No Dia Internacional da Mulher fique a conhecer Rita Martins, a melhor jogadora de futsal de Portugal. Aos olhos de muitos e da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), que a elegeu como tal.

Os pormenores também o comprovam.


Tem 35 anos, 20 deles ligados ao futsal feminino. E ainda hoje, sem hesitar, Rita Martins admite em entrevista ao  Maisfutebol: «Vivo de e para o futsal. E vivo feliz. Sinto-me realizada, mas quero dar ainda mais ao futsal e ao desporto feminino.»

«Tudo começou aos 14 anos, no âmbito do desporto escolar. Um professor convidou-me a participar. Fui, gostei e fiquei», começou por dizer.

Entretanto já passou por vários clubes: Caxiense, Os Lobinhos, Novos Talentos e está há onze anos no Benfica – com uma pausa de seis meses, para se aventurar no espanhol Valladolid, em 2011.

Mas não se dedica só ao futsal: «Formei-me em educação física, porque sempre gostei desta área. E sempre tive jeito. Seja andebol, voleibol ou desportos de aventura. Nos tempos livres faço bodyboard e, às vezes, snowboard.»

E também já deu aulas, trabalhou em ginásios e atualmente é responsável pela área da gestão desportiva do núcleo do futsal do Benfica.

Ou seja, não para. «É sempre uma correria. Sempre foi assim. Com aulas a terminar tarde e com os treinos a seguir. Piorou quando trabalhava em vários sítios ou quando decidi tirar o mestrado, mas é um cansaço que compensa porque faço realmente o que gosto», confessa.

Por isso, tem o sucesso que tem.

«A melhor é sempre subjetivo. Não me sinto a melhor»

Mas tem regras, poucas: «Sempre tive uma boa alimentação. Não faço ‘avarias’. Só como coisas saudáveis, seis vezes por dia, não como fritos e nem bebo refrigerantes. Além disso, durmo sete a oito horas por dia.»

Isso explica também que em 20 anos de carreira tenha tido apenas duas lesões: «Nunca foram muito graves. Tive uma entrose num pé, que me obrigou a uma paragem de um mês, e uma rotura muscular, que me afastou da competição durante dois meses.»

«Ter poucas lesões ajuda a que consigamos ter uma longa vida desportiva», confirma.

E assim mantém o nível. A universal benfiquista faz tudo por isso e admite que quando achar que perdeu qualidades, deixa a modalidade: «Desde 2010 que penso ano a ano. Enquanto me sentir bem e for uma mais-valia para a equipa irei continuar. Assim que achar que não estou a contribuir para o sucesso da equipa ou a ter sucesso pessoal, saio. No final da época logo vejo. Se só estiver a 50 por cento, abandonarei.»

No entanto, aconteça o que acontecer, já soma quase 40 internacionalizações por Portugal, tem 23 títulos – só lhe falta ser campeã do Mundo – e tem mais de 500 golos marcados.

Um dos troféus chegou há poucas semanas. Foi consagrada como a melhor futsalista do século pela FPF: «Fiquei orgulhosa. Mas pelos anos de carreira e títulos é normal a distinção. A melhor é sempre subjetivo. Não me sinto a melhor e, atualmente, não sou mesmo a melhor. Em 20 anos apanhei duas gerações diferentes, joguei com e contra as melhores… e, claro, estou muito orgulhosa pela minha carreira. Nisso sinto que tive mais sorte do que outras, sinto-me uma privilegiada.»

A falar já um pouco no passado, mesmo que arrume as sapatilhas não abandona o futsal. «Quero continuar a promover a modalidade, promovi-a enquanto atleta e quero continuar a fazê-lo. Até porque gosto muito de desporto, de estar ligada a ele e ao futsal feminino», revelou.

«Não menosprezar, nem negar, logo à partida, só porque são mulheres a jogar»

Rita Martins considera que a modalidade, e que todas as modalidades femininas, carecem de visibilidade e quer ajudar a alterar isso: «Falta trabalhar esse aspeto, porque a qualidade existe. É preciso mostrá-lo mais; promovê-lo mais. Falta muito isto. As pessoas não conhecem. Como muitas também não conhecem os feitos das portuguesas no voleibol, no hóquei em patins ou no andebol, onde somos campeãs mundiais.»

E as mulheres são tão profissionais e têm tanta qualidade quanto os homens. «É óbvio que há diferenças e que, por exemplo, o futsal feminino se joga de maneira diferente do masculino. São espetáculos diferentes: o nosso é mais técnico, menos físico e, por isso, mais bonito. No masculino há mais velocidade e contato físico.»

Mas há coisas iguais: «Há golos e jogadas igualmente bonitas. Como há jogos aborrecidos, seja de homens ou mulheres.»

Por isso, para quem gosta da modalidade a ‘regra’ também tem de ser: «Não menosprezar, nem negar, logo à partida, só porque são mulheres a jogar.»

Quer mais uma prova e um exemplo de genialidade feminina? Este atravessou o Atlântico.