Um Tweet de Tyrann Mathieu, o safety do Kansas City Chiefs, na última madrugada, logo a seguir à vitória no mediático Super Bowl, abriu as páginas de uma história de uma vida recheada de drama do jovem de 27 anos. Uma história que envolve prisão, drogas e até a dispensa da primeira equipa que representou na NFL, até à glória alcançada na última madrugada no Hard Rock Stadium

«Mal posso esperar que o meu pai me ligue da prisão. Sei que há 321 televisões na Unidade Prisional de Hunts e sei que todas elas estavam sintonizadas no Super Bowl e que estavam todos a torcer por nós. Conseguimos», escreveu o jogador dos Chiefs nas redes sociais.

Uma mensagem publicada num dos dias mais felizes da vida de Tyrann Mathieu, nascido em 1992, em Nova Orleães. Uma mensagem dirigida ao pai biológico com quem teve pouco contacto desde que nasceu no Louisiana há 27 anos. Quando Tyrann nasceu o pai, Darrin Hayes, estava detido por roubo. Quando Tyrann completou dois anos, o pai saiu em liberdade, mas voltou a ser detido, no mesmo dia, por homicídio. Foi condenado a prisão perpétua.

Apesar de tudo, Tyrann foi mantendo, ao longo da vida, contacto com o pai e os dois criaram laços, como prova o tweet de Tyrann no final da Super Bowl.

Com o pai atrás das grades, Tyrann também não teve muito contacto com a mãe biológica que o abandonou ainda na infância. O pequeno Tyrann acabou por ser criado pelos avós e, quando estes morreram, foi adotado pelos tios, Tyrone e Sheila, que acabaram por o acolher como um «filho» para o resto da vida.

Tyrann destacou-se desde muito cedo como um atleta de eleição e competia, tanto no futebol americano, como no atletismo, pelo colégio de St. Augustine, ao ponto de ter ganho uma bolsa para entrar na famosa LSU [Louisiana State University] em 2010. Fez duas épocas extraordinárias nas ligas universitárias e, em dezembro de 2011, ganhou o prémio Chuck Bednarick, que distingue o melhor defesa do futebol universitário.

Um percurso de sonho que ameaçou desmoronar-se no ano seguinte, em 2012, quando foi subitamente dispensado pela LSU pelo consumo de canabis. Tyrann entrou de imediato num programa de reabilitação, de forma a tentar reverter a decisão da universidade que, afinal de contas, era a porta de entrada para a NFL, a liga de futebol norte-americano. Um esforço inglório, uma vez que em outubro de 2012, Tyrann e três antigo colegas foram detidos por posse de marijuana.

Apesar dos recorrentes problemas com drogas, Tyraan anunciou, em dezembro de 2012, que iria entrar no draft de 2013 da NFL. Tyrann tinha noção que o seu passado ia reduzir-lhe as possibilidades. As escolhas foram passando e o jovem protagonista desta história acabou por ser o 69.º pick, escolhido pelo Arizona Cardinals. A sorte grande com um contrato superior a 3 milhões de dólares, com um prémio de assinatura de 265 mil dólares.

Ficou nos Cardinals até 2018 de forma sempre inconstante. Sempre que parecia estar a ganhar espaço na equipa, era afastado por problemas físicos. Teve lesões nos ombros, no ligamento cruzado anterior do joelho, no ligamento colateral lateral do joelho, no tornozelo e até nos polegares. Ao ponto da equipa do Arizona lhe fazer um ultimato: ou aceitava uma redução salarial ou teria de procurar uma nova equipa. Mathieu não aceitou e acabou mesmo por ser dispensado.

Poucos dias depois, o safety estava a assinar pelos Houston Texas, com um contrato de 7 milhões de dólares. Acabou a temporada com números que chamaram a atenção dos Chiefs: 89 tackles, três sacks, oito passes defendidos e duas interceções. Aproveitando uma indefinição no contrato com a equipa do Texas, o Kansas Chiefs avançou, em outubro de 2019, com uma proposta para um contrato de três anos avaliada em 42 milhões de dólares.

Menos de um ano depois, Tyrann estava em Miami a festejar a conquista do Super Bowl.