A alcunha de tomba-gigantes fica bem ao Mirandela, mas não é propriamente algo de inimaginável. Já na última época, recorde-se, a formação transmontana esteve perto de fazer cair o Beira Mar, numa eliminatória apenas decidida nas grandes penalidades e com muito infortúnio à mistura.

Vale a pena olhar, porém, para esta equipa. Quem é afinal o Mirandela? Antes de mais, apresenta um certificado de confiança: está há quase um ano sem perder em casa. A última vez que o fez, aliás, foi em Dezembro de 2010. Mas há mais: campeão da III Divisão, quer apenas fazer uma época tranquila.

Manú, o miúdo que sonha ser Eduardo Paulo e Lopes

A falta de condições tolhe-lhe a ambição de voos mais altos, a começar pelo velho e ultrapassado Campo de São Sebastião. À parte desses condicionalismos, é um clube organizado e que saber o que quer. Divide-se entre portugueses, brasileiros e cabo-verdianos, com um treinador jovem e ambicioso.

Pedro Monteiro faz a estreia como treinador principal, depois de vários épocas de adjunto em clubes como o Desp. Chaves e o Freamunde. Manteve os princípios herdados da época anterior, embora tenha perdido jogadores importantes (Dally para o Aves, Nana K para o Freamunde e até Vaz Tê).

Um vitoriano em Mirandela: «Peço desculpa»

O jogo anda todo muito à volta do futebol de Kuca: um cabo-verdiano de 22 anos que assenta o talento com a bola numa certa inconsciência da juventude. No último ano, aliás, o Mirandela foi eliminado por uma panenkada que Kuca falhou no momento decisivo: a decisão pelas grandes penalidades.

Mas há mais: há Rui Lopes, capitão de 38 anos, que compensa a falta de velocidade com a mística do clube. Há também Paulo Roberto, um carioca que trocou a cidade maravilhosa pelo frio transmontano há dois anos para se tornar um ponta-de-lança de referência, e chato ao jeito de Liedson.

O herói carioca, com saudades do feijão preto

Depois há Manú, o guarda-redes de 21 anos, que se apresenta com cara de miúdo e acne na cara, mas que se afirma como herdeiro de Eduardo e Paulo Lopes: a herança de guarda-redes de primeira divisão nascidos em Mirandela. Frente ao V. Setúbal, foi o elemento mais fundamental de todos.

O Mirandela tem outra tradição: vários estrangeiros, entres eles o lateral Gabriel, peça fundamental na defesa e que veio do América Mineiro, onde jogou ao lado de Danilo, o futuro reforço do F.C. Porto. Há também Ericson e Persi, que com Kuca formam o trio de cabo-verdianos excêntricos e bons de bola.

Os africanos são uma aposta do presidente Vergílio Gomes, um antigo jogador que assumiu a direcção para fazer uma aposta de seriedade. O Mirandela oferece salários baixos, mais refeições e habitação. Mas tem um mérito que raro: os treinos à noite e depois do trabalho, não existem no clube.