Uma comissão independente elaborou um relatório onde considera que os antigos dirigentes da União Ciclista Internacional (UCI) protegeram Lance Armstrong nos casos de doping para não mancharem a reputação da modalidade.


No relatório divulgado esta segunda-feira, a Comissão Independente para a Reforma do Ciclismo (CIRC) garante que o tratamento dado ao norte-americano foi preferencial.


«A UCI viu-o como uma figura ideal para o renascimento do ciclismo depois do escândalo com a Festina, em 1998», refere o relatório.


A CIRC vai mais longe e aponta que o facto de ter sobrevivido a um cancro fez com que o ciclista fosse tratado de forma diferente: «A UCI não conseguiu perceber que Armstrong, o herói que sobreviveu a um cancro e era um ídolo para os adeptos, tinha os mesmos direitos e obrigações.»


Brian Cookson, atual presidente da UCI, refere que o relatório mostra que, no passado, o organismo sofreu com uma má governação e que o doping é um problema «endémico» na modalidade.


«Foram feitos esforços para resolver este problema e houve progressos significativos com o passaporte biológico», afirmou.


Cookson garante que a UCI não vai fechar os olhos ao doping e espera que os ex-presidentes Hein Verbruggen e Pat McQuaid se afastem do ciclismo: «Espero que não tenham mais nenhum cargo no ciclismo».


O atual presidente afirmou que vai escrever ao holandês Hein Verbruggen e pedir que este renuncie ao cargo de presidente honorário.


Recorde-se que apesar de não serem encontradas ligações entre as doações de Armstrong à UCI (no valor de 125 mil dólares) e o encobrimento de atos ilícitos, a comissão considera que os atos são suspeitos, deixando no ar a má governação dos ex-presidentes.


Por exemplo, em 1999, o norte-americano foi autorizado a entregar, com efeitos retroativos, uma receita médica para evitar uma sanção na Volta a França, quando quatro dos 15 testes feitos acusaram o consumo de corticosteroides.


O documento acusa também que em 2009, quando o ciclista voltou à competição, foi autorizado a competir sem ter efetuado todos os testes necessários.


A CIRC, com o apoio da UCI e do atual presidente, foi constituída para investigar a atuação do organismo durante o caso Lance Armstrong.


Tudo começou quando, em 2013, Armstrong confessou o recurso ao doping sistemático e admitiu que em 1995 essa prática estava generalizada.