A história do título de basquetebol de 1998 dos Chicago Bulls, contada na série «The Last Dance» por Michael Jordan, mereceu agora – e finalmente – as duras críticas de Scottie Pippen, agastado e desiludido com o enredo retratado pelos olhos de quem já foi um grande amigo e confidente seu.

Para Pippen, a forma como Jordan se referiu aos Bulls daquela época, demonstra a forma como o número 23 já se comportava à data.

«Eu não era nada mais do que um adereço. O seu “melhor companheiro de equipa de todos os tempos”, chamou-me ele. Ele não podia ter sido mais condescendente, nem que tentasse. Por outro lado, eu podia acreditar nos meus olhos. Estive muito tempo ao lado dele. Eu sabia o que o fazia funcionar. Como eu fui ingénuo em esperar outra coisa…», referiu Pippen, no seu livro de memórias ‘Unguarded’ – que é lançado a 9 de novembro – mas cujo excerto já foi publicado pela GQ, na terça-feira.

Pippen continuou e criticou a forma como a história de há 20 e poucos anos foi contada por Jordan nos dez episódios.

«Cada episódio foi a mesma coisa: o Michael num pedestal, os seus colegas de equipa secundários. A mensagem não foi diferente de quando ele se referiu a nós naquela época como o seu “elenco de apoio”. De uma época para a outra, recebíamos pouco ou nenhum crédito sempre que ganhávamos, mas éramos o centro das críticas quando perdíamos. Ele podia fazer seis lançamentos de campo em 24, ter cinco turnovers e, mesmo assim, ele era, na cabeça da imprensa e do público entusiasta, o “Jordan sem erros”, continuou.

Mentiras e traições: os bastidores polémicos de «The Last Dance»

«Agora, aqui estou eu, nos meus cinquenta e tal [anos], 17 anos depois do meu último jogo, a ver que somos humilhados mais uma vez. Viver isso pela primeira vez foi insulto suficiente. Nas semanas seguintes, conversei com vários ex-companheiros de equipa, que se sentiram tão desrespeitados como eu. Como é que o Michael se atreve a tratar-nos daquela forma, depois de tudo o que fizemos por ele e pela sua preciosa marca… o Michael Jordan nunca seria o Michael Jordan sem mim, o Horace Grant, o Toni Kukoc, o John Paxson, o Steve Kerr, o Dennis Rodman, o Bill Cartwright, o Ron Harper, o B. J. Armstrong, o Luc Longley, o Will Perdue e o Bill Wennington. Peço desculpa a todos os que deixei de fora», aponta, ainda, não esquecendo o que Jordan acabou por ganhar com a série de 2020.

«Para piorar as coisas, o Michael recebeu dez milhões de dólares pelo seu papel no documentário, ao passo que eu e os meus colegas de equipa não ganhámos um centavo, outro lembrete da hierarquia dos velhos tempos», assinala.