Missy Franklin tem 18 anos, é caloira na universidade de Berkeley, anda preocupada com os exames do semestre e acaba de ser eleita melhor atleta do mundo em 2013. Foi a vencedora feminina dos prémios Laureus, os troféus que distinguem os melhores do desporto a cada ano. O eleito masculino foi Sebastian Vettel, o mais jovem tetracampeão do mundo de Fórmula 1, que ganhou numa categoria onde também estava nomeado Cristiano Ronaldo. A outra grande vencedora foi Missy, a adolescente que é um fenómeno.

Ela leva três anos seguidos a bater recordes na piscina. Em 2011 ganhou cinco medalhas nos Mundiais, três das quais de ouro. Também bateu nesse ano o recorde do mundo dos 200m costas em piscina curta, tendo sido a primeira a superar uma marca mundial depois da abolição dos fatos completos na modalidade, considerados responsáveis por dar uma vantagem tecnológica acrescida a quem os usava.

Já estava entre os favoritos quando chegaram os Jogos Olímpicos de Londres. Que a apanharam no meio de uma tragédia. Missy vivia em Aurora, no Colorado, a cidade abalada pelo massacre de 12 pessoas por um atirador durante a estreia do filme «Batman».

Em Londres superou as expectativas. Então com 17 anos, ganhou cinco medalhas: quatro de ouro (100m e 200m costas, a sua especialidade, mais os 4x200 livres e 4x100 estilos), mais uma de bronze (4x100 livres). Pelo meio bateu dois recordes do mundo, nos 200m costas e nos 4x100 estilos. Foi a segunda atleta mais medalhada nos Jogos, atrás apenas, claro, de Michael Phelps. 



Há um ano estava em Barcelona, para os Mundiais de natação de 2013. Despediu-se com seis medalhas de ouro: 100 e 200 metros costas, 200 metros livres, 4x100 e 4x200 metros livres, mais 4x100 metros estilos. Nunca uma mulher tinha ganho tanto num campeonato mundial. E apenas quatro fizeram igual ou melhor num Mundial ou nuns Jogos Olímpicos. Foram Michael Phelps, Mark Spitz e Ian Thorpe, mais a alemã Kristin Otto, seis vezes vencedora nos Jogos de 1988, em Seoul.

Depois acabou o liceu e entrou na universidade, com uma bolsa para estudos sociais na universidade de Berkeley, California. Abdicou de patrocínios e contratos publicitários para manter o estatuto de amadora nos seus dois primeiros anos de universidade. O seu plano é competir nos campeonatos da NCAA de 2015, depois concentrar-se de forma profissional na preparação dos Jogos Olímpicos de 2016.

Missy, que depois de Londres ainda competiu ao longo da época pela equipa do seu liceu, diz que gostava de manter até ao fim dos estudos o estatuto de amadora, mas tem noção de que é a sua independência financeira, e da família, que estão em causa.

«Adoraria nadar pela universidade durante todos os quatro anos, mas eu e os meus pais sabemos que isso seria provavelmente um enorme erro financeiro. O dinheiro que posso ganhar pode ajudar a sustentar-me e à minha família por muitos anos», dizia no verão passado numa reportagem do Chicago Tribune, que estimava em dois a quatro milhões de dólares o dinheiro que ela podia ganhar apenas em patrocínios se tivesse assumido o profissionalismo logo a partir de Londres.

Ela quer aproveitar estes tempos como os outros adolescentes, e viver a experiência como outra caloira qualquer. Com o seu sorriso permanente, entusiasma-se com cada momento.





Também fica nervosa com os exames, embora os seus próprios colegas tenham dificuldade em acreditar que alguém habituado à pressão da alta competição não encare tranquilamente um qualquer teste escolar. Numa reportagem do San Jose Mercury News, a própria Missy contava que tinha comentado com colegas que estava preocupada com um exame que se aproximava, ao que alguém lhe respondeu: «És a Missy Franklin. Como podes estar nervosa para um exame?»

«Claro que fico nervosa. Não interessa se ganho 100 medalhas, vou ficar sempre nervosa para os exames. Quero muito que corra bem», diz, admitindo que está a ser «muito, muito difícil» manter boas notas, mais do que esperava.

Filha de pais canadianos, Missy tem dupla nacionalidade e podia ter optado por competir pelo país dos pais, onde a concorrência até era menos exigente do que na natação norte-americana. Escolheu os Estados Unidos, e tem-se dado muito bem. Mas a concorrência é mesmo forte. 

No fim de semana passado decidiu-se o campeonato universitário de natação norte-americano. E, apesar de ter Missy Franklin e outras nadadoras de topo, a universidade da Califórnia foi apenas terceira, atrás de Geórgia e Stanford.

Missy competiu numa série de provas, num ritmo bem mais intenso do que nas grandes competições internacionais: sete decisões de provas, incluindo as qualificações, em apenas três dias e algumas distâncias e estilos que não são a sua especialidade: nomeadamente as 500 jardas livres, onde foi segunda.

De resto, arrasou a concorrência nos 200 m livres, batendo um novo recorde americano. E protagonizou um final épico da estafeta dos 800m livres. Quando entrou na água a sua equipa era terceira, quando saiu tinha ganho, deixando Georgia e Stanford para trás. «Sinceramente, não há sensação melhor do que vir de trás e saber que temos de fazer o que for preciso para recuperar», disse no final, sem desarmar o sorriso.