Se palavras faltam, as lágrimas e os abraços sobram.
As lágrimas por um apuramento inédito. Os abraços de uma conquista épica.
Também as lágrimas por Alfredo Quintana que, por exemplo, António Areia não conteve, duas semanas após uma perda irreparável e também logo após soar a buzina que confirmou a vitória portuguesa por 29-28, rumo aos Jogos Olímpicos.
Este é um dos maiores feitos da história do andebol português. Conseguido de forma heroica. Extraordinária. Com muito coração e cabeça. E com a camisola de Quintana, nunca esquecido, no banco de suplentes da seleção.
Basta dizer que Portugal entrou para os últimos quatro minutos a perder por três golos (25-28). A partir daí, não sofreu mais nenhum golo da França, que estava, mesmo que sem público, a jogar o pré-olímpico no seu país, em Montpellier.
Iturriza e António Areia relançaram as esperanças num ápice (27-28) e, após um vaivém de emoções e do empate a 28 golos conseguido a um minuto do fim, Rui Silva arrancou após recuperação de bola lusa na marcação individual e assinou uma reviravolta quase impensável, a seis segundos do final. A França repôs e ainda marcou, mas os árbitros consideraram o possível empate a 29 inválido. E soltou-se a festa portuguesa.
Depois do sexto lugar no Europeu de 2020 e de ter ficado a um passo dos «quartos» do Mundial, há cerca de mês e meio, o andebol de Portugal continua a fazer história. Vai a Tóquio, às olimpíadas, nas quais Portugal até agora só estado representado pelo futebol numa modalidade coletiva.
E vai com Quintana no pensamento e nos corações de todos. De António Areia, melhor marcador de Portugal esta noite (seis golos) até ao selecionador. De todos os colegas do FC Porto na seleção aos restantes. Todos contam e vão continuar a contar para, em julho, fazerem de novo história por um país e por um nome que, entre os postes, fez vibrar tanto os portugueses nos últimos tempos.
Coragem e cabeça após entrada em falso
Portugal entrou mal no jogo. Esteve a perder por 9-3, mas Paulo Pereira serenou as hostes com o desconto de tempo, para parar uma França que marcava tudo e mais alguma coisa. Já fazia lembrar o duelo do Mundial…
Com três exclusões nos gauleses até ao intervalo e o reajuste dado pelo selecionador, Portugal manteve a cabeça, teve coragem e lançou-se ao jogo e ao resultado. Reduziu para 5-11 e deixou depois a França oito minutos sem marcar, assinando um parcial de 3-0 que levou o jogo para 8-11. A progressiva melhoria levou o jogo com 12-13 para o descanso, a margem mínima que mantinha Portugal ligado ao jogo.
Na segunda parte, equilíbrio total. Nunca o marcador viu uma diferença de dois golos até ao minuto 50, quando a França chegou aos 23-25. A equipa de Guillaume Gille descolou, sim, mas por pouco.
No final, o voo final para a vitória foi português.
Foi a resiliência. O festejo de Rui Silva de braços ao alto. Os múltiplos abraços e sorrisos. Da raça de André Gomes até à coragem de Iturriza, também visivelmente emocionado.
Ah, falta dizer que agora vem aí também a tatuagem dos anéis olímpicos. A aposta interna por este apuramento.
E também falta dizer que nem tudo foi mau para a França apesar da derrota: segue com Portugal para os Jogos Olímpicos no grupo 2 e a poderosa Croácia, que vencera já a Tunísia este domingo (30-27) cai pela diferença de golos.