A morte do praticante de Artes Marciais Mistas (MMA) português João Carvalho após um combate na Irlanda está a ser alvo de duas investigações.

Num procedimento normal aplicado a todas as mortes súbitas a polícia irlandesa, iniciou uma investigação, cujo resultado será entregue para análise por um magistrado do Tribunal do Coroner de Dublin. Também a Autoridade de Segurança e Saúde (HSA na sigla inglesa) está a fazer um inquérito preliminar às circunstâncias do acidente para ver se há motivo para uma investigação integral.

«Geralmente, as pessoas vítimas de lesões ou que morrem durante uma atividade desportiva não fazem parte do âmbito da HSA. Porém, vamos examinar as circunstâncias deste trágico acidente para determinar se existe uma relação empregador/empregado e se nós temos uma incumbência», afirmou um porta-voz da HSA à agência Lusa.

João Carvalho, conhecido por Rafeiro, morreu na segunda-feira à noite, num hospital de Dublin, onde deu entrada em estado crítico depois de um combate na capital irlandesa, o primeiro internacional da carreira do atleta de 28 anos.

A Nobrega Team, a equipa com a qual treinava, manifestou «grande consternação e tristeza» pelo sucedido, mas acrescentou considerar que «foram cumpridas todas as regras de segurança» e que «a arbitragem seguiu todos os procedimentos corretos e habituais».

«Estamos a reunir informação com o apoio da Associação Irlandesa de Lutas Amadoras e a aguardar pela divulgação dos relatórios médicos oficiais. Até lá, não podemos comentar este incidente isolado e muito triste, a não ser dizer que oferecemos o nosso apoio», concluiu.

Ainda segundo fonte oficial da polícia, para esta quarta-feira está marcada uma autópsia, cujos resultados serão conhecidos mais tarde.

A Associação Irlandesa de Pancrácio Amador, responsável pelos combates de MMA, mostrou-se disponível para colaborar em qualquer investigação.

Imagens do combate mostram que o português sofreu vários golpes na cabeça enquanto estava no chão, mas o pai do atleta vencedor, Charlie Ward Senior, disse numa entrevista à rádio RTÉ Radio 1 que o filho se coibiu de bater com força no último round e que ficou bastante afetado pelo sucedido.

«Ele não queria matar ninguém. Foi uma daquelas coisas infelizes. Ele foi para ganhar o combate, mas na minha opinião o árbitro podia ter sido um pouco mais rápido [a interromper]», garantiu.

O incidente está a ser alvo de intensa cobertura pela comunicação social e levou o ministro do Desporto, Michael Ring, que expressou condolências à família do português e disse aguardar o resultado da investigação policial.

Também a Federação Internacional de Artes Marciais Mistas, responsável pela prática de MMA, anunciou estar a «reunir informação» sobre o sucedido e informou que aguarda os relatórios médicos, indicou o presidente Kerrith Brown, citado pelo Irish Times.

Entretanto Conor McGregor, campeão do UFC (Ultimate Fighting Championship), publicou na sua página de Facebook uma mensagem de tributo ao português.

«Terríveis notícias a respeito de João Carvalho.

Ver um jovem a fazer aquilo que ama, a lutar por uma oportunidade de uma vida melhor, e depois ficar sem tudo isso, é mesmo de partir o coração.

Somos apenas homens e mulheres que fazem aquilo que amam na esperança de conseguir uma vida melhor para nós e para as nossas famílias. Ninguém que esteja envolvido em desportos de combate de qualquer género quer ver isto. Isto é algo tão raro que nem sei como o encarar.

Eu estava junto ao ringue a apoiar o meu colega de equipa, a luta estava a ser tão equilibrada que não consigo compreender.

As minhas condolências para a família do João e para a sua equipa. Este homem era um lutador dos diabos e deixará muitas saudades.

Os desportos de combate são uma loucura, e com os incidentes recentes no boxe e agora no MMA, é uma altura triste para se ser lutador e um fã de lutas.

É fácil para quem está fora criticar o nosso modo de vida, mas para os milhões de pessoas em todo o mundo que melhoraram as suas vidas, a sua saúde, o seu bem-estar físico e a sua força mental através do combate, este é mesmo um 'comprimido' difícil de engolir. Perdemos um de nós.

Espero que recordemos o João como um campeão, que perseguia o seu sonho a fazer aquilo que amava, e que lhe mostremos o respeito eterno e a admiração que ele merece.

Descansa em paz, João»