Domingos Castro tem 39 anos e quase 25 de carreira no atletismo. Em 1986, conquistou o primeiro grande título, a medalha de prata nos Mundiais de Roma, momento que guarda na memória como o mais feliz de todo o seu percurso. Mas o mais premiado dos gémeos Castro, irmão de Dionísio, conta no seu palmarés com cinco títulos individuais em campeonatos nacionais de corta-mato (1990, 1991, 1992, 1993 e 1994) e cinco colectivos na Taça dos Campeões Europeus (1985, 1986, 1987, 1989 e 1990).

Domingos Castro nasceu em 22 de Novembro de 1963, iniciou carreira no Sporting Clube de Portugal e antes de formar a sua própria equipa, a Gémeos Castro, passou ainda pelo Maratona Clube de Portugal. Fora de portas, conquistou o ouro nas maratonas de Paris, em 1995, e de Roterdão, em 1997, ano em que estabeleceu a segunda melhor marca do mundo da especialidade. Em 1999, conquistou o título nos 20Km de Paris e trouxe a prata da maratona de Nova Iorque.

No próximo domingo, Domingos Castro corre o Nacional de corta-mato longo na pista do Estádio Nacional, no Jamor, e se vencer torna-se no mais velho campeão português da modalidade.

MaisFutebol: Como se sente física e psicologicamente para enfrentar a corrida de domingo?

Domingos Castro: Sinto-me bem, estou preparado de uma maneira geral, em tudo.

MF: Sabemos que se vencer torna-se o atleta mais velho, com 39 anos, a vencer o Campeonato Nacional de corta-mato longo. O que significa isto para si?

DC: Tem um significado especial, atendendo ao facto de que, sendo Portugal uma escola de meio-fundo e fundo, com atletas de grande valor, se um atleta quase com 40 anos conseguir atingir a vitória será uma coisa inédita, embora reconheça que não vai ser fácil, porque os concorrentes são de uma categoria muito elevada. Vou tentar e estou confiante de que o posso fazer, mas sempre com muita humildade e respeito pelo meu adversário.

MF: Concorda que esta será uma competição «mais aberta» e sem vencedores anunciados?

DC: Concordo consigo plenamente e não só a nível individual como colectivo. Penso que será o corta-mato nacional mais emocionante dos últimos anos, porque na realidade à partida não se sabe quem poderá ganhar individualmente, nem no sector colectivo. Vai haver um interesse muito grande em se saber quem é que vai ganhar.

MF: A equipa Gémeos Castro parte como grande favorita. Concorda com esse estatuto?

DC: A equipa Gémeos Castro é uma das favoritas, porque realmente temos atletas de grande nível. Eu já disse que temos três atletas que podem ganhar individualmente, mas também temos algumas dificuldades com o nosso quarto homem que não se sabe quem vai ser. Temos também este problema que nos aconteceu, da família do Carlos Calado, que afectou não só a ele mas de um modo geral toda a equipa. Ninguém passou imune a esta tragédia. Ele estava connosco, estávamos em estágio e estamos com ele diariamente, no nosso pensamento, e eu estou com ele vinte e quatro horas por dia.

MF: Quais os nomes que aponta para as medalhas?

DC: Os três atletas que poderão chegar às medalhas são Domingos Castro, Eduardo Henriques e Hélder Ornelas, mas isto em relação à minha equipa, porque eu não me esqueço do adversário que também tem as mesmas possibilidades.

MF: Depois do Nacional de corta-mato, quais as outras provas que estão na mira de Domingos Castro?

DC: O Campeonato do Mundo, uma prova em que já detenho um recorde de presenças. Se eu participar nesta será a 18ª, um recorde que acho que já é imbatível, depois há o Challenge dos dez mil metros. Mas, realmente, o meu grande sonho de fim de carreira são os Jogos Olímpicos. Seriam os meus quintos Jogos Olímpicos e eu diria que é um sonho, porque não é fácil para um atleta de meio-fundo e fundo participar em tantos jogos e numa carreira com uma longevidade tão grande como a que eu tenho, que já são quase vinte e cinco anos, e com 40 anos consegui-lo acho que é um feito inédito. Estou a preparar-me para isso.

MF: Nestes anos todos de carreira, destaque o momento menos bom e aquele que mais o marcou pela positiva.

DC: Nos momentos menos bons temos sempre as lesões, mas há um momento que marcou a minha carreira para toda a minha vida e que foi a perda da medalha no Jogos Olímpicos de Seul (1988). Em cima da meta, eu era segundo, era medalha de prata e fui parar a quarto. Esse foi realmente um momento muito triste da minha carreira, porque embora fosse um quarto lugar nos Jogos Olímpicos, que já é um lugar de honra, o que me aconteceu foi uma tristeza muito grande, que me marcou para toda a vida. Isso também faz parte da vida de um atleta. Quanto ao melhor momento, ele tinha acontecido no ano anterior quando me sagrei vice-campeão do mundo em Roma, fui medalha de prata ainda muito jovem e numa altura em que praticamente ninguém me conhecia.

MF: Nessa altura, estava no Sporting. O que guarda na memória desses tempos?

DC: Corri no Sporting durante dezoito anos, facto de que me orgulho muito. Toda a gente sabe que sou sportinguista e aquilo que sou hoje, não só na minha vida social e económica, devo-o ao Sporting e a todas aquelas pessoas que me ajudaram, nunca esquecendo que o principal causador disso foi o professor Moniz Pereira. Realmente no Sporting há uma virtude, porque não se fazem só campeões, mas também se fazem homens e felizmente passei por essa escola.

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