A Liga Europeia de Hóquei em Patins de 2015/16 está pintada com as cores nacionais e só o desfecho da final-four pode travar a euforia portuguesa à volta da competição.

A Final-Four vai ser disputada em Lisboa, no Pavilhão da Luz, contará com duas equipas portuguesas em prova, Benfica e a Oliveirense, e terá bancadas esgotadas para a final, para a o jogo da meia-final das «águias» e, tudo indica, também para a semi-final do conjunto de Oliveira de Azeméis.

Barcelona e Forte dei Marmi (Itália) vêm com a missão de estragar uma festa lusa e têm nos sticks a oportunidade de evitar uma final 100 por cento portuguesa, como aconteceu há três anos no Dragão Caixa, quando o Benfica conquistou a sua primeira Liga Europeia da história ao bater o FC Porto, após prolongamento.

Os catalães vão novamente jogar com o Benfica nas «meias», como sucedeu nessa edição vitoriosa para os «encarnados» em 2013, como quando, em 2015, derrotaram o FC Porto e como em 2014, edição que jogaram em casa e se «vingaram» do triunfo das águias do ano anterior.

Nicolia: o campeão do mundo de hóquei (e da humildade) que mora na Luz

Na outra meia-final, a Oliveirense enfrenta o Forte dei Marmi, num confronto entre dois conjuntos de menor nomeada, mas que conseguiram a proeza de eliminar dois dos semifinalistas da última época. Os portugueses bateram o FC Porto e os italianos eliminaram os vencidos de 2015, o VIC.

A ação desenrola-se neste fim de semana e quem rumar à Luz terá a oportunidade de ver grandes executantes da modalidade como Carlos Nicolia, do Benfica, e Ricardo Barreiros, da Oliveirense.

Os dois jogadores fizeram a antevisão da Liga Europeia ao MaisFutebol e garantiram que só há um objetivo: levantar o troféu.

«Era bom para o hóquei nacional que fossem duas equipas portuguesas [na final] porque isso garantia que o título ficava em Portugal», disse o internacional português da Oliveirense, que em seguida disparou a ideia que está presente na sua cabeça e que fez questão de deixar aos seus companheiros: «O que eu quero é que a Oliveirense esteja na final. Não penso no adversário que posso vir a enfrentar e estou a ser sincero. Tenho já alguma experiência nesta competição e sei que é importante olharmos para o primeiro jogo e somente para esse jogo. No domingo logo se verá.»

São palavras de um jogador bicampeão europeu pelo Liceo da Corunha, que está habituado a estas fases finais da Liga Europeia, inclusive do tempo em que representou o FC Porto e o Benfica e que, por isso, devem ter sidas em conta. Do outro lado está Carlos Nicolia, argentino que é atualmente campeão do mundo e para muitos o melhor executante da modalidade, mas que nunca ganhou a mais importante competição europeia de hóquei.

«Se estamos na Final-Four é porque merecemos e agora queremos competir com o Barcelona da melhor maneira», afirmou.

Nicolia voltou a jogar no último fim de semana, após quase dois meses ausente por lesão. Será a melhor versão do argentino que os benfiquistas terão em campo: «Estive quase dois meses sem jogar, a treinar todos os dias com o objetivo de chegar aqui o melhor possível esperando dar uma ajuda à equipa para chegar ao objetivo que é competir e tentar alcançar o melhor resultado para Benfica.»

O foco dos dois jogadores é o mesmo, o jogo da meia-final, mas o pensamento está na possibilidade de levantar a Taça. Se o Benfica já o conseguiu por uma vez, em 2013, a Oliveirense é estreante nestas fases, mas isso não impede o sonho.

«Era o nosso objetivo chegar a esta fase, está toda gente satisfeita por ter chegado até aqui, mas não chega. É legítimo da nossa parte ter ambição para ir mais além, de ambicionar poder conquistar alguma coisa de muito bonito para este clube porque estas pessoas merecem», salientou Ricardo Barreiros.

Quanto ao Benfica, precisa novamente de vencer o Barcelona para chegar ao jogo decisivo da prova e Nicolia aponta baterias à «vingança» da meia-final de 2014: «Este ano temos a possibilidade de mudar esse momento, o que será positivo para a equipa. Vamos tentar aproveitar o nosso potencial para chegarmos a domingo às 14 horas [quando for a final] contentes.»

Este duelo das «meias» será o confronto entre os dois últimos campeões europeus. O Barcelona é o bicampeão em título enquanto o Benfica foi o vencedor anterior da competição. Será por isso uma final antecipada?

«Seguramente. São duas das melhores equipas do mundo, mas sabemos do nosso potencial, trabalhamos todo o ano para estas partidas e temos muita confiança em nós. Com humildade e o trabalho de todos os dias, vamos tentar alcançar um resultado bom contra o Barcelona», referiu o argentino.

Ricardo Barreiros percebe o porquê de considerarem «águias» e «culés» os favoritos, mas explica o seu ponto de vista: «É natural que os nomes de Benfica e Barcelona saltem mais à vista, mas não vamos esquecer o percurso da Oliveirense e do Forte dei Marmi até aqui, que tiveram que eliminar equipas muito, muito importantes. No nosso caso, eliminámos o FC Porto. E o Forte dei Marmi eliminou o VIC, que no ano passado foi finalista com o Barcelona. Estamos a falar de quatro das seis ou sete melhores equipas do mundo.»

Falando da equipa italiana, que conta nas suas fileiras com Pedro Gil, ex-jogador do FC Porto, Ricardo Barreiros garantiu que a Oliveirense não teve sorte no sorteio ao evitar Benfica e Barcelona.

«Nesta altura não há adversários fáceis. O adversário chame-se como se chamar vai querer ir mais além e nós não fugimos à regra. Sabemos que vai ser um jogo muito difícil porque é uma equipa recheada de grandes jogadores. Aliás é uma equipa que se qualificou para a final do play-off da liga italiana. Vai ser uma «final» e um bom jogo de hóquei», assegurou.

O camisola 5 do Benfica vai na mesma onda, salienta o grau de dificuldade que este duelo com o Barcelona terá, mas diz que os catalães também terão que estar ao seu melhor nível para vencer a «águias».

Este Barcelona, nesta Liga Europeia, já jogou contra o FC Porto, na fase de grupos, com os «dragões» a vencerem os dois duelos. O Benfica já venceu os azuis e brancos na Liga e lidera o campeonato com mais onze pontos que o rival (embora com mais uma jornada disputada) e está a um do título. Estes dados não servem de comparação, diz Carlos Nicolia.

«Somos equipas totalmente diferentes. Nós entrámos para ganhar, para marcar muitos golos, tratar de ganhar os jogos com maior vantagem possível. Não é um ponto de comparação. Creio que o Barcelona vai jogar com o Benfica de forma diferente do que joga com o FC Porto. Vamos aproveitar, sabendo que eles nos respeitam. Tenho vários companheiros em Barcelona, que são argentinos e eles respeitam-nos muito. Vamos respeitá-los para sacar um bom resultado.»

No campeonato interno, a Oliveirense está no terceiro posto e já não consegue subir mais. Ricardo Barreiros refere que a equipa foi «martirizada» com lesões: «No futebol, os plantéis têm 25 ou 30 jogadores e há sempre soluções, aqui somos 10 e se falha um ou dois é 10 ou 20 por cento da equipa.»

«Estamos mais talhados para este tipo de competições como é a Liga dos Campeões, para finais e jogos a eliminar, do que propriamente campeonatos de regularidade de sete ou oito meses.»

A minoria da Oliveirense que é inspiração para Ricardo Barreiros

Ao Benfica não faltará apoio e Carlos Nicolia afirmou que os adeptos serão um trunfo que os «encarnados» vão ter nesta fase. Não tem dúvidas que o pavilhão será «um inferno» na partida com o Barcelona, no sábado às 15 horas.

Mais tarde, às 18h30, a Oliveirense joga com os italianos do Forte dei Marmi e a possibilidade de os benfiquistas puxarem pelo clube português é a mais legítima e será a mais lógica. Confrontado com isso, Ricardo Barreiros enalteceu os 250 adeptos que se vão deslocar do norte do país.

«Nós sabemos que vamos ter no mínimo 250 adeptos, que vão de Oliveira de Azeméis no dia para ver o jogo. Isso é um ponto muito importante de motivação para nós porque demonstra que as pessoas têm crença e fé que podemos atingir algo de importante no clube. Isso é importante porque vamos sentir-nos praticamente em casa. É importante ser realizado em Portugal porque é bom para o hóquei português, mas no nosso caso em particular porque vamos ter a nossa gente a apoiar.»

No caso individual de Barreiros, é um regresso a um pavilhão que já foi a sua casa, algo que também não diz ter elevada importância. «Tenho boas recordações com a camisola do Benfica daquele pavilhão, tenho boas recordações com outras camisolas daquele pavilhão. É sempre melhor do que ir jogar a um sítio que não conhecemos, mas não conto com mais apoio ou pontos a favor do que os que os meus colegas vão sentir.»

«No meu caso, vou ter muita família porque ela é de Lisboa, mas não acho que vá tirar muito mais de positivo pela competição ser na Luz. O mais importante é saber que está lá a nossa gente e que acredita em nós», finalizou.