Sara Djassi, basquetebolista portuguesa, revelou ter sido assediada pelo treinador que teve na época 2015/16, quando representava o Ciudad de los Adelantados, equipa de Tenerife que agora se chama CDB Clarinos Ciudad de La Laguna Tenerife.

«Durante a minha etapa no clube tive a pior experiência da minha vida. A minha relação com Claudio García nunca foi saudável desde o princípio. Por vezes ele dirigia-me inclusivamente comentários inapropriados que me fizeram sentir-me realmente desconfortável. Por exemplo: 'Tu, portuguesa, tens um bom rabo'. (...) Deixei de querer usar a roupa que o clube me disponibilizava, porque os calções curtos eram demasiados justos», pode ler-se numa carta que a atleta portuguesa fez chegar ao jornal online espanhol Columna Cero e na qual denuncia o pesadelo vivido há mais de quatro anos que resolveu dar a conhecer depois de ter lido uma entrevista de uma colega, que diz ter tido um desentendimento com o mesmo treinador.

«Além disso, ele perguntava-me várias vezes se eu tinha namorado e queria saber se ele estava em Tenerife. Inclusivamente, disse-me que se eu tivesse um namorado na ilha, ele descobri-lo-ia porque conhecia toda a gente. A partir desse momento senti-me impotente. Fazia o meu trabalho em campo, mas o meu comportamento mudou. Evitava falar ou até olhar para ele. Sei que não foi a melhor conduta. Pensei que me castigava, porque era sempre a última pessoa a quem pagavam, cerca de 15 dias depois da data de pagamento, e eu sabia que as minhas colegas recebiam a horas», relatou.

Sara Djassi disse que pensou em não regressar ao clube depois das férias de Natal e confessou que houve uma reunião na qual o comportamento do treinador foi abordado. «Tivemos uma reunião na qual ele pediu desculpa pelo seu comportamento abusivo e disse que estava disposto a mudar. Ele queria que eu continuasse na equipa, porque era uma boa jogadora e tinha tudo para melhorar o meu nível. Mas nada mudou depois dessa reunião e quando voltei ele continuou a comportar-se exatamente da mesma forma. Havia momentos durante os treinos em que ele gritava 'chupa-** os *******. (...) Isto é apenas para que tenham uma ideia. Como ninguém reagia, pensei que era um comportamento 'aceitável', que aconteceu desde o início da época.»

A basquetebolista portuguesa diz até que foi expulsa de um treino na primeira vez em que se manifestou contra a forma como o treinador tratava as jogadoras durante as sessões de trabalho. «Nunca tive o apoio ou a proteção dos restantes membros do clube. Cladio deixava claro que ninguém estava acima dele e que o que eu poderia dizer não importava para nada, porque não acreditariam em mim», recordou.

Sara Djassi relata ainda outros episódios, com ofensas, outro tipo de faltas de respeito, e violência física, como num dia em que deixou um treino no qual foi obrigada a participar mesmo lesioonada. «Não conseguia correr devido à dor que sentia num joelho. Ele começou a gritar-me e a dizer que não me pagariam. Quando decidi abandonar o campo devido ao comportamento agressivo, ele fechou a porta e disse-me que não sairia. Parou em frente à porta e empurrou-me três vezes com o corpo dele. Os outros treinadores estavam presentes e não fizeram nada para pará-lo.

Sara diz ter tentado contactar não só o vice-presidente como o presidente do clube, este último pai do treinador, e aponta-lhes o dedo. «Não quiseram falar comigo», diz, revelando que denunciou a situação à polícia, mas que lhe disseram que nada poderiam fazer por falta de provas.

A basquetebolista acabou por conseguir desvincular-se do clube, já depois de outras ameaças pelo meio. «No final do processo, o meu ex-agente contactou a Federação Espanhola de Basquetebol. Mas não me ajudou a falar sobre a minha experiência. Não consigo esquecer que, apesar de me terem ajudado a libertar-me da equipa, não fizeram nada para evitar que isto volte a ocorrer com futuras jogadoras.»

Já depois da carta enviada por Sara Djassi ao Columna Cero, o clube de Tenerife emitiu um comunicado no qual desmente a veracidade dos relatos da atleta e diz estar a preparar uma denúncia.

COMUNICADO OFICIAL

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— Ciudad de La Laguna Tenerife (@CBClarinos) August 4, 2020