fim de muitos anos, nunca se concretizou. Miguel Rosa passou metade da vida ligado ao Benfica, nunca se estreou pela equipa principal, em jogos oficiais, e saiu. Não foi para longe, aquele de quem um dia se disse que era «a alma da equipa» e «representante da mística». Agora, brilha no Restelo.

Tal como fez com o vermelho e branco das águias, continua ser um futebolista que sobressai entre os outros. Sejam eles mais 21 ou 27. A estreia no escalão principal deu-se com as cores do Belenenses. O clube que mais uma vez o acolheu, depois de perceber que voltaria a não ter espaço entre os maiores do emblema da Luz. Sobre o tema, Jorge Jesus disse que era «subjetivo».

Miguel Rosa tinha 12 anos quando chegou ao Benfica. Saiu aos 24. Meia vida na Luz, a crescer e a respirar Benfica. Cresceu tanto que lhe deram muitas vezes a maior honra que qualquer jogador, em qualquer clube pode ter: ser capitão.

A equipa principal da Luz esteve sempre ali, próxima. Em 2006, com 17 anos, já tinha registo de estar entre os grandes. Fernando Santos preparava a estreia do Benfica 2006/07 na Liga. Não tinha Nuno Assis, Rui Costa ou Simão. Nem Karagounis e Katsouranis. Para combater as ausências, chamou para treino quatro juniores: Kaz Patafta, Miguel Vítor, Miguel Rosa e Sami.

A época passou-a nos juniores. No final, Miguel Rosa partiu para os Estados Unidos da América. Na terra dos sonhos, estreou-se com a equipa principal das águias, em jogo com o Toronto. Não lhe correu bem.
«Tentou mostrar serviço mas porventura da pior maneira, através do individualismo. As coisas não saíram bem, mas tem como atenuante o facto de ter jogado fora da posição «10», que habitualmente desempenha nos juniores», escrevia o Maisfutebol em maio de 2007. Na América uma troca que perspetivava futuro, porém: frente ao AEK, saiu Rui Costa, entrou o agora jogador do Belenenses.

Passou mais uma temporada (07/08) na formação encarnada. Em 2008 renovou com o Benfica. Até 2011. Quique Flores apareceu na Luz, Miguel Rosa foi dado como certo no Desportivo das Aves e terminou no Estoril. Primeira época de sénior, 22 jogos e quatro golos na II Liga.

Nos juniores, Rosa era quase sempre um 10. Na Amoreira também o fez, mas começou a descair para um lado. «No Estoril, em 2008, jogava como médio interior esquerdo num sistema 4x4x2 losango. Ou então, como número 10», contou João Carlos Pereira, o técnico de então, ao Maisfutebol.

Na época passada, com Rosa na equipa B do Benfica, o mesmo treinador dizia. «Já não é um jogador revelação, porque já se revelou há dois ou três anos. Acredito que, mais tarde ou mais cedo, vai ser um jogador bastante utilizado no primeiro escalão.»

Parêntesis fechado, voltemos atrás. Em 2009/10, Jorge Jesus chegou ao Benfica. Miguel Rosa foi jogar para o Carregado. Uma vez mais, e como sempre, pertinho de Lisboa. Fez 31 jogos e apontou 12 golos. Época seguinte, a capital como destino. Pela segunda vez na carreira, foi noticiado num clube e acabou a noutro. Ia para Fátima, terminou no Restelo.

«Fui buscá-lo para o Belenenses e penso que nesse ano ele recebeu o prémio de melhor jogador da II Liga, com toda a justiça. Já o acompanho desde os juniores do Benfica. Marca sempre muitos golos, 15 por época, foi dos jogadores com quem mais tive prazer em trabalhar.» Rui Gregório ao Maisfutebol, em dezembro passado.

Miguel Rosa ficou aquém dos 15 golos. Marcou 11, mas recebeu mesmo a distinção de melhor da II Liga 2010/11, numa altura em que já treinava com o Benfica para a temporada que vinha.

Na Luz estavam atentos. O passo seguinte após 2010/11 foi lógico. Em maio, o próprio jogador anunciou, após a última jornada: «Já me foi garantido. Falei com o presidente, mas tanto Rui Costa como Jorge Jesus têm conhecimento. Vou fazer a pré-época e ficar [no plantel]. Vou para o Benfica para aprender com ele e com os jogadores mais experientes, como Nuno Gomes, Aimar ou Saviola

Um mês depois, a coisa foi oficializada. Miguel Rosa foi assim referenciado pelo «maestro», aquele que substituiu frente ao AEK, nos EUA: «O David Simão e o Nelson Oliveira já se estrearam na I Liga. O Miguel Rosa teve dois anos excelentes na II Liga e o Ruben [Pinto] está cá pelo que fez nos juniores. São quatro apostas fortes.»

Miguel Rosa não ficou. No Restelo sabiam o que valia e fizeram força para contar com ele de novo. Assim foi para 2011/12. José Mota e Marco Paulo orientaram-no. Fez 13 golos.

A temporada terminou e, mais uma vez, Rosa mostrou o que sentia no último jogo. Chegaram os primeiros sinais de alguma insatisfação. «Vou-me apresentar no Benfica e logo vejo o que eles querem. Espero ficar lá, porque sinto que já é altura de dar o salto para o plantel principal e que tenho qualidade para fazer parte do plantel do Benfica.»

A 27 de outubro de 2012, o Benfica foi a Barcelos. Frente ao Gil Vicente, Jorge Jesus lançou André Gomes. André Almeida entraria na segunda parte. Miguel Rosa não saiu do banco da equipa principal. E nunca mais lá voltou. Foi o mais próximo que esteve de se estrear com a camisola encarnada, ao fim de 12 anos ligado ao clube.

Por essa altura, já Miguel Rosa era um futebolista premiado. As notícias surgem todos os meses. «Miguel Rosa eleito o melhor jogador do mês na II Liga.» Só falhou dezembro. De resto, treinadores, membros do sindicato de jogadores e adeptos preferiram-no sempre.

Aliás, a meio da temporada, já não havia dúvidas de quem era a principal figura do Benfica B, um projeto com vista a alimentar a equipa principal. Rui Gregório dizia: «Olhando para o Benfica B, ele é a alma da equipa, representa a mística do clube, pela vontade de ganhar, vale pelo que joga e pelo exemplo.»

Na preparação para 2013/14, Miguel Rosa sabia o que queria. Queria jogar na Liga, queria ser feliz. Se já lá tinha visto felicidade duas vezes, por que não uma terceira ocasião no Restelo? Manteve a forma, treinou sozinho e a 2 de agosto assinou por cinco temporadas pelo Belenenses. Marcou ao Nacional, falhou golos com o Marítimo, e bisou frente ao Olhanense. A 10ª vez em que marcou dois golos num só jogo.

Antes da ida do Belenenses à Luz, Jorge Jesus foi questionado sobre Miguel Rosa. Por que não apostou num jogador que recebeu prémios atrás de prémios na época anterior, e que estava na equipa B?

«Não deixa de ser verdade que o Miguel Rosa é um miúdo com muita qualidade, mas também é verdade que temos vários jogadores para essa posição. (…) Isso é subjetivo», disse o técnico, que aludiu ao respeito de opiniões diferentes.

Miguel Rosa não jogou com o Benfica. Falhou o regresso, mas provou na jornada seguinte a ideia de João Carlos Pereira, de que é «um jogador muito rotativo, não se esconde, quer sempre criar linhas de passe, que tem uma capacidade impressionante para assistir e, para além disso, um alto compromisso com a profissão».

Em campo, confirma movimentos. Antigo 10 nos juniores da Luz, será cada vez mais o 70 do lado esquerdo do ataque do Belenenses. «Ele gosta de derivar dali para o centro, porque gosta de rematar daquela posição, um pouco como Simão Sabrosa fazia», comentou ao Maisfutebol Rui Gregório, que há menos de um ano também nos dizia: «Tenho a certeza que ele seria destaque já em qualquer outra equipa da Liga, mesmo as que lutam pela Europa.»

Atenção, que o Belenenses vai a subir.